05 de Outubro de 2024 • 20:46
O alerta é do Programa de Tratamento do Tabagismo / Divulgação
Exames realizados em pessoas que usam cigarro eletrônico e passam por tratamento no InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), detectaram níveis elevados de nicotina e equivalente ao consumo de 20 cigarros tradicionais. O alerta é do Programa de Tratamento do Tabagismo que, na próxima semana, realiza ações de conscientização pelo Dia Mundial Sem Tabaco, 31 de maio.
"Esses dados são alarmantes e revelam que a luta contra o tabagismo no Brasil enfrenta um inimigo de roupa nova, o cigarro eletrônico, que surgiu em um formato atrativo e com a falsa promessa de ser menos nocivo à saúde em comparação com o cigarro tradicional", alerta Dra. Jaqueline Scholz, cardiologista diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor.
A análise foi realizada com 21 usuários de cigarro eletrônico que procuraram o Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor para abandonar o consumo desses produtos. Os pacientes têm idades entre 13 e 49 anos, e 15 deles relataram que fumavam cigarro comum no passado e substituíram por cigarro eletrônico. Em todos os pacientes, os valores de cotinina (substância identificada pelo exame de urina) encontrados no organismo foram de 600 ng/ml (nanograma por ml), que corresponde ao consumo de mais de 20 cigarros convencionais por dia.
A cotinina é um metabólito da nicotina, ou seja, o principal produto gerado pelo organismo a cada tragada de cigarro. Ao entrar em contato com a corrente sanguínea, a nicotina alcança diversos órgãos, entre eles o fígado, onde é transformada em cotinina e pode permanecer no organismo por 17 horas.
A nicotina é uma substância altamente viciante, pois também alcança o cérebro e causa um aumento na liberação de dopamina, um neurotransmissor que promove sensações de prazer e tranquilidade. Esse efeito dura até 60 minutos e, quando termina, pode levar a sintomas de abstinência, irritabilidade e estresse.
"Com o cigarro eletrônico acontece um processo parecido. A diferença é que o vape é composto por sal de nicotina, que é ainda mais absorvido pelo organismo. Os níveis de cotinina que encontramos foram os mais elevados que o teste poderia identificar, demostrando que a velocidade do vício com este produto é assustadoramente mais elevada que do cigarro convencional", ressalta Jaqueline Scholz.
A alta exposição à nicotina também causa efeitos cardiovasculares, como aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e dano na parede dos vasos sanguíneos.
Outro problema apontado pela especialista é o número de usuários com menos de 18 anos. Dos 21 analisados pelo estudo, quatro eram menores de idade e estavam acompanhados pela família durante o tratamento. "É preocupante a exposição ao tabagismo e seus efeitos nocivos com tão pouca idade, em uma velocidade ainda maior. Fumar mais de 20 cigarros por dia ocorreria ao longo de anos de consumo do cigarro convencional, e o cigarro eletrônico acelera o vício e o comprometimento do organismo", completa a cardiologista.
Dia Mundial sem Tabaco
Na quarta-feira, 31 de maio, às 9h, o InCor recebe convidados para uma roda de conversa sobre os riscos do tabagismo e troca de experiências entre pessoas que passaram por tratamento para parar de fumar. Entre os palestrantes está Leda Nagle, jornalista, escritora e apresentadora que passou pelo processo para parar de fumar; Madeleine Lacsko, jornalista, palestrante, escritora e coautora do livro "Sem filtro - ascensão e queda do cigarro no Brasil" com a Dra. Jaqueline Scholz, e Edi Falcão, colaboradora InCor que também passou por tratamento contra o tabagismo.
O evento também terá a presença de Maria Cristina Megid, Diretora Técnica de Departamento do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de SP, e José Luchetti, jornalista, escritor e assessor de imprensa da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).
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