Saúde

Doenças virais em crianças têm alta após volta às aulas

Na capital paulista, houve uma explosão de casos de doenças virais, como a síndrome mão-pé-boca, causada pelo vírus Coxsackie A16

FolhaPress

Publicado em 03/11/2021 às 08:59

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Retorno às aulas presenciais tem relação com o aumento de doenças respiratórias virais, dizem especialistas / Elza Fiúza/Agência Brasil

Continua depois da publicidade

Doenças virais respiratórias em crianças tiveram alta no país nos últimos dois meses. O reaparecimento das populares viroses coincide com o período em que houve aumento de alunos frequentando as aulas presenciais.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Um boletim da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgado na última quinta-feira (28) alertou para o reaparecimento de outros vírus, que têm causado SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em crianças de 0 a 9 anos. O registro desses outros vírus, que havia caído no ano passado, agora já ultrapassa a Covid em número de casos.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Covid-19: agência dos EUA aprova uso da vacina da Pfizer em crianças

• Pfizer quer aval da Anvisa para aplicação da vacina em crianças

• Governo de SP diz que contaminação nas escolas caiu 70% e abre dados na internet

Especialistas avaliam que a volta da circulação dessas doenças, que comumente afetam crianças, era esperada com o retorno às atividades presenciais. Eles ressaltam que a população dessa faixa etária ficou protegida no ano passado, com o fechamento das escolas, e pode agora ter "memória imunológica" menor.

Apesar de o aumento ser esperado, o reaparecimento desses vírus mostra a importância de manter e reforçar os protocolos sanitários de segurança, como o uso de máscaras e ambientes bem ventilados.

Continua depois da publicidade

Segundo o documento da Fiocruz, as crianças de até nove anos estão sendo mais internadas por casos de VSR (Vírus Sincicial Respiratório) e de renovírus, que haviam praticamente sumido dos painéis de acompanhamento no ano passado com as regras de isolamento.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Também houve aumento de casos positivos para bocavírus, parainfluenza 3 e parainfluenza 4 nessa faixa etária.

Continua depois da publicidade

Esses vírus voltaram a crescer no fim do ano passado e início de 2021 exatamente o período em que alguns estados liberaram a reabertura das escolas. O aumento se intensificou a partir de agosto, com a maior adesão da volta às aulas presenciais no país.

"São vírus que anualmente observamos como causa importante de internação em crianças, mas que praticamente sumiram no ano passado e agora voltam a aparecer com a maior exposição desse grupo com o retorno às aulas presenciais", diz Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe e pesquisador da Fiocruz.

Segundo o boletim do InfoGripe, a incidência de SRAG está estável entre crianças, mas com média ainda considerada elevada, de 1.000 a 1.200 casos semanais –índice semelhante ao de junho de 2020. Os dados do adoecimento entre os que têm de 0 a 9 anos vão na contramão dos das faixas etárias mais velhas, em que a ocorrência da síndrome é agora a menor desde o início da pandemia.

Continua depois da publicidade

"Esse movimento contrário entre as crianças não é de todo surpreendente, já que elas estão mais suscetíveis a complicações por esses outros vírus e não pela Covid", diz Gomes.

A análise dos casos entre crianças também indica que o reaparecimento de outros vírus respiratórios é mais presente na região centro-sul do país, exatamente onde mais alunos puderam retornar às aulas presenciais.

Na capital paulista, por exemplo, em que a maioria das escolas particulares está funcionando com todos os alunos desde agosto, houve uma explosão de casos de outras doenças virais, como a síndrome mão-pé-boca, causada pelo vírus Coxsackie A16.

Continua depois da publicidade

A Secretaria Municipal de Saúde registrou neste ano 173 surtos da síndrome na cidade, sendo que os registros cresceram ao longo dos meses. Foram dois em junho, oito em julho, 48 em agosto, 94 em setembro e 21 em outubro.

No ano passado, com as escolas fechadas, a secretaria não recebeu nenhuma notificação da doença na cidade. O número de surtos deste ano é o maior desde 2015. Até então, o ano com maior número de notificações tinha sido 2018, com dez registros.

O registro dos surtos não é compulsório, por isso, a secretaria e os especialistas avaliam que o maior número de notificações pode ter ocorrido por uma vigilância maior da sociedade em relação a doenças respiratórias com a preocupação causada pela Covid.

Continua depois da publicidade

"Nós, como sociedade, temos hoje uma sensibilidade muito maior do sistema de vigilância e investigação das doenças. Estamos muito mais atentos aos sintomas e doenças por causa da pandemia e, com isso, pode ter o aumento do registro de outros vírus", diz Renato Kfouri, pediatra e presidente do departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

Para os especialistas, não há motivo de pânico entre os pais, apenas a manutenção de cuidados de prevenção.

Algumas escolas, no entanto, têm recebido reclamações quando são notificados casos de outras doenças. É o caso do colégio Tindolelê, em São Caetano do Sul, que há duas semanas afastou toda uma turma de 20 crianças de dois anos, após quatro delas serem diagnosticadas com a síndrome mão-pé-boca.

Continua depois da publicidade

O pai de uma das crianças que adoeceu diz que a escola demorou em afastar toda a turma. No entanto, a vigilância sanitária diz que o afastamento não é necessário para todos, apenas para os que tiverem sintomas.

"Os pais estão mais preocupados, mas o protocolo não é o mesmo da Covid e, sim o de outras doenças virais, como gripes e gastroenterite. Você só afasta quem está com sintomas", diz Kfouri.

Os especialistas destacam que a ocorrência de infecções virais é inevitável, mas os casos podem servir como alerta para as escolas da necessidade de melhorar protocolos sanitários.

Continua depois da publicidade

"Sabemos que o protocolo em muitas escolas não é o adequado, muitas focam procedimentos que já sabemos serem ineficazes, como a medição de temperatura na entrada, e não se atentam ao que é comprovadamente importante: máscara e ventilação dos ambientes. Seria importante olhar para essas questões", diz Gomes.

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software