Cultura

Engenho dos Erasmos ganha filme em 3D e visitação virtual

Para realizar o filme a produtora Release Eletrônico venceu um edital do Proac, recebeu financiamento e reuniu uma equipe de grandes talentos

Da Reportagem

Publicado em 14/09/2021 às 16:04

Atualizado em 14/09/2021 às 18:34

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O filme Reconstrução Virtual do Engenho São Jorge dos Erasmos é a reprodução mais fiel possível de um cenário histórico a ser visitado / Divulgação

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Uma viagem no tempo, uma experiência rara de conhecer por dentro um engenho de açúcar do século XVI em pleno funcionamento. É o que irá proporcionar ao público o filme Reconstrução Virtual do Engenho São Jorge dos Erasmos, realizado pela produtora santista Release Eletrônico.

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O filme convida a uma imersão em vídeo e áudio em 360º, com uso de tecnologia de realidade virtual. A produção é vencedora de um edital do Proac - Programa de Ação Cultural, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo se ficará à disposição na internet. Espectadores, o setor do audiovisual e a cultura brasileira são os grandes beneficiados com a iniciativa.  

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Com moderna tecnologia, o passado histórico de Santos é contado em uma linguagem leve e dinâmica, que vai agradar a adultos e crianças. Este engenho pode ser considerado como uma das primeiras indústrias do estado que hoje é o mais industrializado do País.  

Pelo fato de o engenho ser um patrimônio administrado pelo Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos - PRCEU – USP, para o projeto ser realizado, a produção precisava de autorização e de informações. Mais do que isso, se estabeleceu uma rica parceria. A professora Dra. Vera Lucia Amaral Ferlini, coordenadora da pesquisa e o pesquisador, Dr. Luís Otávio Pagano Tasso, foram grandes facilitadores do projeto.  

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Inovação e desenvolvimento do mercado

O edital do Proac estabelecia premiar projetos que estimulassem o aprimoramento técnico do produtor e o desenvolvimento do mercado. Esta condição motivou o produtor executivo e diretor da Release Eletrônico, Silvio Reis Jr., a entrar na competição. "O edital é de 2019, justamente num período em que eu estava iniciando o trabalho com a técnica de imersão em 360º. Eu sempre me identifiquei com o Engenho São Jorge dos Erasmos e vi no PROAC uma forma de mostrar aos santistas, que a cidade já produziu açúcar, produto cujo nosso porto é líder mundial em exportação. Assim surgiu a ideia do filme", conta o produtor executivo.

A direção ficou a cargo de Gilberto Caserta, um dos expoentes da equipe reunida por Silvio Reis Jr. Caserta participou da finalização do longa metragem "O Menino e o Mundo", como finalista ao Oscar de 2016. Conforme o diretor, o vídeo com imersão 360 graus possibilita viajar no tempo e colocar as pessoas dentro do cenário, com o engenho funcionando. "Com o apoio de professores da Universidade de São Paulo pudemos suprir a dificuldade em encontrar material histórico de referência visual e dos processos envolvidos na produção do açúcar naquele período. A partir desses dados, partiu-se para a modelagem da estrutura arquitetônica do ambiente, equipamentos utilizados em cada etapa e dos escravizados negros e índios que lá deixaram seu suor e vidas", disse Caserta.

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Além do cenário, a interação em 3D foi detalhadamente planejada. "Decidimos criar a interação fazendo uso de um personagem cativante, o Táquion, que nos leva nessa jornada. Partimos do desenho conceitual, criamos a versão tridimensional, movimentação da cauda, olhos e boca, testes e escolha da voz, com o sincronismo dos movimentos. Deu muito trabalho e satisfação, com uma equipe engajada ao longo de mais de 9 mil imagens em alta resolução, que necessitavam de aproximadamente uma semana para serem geradas a cada teste", explicou Caserta.

Segundo o diretor, todo o processo gerou conhecimento e metodologia que podem ser utilizados em outras produções com a mesma finalidade histórica. Morador em Sorocaba, interior de São Paulo, ele identifica em uma fábrica local, do tempo do Império, a possibilidade de aplicação semelhante. "Este projeto motiva nossa participação em outras experiências de interação virtual que podem ser exploradas em ambientes educacionais, culturais e de entretenimento".

Nesta produção, além de um primoroso tratamento de imagem, o áudio foi cuidadosamente criado para ajudar a conduzir o espectador para dentro da trama. O premiado engenheiro de som, Flávio Medeiros, pesquisou referências na meca do cinema, Hollywood, para aplicar a tecnologia ambisonic. O resultado pode ser relatado, mas, obrigatoriamente, precisa ser assistido. O roteiro é de Luiz Claudio Lopes, de inúmeros trabalhos no mercado publicitário e em televisão.

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Com tanta experiência dedicada, aliada a um rigoroso trabalho de pesquisa, o filme Reconstrução Virtual do Engenho São Jorge dos Erasmos é a reprodução mais fiel possível de um cenário histórico a ser visitado. "É um competente registro de uma fase da cultura brasileira que fica como um genuíno legado para as futuras gerações", disse Silvio.

 

O filme

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A meta inicial, antes da pandemia de Covid 19, era produzir o filme e apresentá-lo em exibições para grupos utilizando óculos de realidade virtual (VR), numa exposição por pelo menos 20 dias, dentro do próprio Engenho dos Erasmos. A meta teve que ser alterada, e o filme, com a mesma tecnologia, ficará disponível na internet, num hotsite exclusivo até 31 de dezembro, próximo.

