Apesar de estar engatinhando no ramo literário, alguns grandes nomes do cenário brasileiro começaram na Baixada Santista. / ARQUIVO PESSOAL
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Leandro Marçal começou a escrever quando ainda era criança. Fosse na escola, ou em casa, as redações eram seu ponto forte e renderam até mesmo prêmios. Hoje, já aos 28 anos de idade, o jovem de São Vicente vive os primeiros passos como escritor após publicar seu livro e integra um time de jovens escritores que tentam levar a Baixada Santista ao topo como uma região exportadora de talentos da literatura brasileira.
Considerada um polo cultural e um dos maiores berços do teatro brasileiro, a Baixada Santista já foi um marco criativo, mas que hoje ainda tenta se tornar uma das grandes contribuintes para a literatura nacional. Apesar de ainda estar engatinhando no ramo literário, alguns grandes nomes do cenário brasileiro começaram a dar suas primeiras 'digitadas' ainda na nossa região.
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Leandro Marçal começou a escrever quando ainda era criança. (Arquivo Pessoal)
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Nascido em Santos na primeira metade da década de 60, Manoel Herzog, hoje autor de múltiplos livros e finalista do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura nacional, afirma que a paixão pela escrita começou ainda na escola, onde ele se destacava em suas redações.
"Atualmente são os romances que dominam a cena literária. Poesia, contos, crônicas são menos privilegiados pelo mercado e penso que seja um aspecto do modelo econômico capitalista, o romance nasce junto com a expansão do capitalismo, as grandes navegações e Dom Quixote, depois se firma com a Revolução Industrial Inglesa e segue assim até hoje".
Ele explica que apesar de ter concorrido ao Prêmio Jabuti, a terceira colocação conquistada em 2015 com o livro de poemas 'A Comedia de Alissia Bloom', não fez com que ele se tornasse um campeão de vendas com sua obra.
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Autora de 'Menos o mar' e 'Tecle 2 para esquecer', a também santista Carolina Zuppo é graduada em letras e pós-graduada em Formação de Escritores (Instituto Vera Cruz). Ela afirma que existe um interesse maior da população por gêneros ou autores, e destaca que é possível verificar furor em torno de algum nome, mas que normalmente o interesse é passageiro.
"Criei e coordenei o Curso Livre de Escrita Literária da Baixada Santista junto com a Milena Graziela Silva Santos e existe um público enorme interessado em entrar no mundo da literatura. Para você ter uma ideia, foram mais de 100 inscritos só na primeira edição do Curso. Acho ótimo que se quebre essa ideia de que escrever é para poucos, para eleitos, de que é preciso ter um dom especial", afirma.
BAIXADA SANTISTA
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Apesar de existir esse interesse, Herzog destaca alguns escritores da região e afirma que acredita que o cenário literário caiçara não está em um momento de expansão, mas também não enxerga nenhum recuo no meio.
"Há escritores de muita projeção oriundos de Santos nesse momento: Torero, Pedro Bandeira, Maria Valeria Resende, se for começar a listar vai longe. Não creio que a região esteja em ascensão ou declínio, é um pedaço do Brasil que está ligado à história do país, claro que a arte vai refletir isso sempre".
Já Carolina destaca a Baixada Santista como um bom 'braço' da movimentação cultural brasileira, o que inclui a literatura.
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"A Baixada Santista deu um bom passo nessa direção nos últimos anos. Santos, além da Tarrafa Literária e das oficinas de escrita que já mantém há anos com escritores como Marcelo Ariel, Lu Menezes e Flavio Amoreira, e sem esquecer também do grande papel que desempenha no mundo dos quadrinhos, foi pioneira ao abrigar o programa do NIP em 2017 e 2018. Neste ano, porém, não foram abertas turmas, não sei como ficará para os próximos. Guarujá, no ano passado, sediou o Mulherio das Letras, encontro nacional de escritoras. Itanhaém também faz um trabalho interessante nas suas bibliotecas. Agora, se isso representa realmente uma ascensão rumo a um papel nacional na produção literária, não posso dizer. Precisamos investir muito, sistematicamente e de maneira consistente na formação não só do escritor como também do público leitor. Os resultados virão a longo prazo e dependerão das políticas públicas".
JUVENTUDE
E o que diz um dos mais novos integrantes desse grupo de escritores caiçaras? Leandro diz não se incomodar em contar com colegas de profissão mais velhos e afirma que o aprendizado é maior. Entretanto, ele afirma que a literatura precisa de mais incentivos para funcionar e afirma que muitos bons autores acabam não recebendo o devido reconhecimento. Ele ainda explica que percebeu o problema em primeira mão ao participar de um curso.
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"Todos escritores enfrentam problemas para publicar, para se colocar no mercado editorial, que não é fácil. Ano passado finalizei um Curso de Escrita Criativa pela Secult de Santos, e em duas turmas temos mais de 20 escritores que não ficam para trás de nomes mais conhecidos da literatura nacional.
Por questões diversas não publicaram, mas são ótimos. Romancistas, contistas, poetas. Da minha idade ou que poderiam ser meus pais. Com uma diversidade incrível de vozes. Tem muita gente boa por aqui".