Saúde

Tratamento do alcoolismo exige participação familiar

Mais da metade das bebidas alcoólicas comercializadas no país (54%) é consumida por 20% das pessoas que bebem

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 18/02/2014 às 16:52

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Considerada uma doença progressiva, incurável e em muitos casos fatal, porém tratável, o alcoolismo prejudica a vida não somente de quem consome a bebida, mas também dos que se relacionam com o dependente. Caracterizado pela vontade incontrolável de beber, o alcoolismo é um fenômeno multifatorial que pode estar associado à predisposição genética, ansiedade, angústia e insegurança. “Tudo isso pode deixar a pessoa mais vulnerável à bebida. Além disso, condições culturais, fácil acesso ao álcool e os valores que cercam o consumo também influenciam a dependência”, alerta o terapeuta Márcio Belo, do Instituto Persona de Campinas.

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O tratamento, segundo o terapeuta, pode envolver diversos profissionais de saúde como psiquiatras, psicólogos, terapeutas, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros. “O reconhecimento da dependência e a vontade de querer mudar a situação são necessários para o início do tratamento. É claro que cada caso é um caso e por isso não existe um tratamento ideal e sim o melhor procedimento para um determinado caso, ou seja, o tratamento é personalizado”, explica.

A família, no entanto, é peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo do álcool, como em casos nos quais o problema já está instalado. Belo conta que não são poucas as vezes em que o tratamento inicia-se pela família, principalmente porque o usuário de álcool não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz consequências negativas ou está desmotivado para buscar ajuda profissional.

“Um acompanhamento personalizado e dirigido aos familiares é importante para que todos compreendam a doença e seus desdobramentos, com orientações adequadas sobre qual a melhor forma de ajudar um ente querido e a si mesmo, já que a família também se torna codependente e começa a se organizar em torno do dependente”, orienta.

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O tratamento, explica Belo, vai ajudar a acolher e a compreender o estresse emocional e a desesperança vividos por essa família devido a dependência. “A terapia ajudará a entender os papéis e o funcionamento dessa família e, através disso, buscará novas mudanças nessa dinâmica a partir de recursos que ajudarão a reorganizar e reestruturar o sistema e as relações familiares, com o objetivo de manter a família segura e menos ameaçada”, diz.

O tratamento do alcoolismo exige a participação familiar (Foto: Divulgação)

11,7 milhões de brasileiros são dependentes de álcool

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Mais da metade das bebidas alcoólicas comercializadas no país (54%) é consumida por 20% das pessoas que bebem. O dado consta do 2° Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) divulgado em 2013 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em termos gerais, o estudo estima que 11,7 milhões de brasileiros são dependentes de álcool.

O levantamento, que ouviu 4.607 pessoas de 149 municípios do país, constatou um aumento de 20% na quantidade de brasileiros que consomem álcool uma vez ou mais por semana. Também houve aumento no número de pessoas que ingerem grandes quantidades de álcool (quatro unidades para mulheres e cinco para homens) em um curto período de tempo (duas horas). Entre esses consumidores, essa forma de beber passou de 45%, em 2006, para 59% no ano passado.

A pesquisa destaca o aumento do consumo de álcool abusivo entre as mulheres. A proporção das que passaram a beber uma vez ou mais por semana cresceu 34,5% em seis anos, passando de 29% para 39%. Outro indicador que demonstra esse comportamento nocivo é o que avalia o consumo de álcool em relação ao tempo. As que ingerem quatro doses em até duas horas passaram de 36%, em 2006, para 49% no ano passado.

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Entre os fatores que podem explicar o crescimento desse modo nocivo de beber, está a ascensão econômica da população nos últimos anos. Belo alerta também para o aumento do consumo de bebidas alcoólicas entre as mulheres. Para ele, esse aumento pode ser justificado por conta da diminuição das diferenças nos papéis de gênero. “A ascensão feminina no mercado de trabalho fez com que a mulher ocupasse o mesmo espaço do homem. A independência financeira feminina permitiu o aumento do consumo, inclusive, de bebidas alcoólicas por parte das mulheres”, analisa.

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