Saúde

Brasil é líder mundial em números de cesárias

Obstetriz holandesa explica como são realizados os partos no País, que tem índices de mortalidade de bebês e mães muito baixos

Publicado em 11/07/2015 às 11:13

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As novas regras do Ministério Público para as cesarianas colocou em evidência a polêmica sobre os tipos de parto no País. Mas o que fez o Governo Federal adotar esta medida? Já ouviu dizer que o exagero nunca é de bom gosto? Pois então, o Brasil faz cesárea em excesso e desnecessariamente. E o exagero fez a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar sobre o assunto, fato que fez o País repensar as formas de nascimento.

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O Brasil é o líder disparado nesse tipo de parto. De acordo com o ranking da OMS, somos o único país do globo a ter mais da metade de todos os nascimentos feitos por essa cirurgia: 53,7%. Esse procedimento cirúrgico é um método que tornou os nascimentos mais seguros e menos sofridos em certo número de casos em que há risco para mães e bebês.

Em todo o mundo, ele é usado quando o parto normal pode levar à morte da gestante ou da criança. No Brasil, contudo, a cesariana é uma regra. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, 84% dos brasileiros que vêm ao mundo na rede particular nascem dessa forma. Na rede pública, são 40%. Segundo a OMS, a porcentagem adequada gira em torno dos 15%.
Na Finlândia e na Holanda é de 17%, na França, de 21%.

Um dos argumentos usados com maior frequência para explicar os altos números é que a brasileira não quer sofrer. De fato, o parto normal no Brasil submete a gestante a dores desnecessárias. Métodos que são comuns em outros países são ignorados no país. Nos hospitais, por exemplo, o parto costuma ser feito com a mulher deitada, o que dificulta a saída do bebê: as posições recomendadas são de agachamento ou mesmo em pé, porque a força da gravidade ajuda o processo. Além disso, é regra a utilização da ocitocina, que aumenta a dilatação e as doloridas contrações.

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O parto normal, portanto, não precisaria ser sinônimo de sofrimento. Mas um modelo de saúde implantado no Brasil há mais de três décadas em tudo induz à cesariana - uma operação que de fato é rápida e prática, mas também é cara e eleva em até 120 vezes as chances de problemas respiratórios para o recém-nascido e em três vezes o risco de morte materna.

Enquanto o crescimento do número de partos humanizados ainda é tímido no Brasil, na Holanda esta é a forma mais comum de nascimento (Foto: Divulgação)

Na Holanda

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Para a obstetriz Marina Ros, que trabalha no Hospital Spaarne, em Hoofddorp, na Holanda, a porcentagem de nascimentos por cesárea no Brasil é muito alta. “Aqui no hospital só é feita quando absolutamente necessária. É muito melhor dar à luz com parto normal. A recuperação é mais fácil. A cesariana pode ter complicações graves”, explica a holandesa.

Marina enumera ainda os riscos que este tipo de cirurgia pode ter. “Durante a operação, há grande possibilidade de danos no útero, bexiga, uretra, intestinos. Além disso, o útero podem relaxar rapidamente o que pode aumentar o risco de uma grande quantidade de perda de sangue. Após a operação, há maior risco de infecção da ferida, da bexiga ou do útero. A abundância de complicações que podem ocorrer não me permitir escolher este tipo de parto”, conclui.

Segundo ela, na Holanda, a cesariana só é feita quando há complicações que impedem o parto normal. Mas a fama do Brasil chegou até lá. “Costumo ver e ouvir na mídia que as mulheres no Brasil escolhem a cesariana conscientemente, sem que exista uma indicação médica para isso”, conta.

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Para ela, mãe e bebê só precisam da hora certa. “Para o bebê é melhor nascer naturalmente, a hora certa do bebê, quando ele ou ela está pronto para isso”, acredita.

Países como Holanda e Inglaterra, com índices de mortalidade materna e infantil baixíssimos, ainda baseiam toda a assistência ao parto na figura da obstetriz ou parteira. Nestes países, os médicos obstetras são considerados especialistas que tratam apenas de eventuais complicações e das gestações de risco. As obstetrizes cuidam do pré-natal e fazem o parto normal da grande maioria das mulheres.

Na Holanda, 35% de todos os bebês nascem em casa. Lá, o parto domiciliar é quase rotina. A taxa de cesárea é menor que 10%. Os partos de baixo risco são acompanhados por obstetrizes, que costumam trabalhar em cooperativas de três. É possível optar por um parto domiciliar ou um parto hospitalar, sempre com a obstetriz.

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O obstetra só entra em cena quando há alguma indicação médica específica, ou seja, quando a gestação é de risco. É ele quem faz a cesárea, quando necessária. As obstetrizes também não podem usar nem o fórceps nem o vácuo-extrator.

Mesmo hoje em dia, as práticas relativas ao parto variam muito nos diferentes países. O modelo americano é o que mais se assemelha ao brasileiro. No entanto, a taxa de cesárea nos EUA não passa dos 25% e, mesmo assim, é considerada alta. É muito raro, por exemplo, que um parto normal seja realizado numa sala de cirurgia, como é de praxe no Brasil. Já existe um nível de consciência e questionamento por parte das mulheres americanas que faz com que práticas como movimentar-se e usar o chuveiro ou a banheira para aliviar as dores durante o trabalho de parto sejam amplamente difundidas e aceitas, assim como também acontece no Brasil.
 

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