Saúde

OMS ofereceu vacinas com desconto ao Brasil, mas governo Bolsonaro negou, aponta documento

No dia 11 de agosto, um telegrama do Itamaraty traz detalhes de uma reunião entre a OMS, governos e o Brasil, com a presença de membros da Casa Civil, Ministério da Saúde e Itamaraty

Folhapress

Publicado em 07/08/2021 às 12:40

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Jair Bolsonaro (sem partido). / Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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O governo brasileiro, ao longo de meses, hesitou em fazer parte do mecanismo mundial de distribuição de vacinas, mesmo com um valor cobrado abaixo do que o Palácio do Planalto acabou acertando com os indianos da Covaxin, meses depois.

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As quase 500 páginas de documentos internos do Itamaraty obtidos pelo UOL revelam que, nos debates ao longo dos meses para a criação da Covax (consórcio mundial de distribuição de vacinas), os preços apresentados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) foram sendo reduzidos de forma substancial.

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No dia 11 de agosto, um telegrama do Itamaraty traz detalhes de uma reunião entre a OMS, governos e o Brasil, com a presença de membros da Casa Civil, Ministério da Saúde e Itamaraty. No encontro, os representantes da OMS explicam o custo de cada dose a cerca de US$ 10,5 e, no texto do documento, o próprio governo destaca como o valor estava em queda. Inicialmente, a OMS chegou a falar em doses com preço de US$ 20. Em seguida, o valor indicado já seria entre US$ 12 e US$ 16. Em agosto de 2020, já era de US$ 10,5.

Mesmo assim, o governo insistia sobre a "complexidade" da adesão e alertava que o prazo dado pela OMS de 31 de agosto era um desafio. Ficava claro que, em agosto de 2020, o país não havia ainda tomado uma decisão.

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No encontro, o Brasil pressionou para receber a minuta de contrato para que pudesse "avançar na reflexão interna sobre a adesão definitiva à Covax". A delegação do Itamaraty ainda explicou que uma decisão poderia "demandar mudanças legislativas e mobilização de somas significativas de recursos, em contexto de grande atenção da sociedade civil, da opinião pública e do sistema político".

Se a Covax não convencia o governo com doses custando US$ 10,5, uma situação bastante diferente foi revelada quando o governo, sem grande debate, aderiu à ideia de uma compra de vacinas da Covaxin, por um preço 50% acima do que era oferecido pelo mecanismo internacional.

Transferência de tecnologia como exigência 

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Apesar de a Covax ser um consórcio para a compra de vacinas, o governo brasileiro tentou pressionar os organizadores a incluir a garantia de que a aquisição de doses viria com transferência de tecnologia, o que nunca foi a intenção do sistema. 

Num documento de 17 de agosto sobre a reunião do dia 11 daquele mês na OMS, a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo relatava que "enfatizou" o papel fundamental da transferência de tecnologia e know-how para "aumento da produção e distribuição equitativa das vacinas e que, portanto, a Covax Facility deveria ser ativa na consecução desses objetivos, em parceria com os países participantes".

No mesmo dia, o Itamaraty encaminhou 45 perguntas técnicas para as entidades que estavam liderando o processo. "O calendário desse processo merece uma reflexão cuidadosa para que possam chegar a uma decisão sólida no interesse coletivo", insistiu o Brasil. "O assunto é urgente. Mas também altamente complexo e repleto por incertezas e desconhecidos." 

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Naquele momento, faltavam apenas 20 dias para que os governos tomassem uma decisão sobre a adesão. Enquanto o Brasil hesitava, o discurso em diferentes reuniões era que o país também teria capacidade não apenas para atender a demanda doméstica, mas também para fornecer para outros países.

*Do UOL, por Jamil Chade, colunista

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