Conforme o produtor executivo, com a decisão de utilizar a imersão 360º, para realizar o áudio, foi convidado o profissional Flávio Medeiros. Para este, mesmo com mais de 20 anos de produção e pós produção, o projeto foi desafiador. "Procurei colher informações sobre a pós-produção de som para projetos de realidade virtual. Uma amiga de Los Angeles que trabalhou comigo na Universal Studios, em Hollywood, me aconselhou a procurar Jim Schaefer e Travis Prater, da Source Sound, de propriedade de Tim Gedemer. Em visita aos Estados Unidos, em Janeiro de 2020, eles me esclareceram várias dúvidas", relatou Flávio.  

Segundo ele, em se tratando de realidade virtual, os recursos e ferramentas ainda estão em fase de desenvolvimento e aperfeiçoamento, o que faz os profissionais testarem muitos recursos. "Eles desabafaram afirmando que são como pilotos de provas dos desenvolvedores de aplicativos para esta modalidade de pós-produção. Ainda falta muito a aprender e aperfeiçoar nas ferramentas disponíveis para se trabalhar, me disse o Tim Gedemer".

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Para que o público pudesse ter a sensação de estar realmente no ambiente, foi usada a técnica conhecida como ambisonic. Para isso, é necessário criar um cenário específico para o áudio, considerando as diversas fontes de emissão. O som acompanha a imagem nos espaços explorados pelo público. Como por exemplo, numa praça, pode-se ouvir sons vindos de pontos distintos. À medida que um observador muda o foco da visão, a percepção do som também muda. A imersão sonora 360º presente neste projeto reproduz estas diferenças. O espectador vai ter esta percepção com muita fidelidade, obtendo a sensação de estar presente no ambiente retratado.

Para a realização era necessário um guia para conduzir o passeio, apresentando o cenário e narrando a história, explicou Flávio Medeiros. A solução criativa proposta por Silvio Reis veio com o Táquion, personificado em uma minhoca quântica. Sim. O personagem foi adaptado de outra história criada pela Release Eletrônico, 16 anos atrás.

Táquion faz parte do time de personagens da série animada, Geninho Quântico, criada em 2006, para um projeto que visava retratar a história dos 100 anos dos canais de Santos. Em 2016 esse time recebeu uma reformulação e agregou novos conceitos. Junto, veio o Táquion, que nasceu em 2D, pelas mãos de Paulo de Tarso Leal Ferreira, da equipe da Release, na época.

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A minhoca quântica é referência a duas teorias da física quântica, uma conhecida como "Buraco de Minhoca" que está relacionada à viagem no espaço/tempo, e outra, tem relação com uma partícula, ainda não comprovada, que seria mais rápida que a velocidade da luz, cujo nome é Táquion. Graça, agilidade e certo maneirismo dão vida ao personagem que pode viajar no tempo e assumir diversas formas. O dublador Lucas Mendes empresta a voz ao personagem central. A gravação foi realizada em Santos, no Estúdio Vila do Sossego, com apoio técnico de Vinícius Suzuki.

Com as várias etapas técnicas em andamento, a pesquisa foi agregando valor e conteúdo ao projeto. "A atenção que tivemos de professores da USP foi fantástica. Conhecemos pessoas com profundo conhecimento, que nos deram dados, mostraram documentos históricos, nos forneceram um escaneamento de superfície do local, feito com drone, e nos trouxeram  clareza sobre o que estávamos fazendo. Foram mais de 20 meses de trabalho", disse Silvio.  "O recorte histórico no filme é do ano de 1570. O Engenho foi um dos primeiros empreendimentos de natureza industrial no Brasil", disse.  

Silvio está à frente da produtora criada por ele há 34 anos, a Release Eletrônico. Desde 2001, investe em projetos especiais que unem educação e entretenimento, "edutainment", como a série de filmes feitos para a empresa do segmento portuário, Libra, "Santos, seu passado, sua história". O projeto emplacou também em São Paulo, na Rede Globo, com "São Paulo, seu passado, sua história" e "Caminhos de São Paulo".  Esta última ficou no ar por dois anos, contando histórias dos bairros e de ruas da capital paulista.

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No segmento corporativo, já realizou mais de 3.000 trabalhos, desde comerciais para TV, vídeos institucionais, de treinamento, conteúdo para internet, cobertura jornalística, nacionais e internacionais, documentários, musicais, videoclipes, entre outros.

O presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, Sergio Willians, aplaudiu o projeto e revelou a intenção de usar a tecnologia empregada no filme. "Nos tempos atuais, em que a tecnologia impera na vida da sociedade, o uso de ferramentas como esta, de realidade virtual, agrega um grande valor ao ensino da história, pois permite às pessoas um olhar alternativo aos fatos e lugares do passado. Este projeto, do Engenho dos Erasmos, traduz o caminho que podemos e queremos percorrer na tarefa de difusão das memórias de Santos e região. É justamente este tipo de ferramenta e conceito que pretendemos utilizar no futuro Museu Histórico de Santos", disse.

O filme estará disponível e poderá ser acessado gratuitamente no Youtube e no hotsite especialmente criado para ele. Além do filme, há detalhes da produção, curiosidades e imagens 360°.

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