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Ubania Cortez acompanhou com alarme na terça-feira o anúncio de que o primeiro caso de Ebola diagnosticado nos Estados Unidos havia sido registrado em Dallas, cidade para a qual se mudou há 11 anos vinda de Guanajuato, no México. Mas só soube que o paciente portador do vírus havia se hospedado do outro lado de sua calçada quando as equipes de TV chegaram ao local, no dia seguinte.
"Nós não sabíamos que estava tão perto", disse Cortez ao Estado no jardim de seu conjunto residencial. O apartamento onde o liberiano Thomas Duncan permaneceu por quase uma semana fica a cerca de 100 metros de sua casa, em uma região habitada principalmente por latinos, negros americanos e refugiados e imigrantes africanos. Só no complexo onde ele se hospedou - chamado Ivy Apartments - vivem pelo menos oito nacionalidades.
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O local se transformou no epicentro do temor do Ebola nos Estados Unidos. Os acenos à distância ganharam terreno, em substituição a apertos de mão e abraços, que trazem o risco do contato com os temidos fluidos corporais, entre os quais está o suor.
Na sexta-feira, helicópteros contratados por redes de TV sobrevoavam o local para registrar as imagens da retirada de objetos contaminados do apartamento onde Duncan manifestou os sintomas do Ebola, que incluem febre, vômito e diarreia. Até então, as quatro pessoas que mais contato tiveram com ele permaneciam em quarentena no local, vigiadas por policiais que as impediam de sair e de receber visitas.
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O grupo era composto de Louise Troh, namorada de Duncan, sua filha adolescente e dois sobrinhos. Na sexta-feira, eles foram transferidos para um local não identificado em Dallas. Durante todo o dia, homens vestidos dos pés à cabeça com macacões amarelos e portando luvas verdes tentavam extinguir os eventuais vestígios do Ebola no apartamento. Toda a região do Ivy Apartments vive o impacto da presença do paciente no local. Duncan chegou a Dallas no dia 20, vindo da Libéria.
Cinco alunos de quatro escolas nas proximidades do condomínio tiveram contato com o liberiano e receberam a orientação de ficar em casa por 21 dias, período de incubação do vírus. Joel Reina, filho de 15 anos de Cortez, estuda em uma delas. "A escola foi desinfetada e todo mundo carrega álcool em gel", disse o adolescente.
Apesar de as autoridades locais insistirem em que não há risco de contágio enquanto os sintomas da doença não se manifestam, Cortez está insegura. "Eu me preocupo com as escolas, onde as crianças brincam e se abraçam. É uma doença que mata. Não é uma gripe."
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Dúvidas
Sua vizinha Kalesha Giles, mãe de uma adolescente de 13 anos que frequenta outra da escolas afetadas, também manifestou dúvidas. "Eu acho que eles deveriam ter isolado tudo nessa área", opinou. Em média, a frequência nas escolas dos cinco estudantes sob observação caiu dez pontos porcentuais, para 85%.
A indefinição sobre as pessoas potencialmente expostas ao Ebola e dúvidas sobre as formas de contágio provocaram mudanças de comportamento na região. Sherlyn Howard, que vive a uma quadra do Ivy Apartments, suspendeu as visitas à casa de seus três netos, de 1, 6 e 9 anos de idade.
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Já o mexicano Alfredo Errera quebrou a rotina das sextas-feiras e preferiu não carregar para a lavanderia a roupa suja que havia acumulado durante uma semana. "Nesta área existem muitas lavandeiras e eu não sei onde lavavam a roupa dele", disse, em referência a Duncan.