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Com 15 anos de estrada, produzindo dezenas de bandas santistas, o produtor musical Victor Panchorra reflete a indignação dos músicos com relação às restrições impostas ao uso da Concha Acústica quanto a instrumentos de percussão, como bateria, bumbos e surdos (inclusive os sinfônicos). Amanhã, o Diário do Litoral publica a versão do secretário de Cultura de Santos, Fábio Nunes, o professor Fabião.
Diário do Litoral – Você participou da maioria das discussões sobre a Concha Acústica?
Victor Panchorra – Sim. Eu participei do Conselho de Cultura (Concult), frequentava as reuniões e, por várias vezes, disse que tinha muita possibilidade dela voltar a funcionar, mas a resposta era sempre a mesma: ‘não mexe nisso que não vale a pena’. E assim ocorreu em toda a Administração Papa (João Paulo Tavares Papa). Numa reunião, porém, o promotor público Daury de Paula Júnior disse que se as modificações fossem feitas, colocaria a Concha para funcionar.
DL – Essas modificações incluíam a proibição de parte dos instrumentos de percussão e limitação sonora?
Panchorra – Não. A pessoa que fez esta aberração (TAC) primeiro não entende de música. Ela excluiu, simplesmente, toda a parte rítmica do gênero. Acabou com percussionistas e bateristas. Como se transforma uma coisa pública (Concha) em um espaço antidemocrático. Um equipamento só para instrumentos que praticamente não têm pressão sonora não precisaria ser isolado.
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DL – A reforma, com os vidros, não deu resultado prático?
Panchorra – R$ 1,2 milhão em reforma para só deixar o músico tocar violão, instrumento sem pressão sonora, era melhor ter deixado a Concha fechada. Não tem sentido algum. Você já samba sem percussão? Rock e jazz sem bateria? Como evitar um prato de 16 polegadas? A Concha não se tornou um espaço democrático. Essa reforma é uma farsa. O barulho do trânsito do entorno é muito maior que uma banda de sopro, cordas e piano. Excluíram centenas de músicos. Como pode se investir R$ 1,2 milhão num projeto tão limitado? Se eu fosse um expert em superfaturamento eu adoraria fazer essa obra.
DL – Daria para gastar menos?
Panchorra – Com R$ 1,2 milhão daria para fazer uma vedação correta, poderia ter comprado equipamentos de última geração. Hoje, baterias usam um acrílico especial na parte da frente do instrumento, no palco, que diminui o som sem perder a qualidade. Existem caixas extremamente direcionais ao público, o som não expande. Existem mesas digitais altamente profissionais. Aqui (Concha) só investiram em estética. Quem gastaria essa fortuna para atender somente 10% dos artistas?
DL – Houve um erro técnico na reconstrução do equipamento?
Panchorra – A Concha serve para todos e não apenas aos lugares concebidos dentro da redoma de vidro. É para quem está passando parar e curtir o som, a arte. Tem que ser aberta. É aglutinar pessoas que não estavam esperando e se depararam com a apresentação livre. A pessoa pode ficar até o fim ou por alguns minutos. Com os vidros, essa concepção desapareceu. Dá para ver, mas não sentir a pressão sonora. O pior é que se gastou uma fortuna e não conseguiram barrar o som. Só vetaram a participação de 90% dos artistas.
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DL – E com relação aos testes de som?
Panchorra – Eu que participei das discussões desde o começo não fui convidado para participar. Já gravei 80% das bandas da Cidade e não me chamaram. Eu conheço cerca de 50 técnicos melhores que eu e eles também não foram chamados. Num primeiro teste com gente que conhece se detectaria as falhas. Vi pela televisão que a banda usada como teste usou um Cajon, um instrumento minúsculo de percussão. Não vi a bateria. Se perguntar para qualquer artista, o teste foi uma afronta, um sarro na arte. A gente continua sem poder mostrar nosso som para a população.
DL – O TAC foi feito só para agradar os moradores da orla?
Panchorra – Já é contraditório querer morar na orla e não querer barulho. Quando fizeram os primeiros testes para fechar a Concha, há 13 anos, o barulho urbano era menor. Em nenhum momento fizeram um teste para mostrar que o barulho do trânsito e bem superior ao som oriundo da Concha. Há dois anos, fiz um vídeo provando que o som da bateria não conseguia superar o barulho dos veículos.
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