Cultura

Gravado em Cubatão, filme 'Pedágio' estreia nos cinemas nesta quinta-feira

Crítica da FolhaPress aponta a locação das filmagens um dos diferenciais da história, que tem o pedágio em Cubatão e área industrial como plano de fundo principal

Da Reportagem, com informações de Lúcia Monteiro, da Folha Press

Publicado em 30/11/2023 às 07:30

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Filme é estrelado por Maeve Jinkings e Kauan Alvarenga / Divulgação

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Os cinemas recebem nesta quinta-feira uma das obras mais aclamadas deste ano pelos festivais de cinema. “Pedágio”, de Carolina Markowics, tem Cubatão como pano de fundo para a história de Suellen, uma cobradora de pedágio atormentada com a ideia de que Tiquinho, seu filho adolescente, é gay. 

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A protagonista é vivida com maestria por Maeve Jinkings, uma das melhores atrizes de sua geração, que já havia trabalhado com Markowicz em "Carvão". Excelente no papel de Tiquinho está Kauan Alvarenga, que a cineasta tinha dirigido no curta "O Órfão".

Merece registro ainda o trabalho de Aline Marta Maia como Telma, amiga de Suellen que tenta se equilibrar entre um voraz apetite sexual por desconhecidos, a fidelidade ao casamento de décadas e a fé no pastor.

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O filme foi exibido em mostrar importantes como San Sebastián, Toronto e o Festival do Rio. Seguindo a crítica de Lúcia Monteiro, da FolhaPress, o filme foi avaliado como ótimo e feito para passar em tela grande de cinema.

O desenrolar da história

Circulam pelas redes vídeos em que ele aparece todo maquiado, dublando canções de jazz. Uma colega de trabalho de Suellen indica então um tratamento novo e caro, oferecido por um pastor estrangeiro, com bons índices de sucesso. É preciso fazê-lo antes que Tiquinho complete 18 anos, mas como conseguir dinheiro?
Para completar, ela descobre que seu novo companheiro esconde joias e relógios em sua casa. Ele diz que trabalha como segurança em uma boate, mas será que é um ladrão?

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Apoiada nessas premissas instigantes, a narrativa ora pende para o policial, ora para o melodrama, investindo em cenas cômicas e na crítica social, numa feliz combinação de gêneros. A cineasta demonstra estar atenta a algumas das questões mais prementes hoje no país, como o preconceito contra pessoas LGBTQIA+, a influência das igrejas neopentecostais, a desigualdade.

Há algo de humor negro nas passagens em que Tiquinho é submetido à patética e violenta "cura gay", e felizmente o personagem consegue manter sua força e vivacidade, sem se vitimizar diante da situação.

As filmagens em Cubatão

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A soma desses ingredientes já faria de "Pedágio" um filme interessante, mas há ainda outro elemento fundamental, a locação.

Markowicz decidiu ambientar a história em Cubatão, na Baixada Santista, considerada a cidade mais poluída do mundo na década de 1980 e desde então objeto de uma série de iniciativas ecológicas.

É um lugar emblemático do imaginário paulista, em que a imensidão da Mata Atlântica rivaliza com as proporções descomunais das usinas e tubulações.

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Já nas sublimes sequências iniciais, em planos muito abertos, o caminhar da protagonista disputa a atenção com a impressionante paisagem industrial. O fogo no alto da chaminé da refinaria de petróleo lembra a Ravena filmada por Antonioni em "O Deserto Vermelho", em que o ambiente marcado pela poluição é atravessado também por uma mãe atormentada, interpretada por Monica Vitti.

Quando vemos a beira de estrada pelas lentes de Tiquinho, que usa charmosos óculos de sol cor-de-rosa, se evidencia um parentesco com o primeiro filme colorido do cineasta italiano. A comparação não é mera analogia apoiada na semelhança vaga entre dois municípios marcados pela atividade industrial.

Carolina Markowicz presta tributo a Antonioni por sua maneira precisa de explorar o potencial dramatúrgico dos espaços, de levar em conta a expressividade do contato entre as intervenções urbanas e as formas naturais.

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Nesse sentido, a cabine e os subterrâneos da praça de pedágio onde a protagonista trabalha constituem um mundo à parte, territórios que o espectador pode ter entrevisto mil vezes em viagens entre a praia e a capital sem jamais se debruçar sobre sua arquitetura invisível.

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