Saúde

Vacina protege contra 87% dos casos de câncer de colo de útero decorrentes do HPV

Uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet demonstrou que a vacina contra o HPV reduziu significantemente as taxas de câncer de colo do útero e também as lesões pré-cancerígenas graves (CIN3), reforçando ainda mais a importância da imunização

Da Reportagem

Publicado em 20/11/2021 às 09:00

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Os resultados da pesquisa foram feitos a partir da imunização de meninas de 12 e 13 anos / Divulgação

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Um estudo inglês, publicado pela revista científica The Lancet na quarta-feira, 3 de novembro, apontou que a vacina contra o HPV pode reduzir em até 87% as taxas de câncer de colo do útero. Além disso, os resultados mostraram também que o imunizante é capaz de diminuir os casos de lesões pré-cancerígenas graves (CIN3).

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Aproximadamente, 90% dos casos de câncer de colo do útero ocorrem por causa da infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV). A infecção sexualmente transmissível é a mais comum em todo o mundo, atingindo de forma massiva as mulheres. Segundo o Ministério da Saúde, 75% das brasileiras sexualmente ativas entrarão em contato com o HPV ao longo da vida, sendo que o ápice da transmissão do vírus se dá na faixa dos 25 anos. Após o contágio, ao menos 5% delas irão desenvolver câncer de colo do útero em um prazo de dois a dez anos.

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"Na grande maioria dos casos, o câncer de colo do útero é causado por uma infecção persistente por alguns tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano (HPV). A infecção genital por HPV é muito frequente e, na maioria das vezes, é assintomática e autolimitada, com grande parte das mulheres resolvendo esta infecção até os 30 anos de idade. Em alguns casos, porém, pode haver a persistência do vírus nas células do colo do útero, e isso promove as alterações celulares que podem progredir para o desenvolvimento de câncer", explica Marcela Bonalumi, oncologista do CPO Oncoclínicas.

Os resultados da pesquisa foram feitos a partir da imunização de meninas de 12 e 13 anos, na Inglaterra, que começou a ser realizada no país em 2008 com a vacina bivalente - que protege contra os tipos 16 e 18 do HPV. Até o ano de 2010 houve uma repescagem para adolescentes de 14 e 18 anos. Os pesquisadores fizeram também o acompanhamento de mulheres de 20 a 30 anos com câncer de colo do útero neste período. A partir de 2012, a Inglaterra passou a usar a vacina quadrivalente - que atua contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV.

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Para as que receberam a vacina com 12 e 13 anos, a redução dos casos de câncer foi de 87% e das lesões pré-cancerígenas graves de 97%. Já as que receberam com 14 e 16 anos, houve a diminuição de 62% nos casos de câncer e 75% em lesões pré-cancerígenas graves. Por fim, as que receberam o imunizante entre 16 e 18 anos tiveram uma queda de 34% nas taxas de câncer e 39% em lesões pré-cancerígenas graves, segundo o estudo. Vale lembrar que a comparação foi feita em relação à população não vacinada.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o tumor de colo de útero atinge mais de 16 mil mulheres no Brasil por ano - o que faz ele ser o terceiro tipo de câncer mais prevalente entre a população feminina. Por ser considerada uma doença bastante silenciosa, cerca de 35% dos casos são levados a óbito.

 

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Prevenção é tudo!

Segundo a especialista, evitar o contágio pelo HPV é a prevenção primária do câncer do colo do útero. Como a transmissão ocorre através do contato, o uso de preservativos (camisinha masculina ou feminina) durante a relação sexual protege apenas parcialmente contra a doença. Não é possível afirmar que a proteção seja total porque o contágio também pode ocorrer pelo contato com a pele da vulva, a região perineal, perianal e a bolsa escrotal.

Diante dessa realidade, Marcela Bonalumi ressalta a relevância do foco no incentivo à vacinação contra o HPV, ferramenta essencial na luta contra o câncer do colo do útero. "A partir da imunização contra o HPV, é possível prevenir não só o câncer de colo do útero, mas também o de vulva, ânus e vagina nas mulheres e de pênis nos homens. Além disso, essa proteção pode auxiliar na precaução de lesões pré-cancerosas. Vale lembrar ainda que a vacinação deve acontecer antes do início da vida sexual, justamente por conta da exposição ao vírus. Por isso, é fundamental alertar e incentivar esse cuidado com informação de qualidade".

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Desde 2014, a vacina é oferecida nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) de todo o Brasil para meninas de 9 a 14 anos de idade e meninos de 11 a 14 anos. A cobertura vacinal contra o HPV tem sido decepcionantemente baixa em todo o mundo e, apenas 1,4% de todas as mulheres elegíveis, receberam um curso completo da vacinação contra o HPV. Além disso, há iniquidade no acesso às vacinas contra o HPV: em regiões de alta renda, 33,6% das mulheres entre 10 e 20 anos receberam o curso completo da vacina contra o HPV, em comparação com apenas 2,7% nas regiões de menor renda. Percebe-se, portanto, que a população de países que carregam a maior parte da carga de doenças relacionadas ao HPV em todo o mundo tem menos acesso às vacinas.

"Combinada à vacinação, a realização do exame de rotina ginecológica, através do Papanicolau, anualmente durante dois anos consecutivos e então uma vez a cada três anos, dos 25 aos 64 anos de idade, é um meio importante de se tratar as lesões pré-cancerosas ou agir rapidamente contra o câncer do colo do útero. Mesmo as mulheres vacinadas devem fazer o Papanicolau periodicamente, pois a vacina não protege contra todos os tipos oncogênicos de HPV. A proteção vacinal cobre os Papilomavírus Humanos dos tipos 6 e 11 (que causam verrugas genitais), 16 e 18 (responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero)", destaca a especialista.

O plano estratégico da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a eliminação desta doença propõe uma meta de incidência de câncer do colo do útero de quatro ou menos casos por 100.000 mulheres/ano. Para atingir a incidência alvo, a OMS propõe metas de 90% das meninas vacinadas contra HPV aos 15 anos de idade, 70% das mulheres rastreadas duas vezes na vida (aos 35 e 45 anos) e 90% de adesão às recomendações de tratamento para as lesões pré-câncer e invasivas.

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