Saúde

Colesterol: mais um grande problema em crianças

A nova diretriz recomenda que acima dos 10 anos toda criança deve ter dosado seu colesterol total pelo menos uma vez

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 04/10/2013 às 13:02

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Cada dia mais, temos “doenças de adultos” em crianças. Isso pode ser percebido pelo grande aumento de obesidade infantil, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial diagnosticados entre crianças e adolescentes.

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“A obesidade infantil é visível. A hipertensão arterial pode ser medida. Porém, o diabetes tipo 2 e a dislipidemia familiar (problemas com colesterol) só podem mesmo ser avaliados nessa faixa de idade através de exames rotineiros, baseados em determinados critérios estabelecidos”, explica o pediatra Moises Chencinski.

Dados importantes

Antes de tudo, vale uma observação importante: o colesterol é uma gordura de origem animal. Assim quando se lê que um óleo de origem vegetal (soja, canola, milho, etc.), usado para nossa alimentação, contém zero de colesterol, é tudo o que se espera.

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“De toda a gordura que ingerimos em nossa alimentação diária, 90% vem na forma de triglicérides e apenas 10% como colesterol. Isso explica, por exemplo, porque a dieta ou a reeducação alimentar conseguem diminuir drasticamente os níveis de triglicérides, mas não apresentam a mesma eficácia na redução dos níveis de colesterol, sendo necessário, muitas vezes, um tratamento medicamentoso”, observa o médico.

O colesterol é um componente importante de nosso organismo. Cerca de 65 a 70% do colesterol que temos é produzido pelo nosso fígado; apenas 30 a 35% vem da nossa alimentação.

O colesterol faz parte da formação dos hormônios esteroides, da síntese de ácidos biliares e é precursor da vitamina D, entre outras funções nas membranas celulares, sendo um dos compostos da bainha de mielina (que recobre os nervos - sem a qual há um risco de prejuízo de nossos impulsos nervosos fica prejudicada, algo que pode ser visto no filme óleo de Lorenzo).

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Toda criança acima de 10 anos deve ter dosado seu colesterol total pelo menos uma vez (Foto: Divulgação)

Nem todo colesterol é ruim

Todos sabem que níveis altos de colesterol no sangue podem acarretar problemas vasculares cardíacos, cerebrais entre outros. O colesterol é transportado no nosso corpo pelo sangue por proteínas que se ligam a ele (LDL e HDL).

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“Todo o colesterol que vem do fígado ‘passeia’ pelo sangue na forma de LDL e é levado para os órgãos para serem utilizados para suas funções. Quando há um excesso de colesterol no sangue, cai a sua captação pelas células. Assim, o LDL colesterol se deposita nas paredes dos vasos, diminuindo o fluxo de sangue através deles, levando à arteriosclerose com suas consequências. Esse é o colesterol ruim”, explica o pediatra.

O LDL pode estar aumentado por características familiares, genéticas, por obesidade, por hipertensão, sedentarismo, tabagismo e também por hábitos alimentares ruins.

“Já o HDL colesterol capta o excesso que está no sangue, leva-o de volta ao fígado e o elimina através da bile ou pela forma natural ou como sais biliares. Dessa forma, quanto maior nossa taxa de HDL, mais protegidos ficamos contra a arteriosclerose. Esse é o colesterol bom”, afirma o médico.

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Hipercolesterolemia: um problema que pode vir “do berço”

Até há algum tempo, apenas os obesos eram “culpados” quando o assunto era colesterol aumentado. E esse quadro acometia principalmente a faixa entre adultos jovens e a terceira idade.

“Com a transcrição do nosso DNA, com descoberta da epigenética, da nutrogenômica, estabeleceu-se um novo e assustador panorama. Todos nascem com genes que podem desencadear problemas de colesterol. De acordo com a alimentação da gestante até a criança de 2 anos de idade (os primeiros mil dias), o gene não muda, mas pode manifestar sua capacidade de desenvolver determinadas características”, diz Chencinski.

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Explicando melhor: numa família não há nenhum caso de problemas com colesterol. Através de uma alimentação inadequada na gestação e nos dois primeiros anos de vida da criança (rica em frituras, gordura, pobre em frutas fibras, por exemplo), ocorre o estímulo à ação do gene que vai fazer com que essa a criança passe a ter seus níveis de LDL colesterol (o ruim) aumentado.

“E essa criança, não só pode ter que conviver com esse problema pelo resto de sua vida, como também passa a transferir essa característica genética a seus descendentes. Assim surge a sombra de um quadro, cada vez mais frequente, que vem atingindo crianças cada vez mais novas: a hipercolesterolemia familiar”, afirma o pediatra.

Por conta desse aumento nos índices de obesidade (adulta e infantil) dos últimos 20 anos e do número alarmante de crianças com doenças de adultos, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, divulgou em sua Revista (agosto de 2012), a primeira Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar (HF).

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O que mudou?

Até o surgimento dessa diretriz, a rotina orientada pela Sociedade Brasileira de Pediatria era de se colher exames (glicemia de jejum, insulina basal, índice de HOMA-IR, dosagem de colesterol total e frações, de triglicérides, entre outros) a partir dos 10 anos.

Desde então, a triagem de perfil lipídico passa a ser rotineira entre 2 e 10 anos de idade quando houver:

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·  História de pais ou avós que tiveram problemas arteriais antes de 55 anos no sexo masculino ou 65 anos no sexo feminino;

· Pais com níveis de colesterol total acima de 240;

· Fatores de risco na criança associados como hipertensão, obesidade, diabetes, ter nascido pequeno para a idade gestacional, seguir uma alimentação inadequada e rica em gorduras saturadas;

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· Crianças em tratamento de doenças ou que usem drogas que aumentem as taxas de lípides (tratamento de HIV, hipotireoidismo, etc.);

· Tenham outras manifestações aparentes de problemas de colesterol.

“Além disso, a diretriz recomenda que acima dos 10 anos, com ou sem esses fatores, toda criança deve ter dosado seu colesterol total pelo menos uma vez. Vale lembrar que os valores de colesterol total e frações para crianças e adolescentes são diferentes dos valores dos adultos. Assim, cada vez mais continua sendo melhor prevenir do que remediar. E nesse caso, o remédio pode ter um gosto muito amargo, com riscos de prejuízos importantes no tempo e na qualidade de vida”, alerta o pediatra Moises Chencinski.

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