Continua depois da publicidade
Para o presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) — regional de Santos, o obstetra Sérgio Floriano de Toledo, as novas regras são um primeiro passo para mudar a realidade dos partos no País. “Dificilmente estas medidas irão mudar algo a curto prazo. O País precisa de mais leitos obstétricos e ambientes mais humanizados para que as mulheres se sintam à vontade em um parto normal. Na Região, por exemplo, a maioria não tem ambiente adequado para um parto normal ou natural, tanto na rede privada quanto na rede pública. Como uma mulher vai ficar em trabalho de quarto dois por dois? Com certeza, ela vai pedir pela cesárea”, explica.
Mas, afinal, o que muda? A utilização do partograma — documento gráfico onde são feitos registros de tudo o que acontece durante o trabalho de parto — e do cartão da gestante passou a ser obrigatória para obstetras da rede privada desde ontem. Com as novas regras, cesarianas marcadas com antecedência e sem indicação médica serão coibidas pelas operadoras. Apenas cesáreas recomendadas — como no caso de gestantes com diabetes não controlada ou com placenta insuficiente — ou cesáreas que se fizerem necessárias durante um trabalho de parto difícil serão reembolsadas pelos planos de saúde.
Mesmo assim, Toledo acredita que as medidas do Ministério da Saúde com a ANS são importantes para minimizar o número de cesáreas no País. “A discrepância é muito grande e significativa. As regras podem ajudar na redução dos números”, explica. Além disso, o obstetra afirma que todo hospital precisa de equipe obstétrica à disposição 24 horas das gestantes com médico obstetra, pediatra, anestesista e obstetriz.
O médico garante ainda que a liberdade de escolha da mulher será respeitada. “Há um termo de consentimento que irá assegurar caso a mulher queira fazer uma cesárea. A vontade da mulher precisa ser prioridade e as novas regras não infrigem isso. A diferença é que os médicos terão que orientar melhor sobre a questão e entregar o partograma e a carteira de pré-natal obrigatoriamente”, garante.
Continua depois da publicidade
Novas regras
Anunciado pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) como uma das medidas de estímulo ao parto normal, o partograma será considerado parte integrante no processo de pagamento do parto.
Continua depois da publicidade
Além disso, as operadoras de plano de saúde terão que pagar pela execução de cesarianas eletivas — quando não há indicação médica — caso a gestante assine um termo de consentimento declarando estar ciente dos riscos que envolvem o procedimento. Pelas novas regras, apenas cesáreas recomendadas ou que se fizerem necessárias durante um trabalho de parto difícil seriam reembolsadas pelos planos de saúde.
Os planos de saúde tiveram um prazo de 180 dias para orientar seus profissionais sobre o uso do partograma, que registra, por exemplo, a frequência das contrações uterinas, os batimentos cardíacos fetais e a dilatação cervical da gestante. O documento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1994.
A Resolução Normativa nº 368, publicada em janeiro deste ano, prevê ainda que as operadoras informem aos beneficiários os percentuais de cirurgias cesarianas e de partos normais de cada hospital e médicos credenciados. As informações devem estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação.
Continua depois da publicidade
Os planos também serão obrigados a oferecer o cartão da gestante, que contém todas as informações sobre o pré-natal. De posse do documento, qualquer profissional de saúde terá conhecimento de como se deu a gestação, facilitando um melhor atendimento à mulher quando entrar em trabalho de parto.
Atualmente, 23,7 milhões de mulheres são beneficiárias de planos de assistência médica com atendimento obstétrico no País. O percentual de cesarianas chega a 84% na saúde suplementar e 40% na rede pública.
Dados do Ministério da Saúde indicam que a cesárea sem indicação médica provoca riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê, já que aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados à prematuridade.
Continua depois da publicidade
Para ela, o parto cesárea não é tão ruim quanto se fala. “Não posso generalizar, mas acredito que muita gente está classificando a cesariana como algo “pior” tanto para mãe quanto para os bebês e nem sempre é assim. Cada caso é um caso. Acho que cada mulher sabe até onde pode ir”, explica.
Já para a cabeleireira Tatiane Oliveira, a medida é válida se os médicos também forem doutrinados para um parto mais humanizado. “Só falta agora educar os médicos. Eu fiz três partos normais e apoio, mas apenas um deles foi tranquilo. Os outros dois foram demorados e com estresse por incompetência médica. Os médicos acham que conhecem nosso corpo mais do que nós mesmas. Muito médico não leva em consideração o que a paciente diz e isso é um erro”, reclama.A secretária Leticya Santos, mãe de dois filhos, acredita que a medida é importante para reduzir o número de cesáreas no País e apoia integralmente o parto normal. “Apoio mesmo, tive dois partos normais. Se for para ter o terceiro filho, optarei novamente pelo parto normal. E olha que os meus filhos nascem grandes e pesados. Mas não tem coisa melhor do que o parto normal, até o pós-parto é maravilhoso”, garante.
A jornalista Ana Paula Peixoto concorda: “O que a gente esquece é que histórico familiar, pré-natal bem feito e uma boa conversa com seu médico são suficientes para resolver isso. Em um mundo ideal, cada mulher deveria escolher seu parto. No Brasil, que ultrapassa a meta de cesáreas estipuladas, isto é necessário”, acredita.
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade