Cultura

Direto da Noruega: livro épico sobre o folclore nórdico chega às livrarias do Brasil

Escritora brasileira apaixonada pela natureza lança "A Senhora da Tundra", uma história ilustrada com cenários sombrios que a salvou de traumas vividos na infância

Da Reportagem

Publicado em 19/07/2022 às 17:31

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Paola Giometti é mais conhecida por escrever livros ambientados em cenários árticos / Divulgação

Com ambientação, cenários escandinavos e sombrios, A Senhora da Tundra (Culturama editora, 376 páginas) é um livro belamente ilustrado, que traz o folclore nórdico e que atrai os leitores mais curiosos que gostam de mundos lendários como o de Tolkien. Publicado na Espanha pela Penguin Random House Publishing Group, o livro traz uma história passada na era viking onde o foco é dado ao povo draugar: criaturas associadas a fantasmas ou morto-vivos, que caminham nos fiordes durante à noite, em busca de carne humana.

Jarnsaxa, também conhecida como Ursa da Tundra, é uma protagonista com características vikings, um pouco andróginas, e é a filha bastarda do rei dos draugar. Ao contrário do papel das mulheres guerreiras romanceadas na televisão, a Ursa da Tundra é uma draugr e que às vezes pouco se diferencia de um animal com seus excessos selvagens. Às vezes, Jarnsaxa é mencionada de maneira quase fantasmagórica, lembrando-nos uma aparição que veste um manto de urso nas costas em noites com nevascas, e ao mesmo tempo lembramos que ela tem instintos de draugr, e um soco tão pesado quanto o de Conan.

Ao mesmo tempo em que atravessa as terras do Real Vholtor e encontra seres mencionados na mitologia e no folclore, A Senhora da Tundra traz a experiência da escritora Paola Giometti, que vive em uma vila entre as montanhas geladas do extremo norte da Noruega, terra dos draugar.

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Os cenários são ricos em detalhes poéticos, onde as estações são trazidas de modo que o leitor possa experienciar as sensações de se caminhar e sentir os ventos gélidos do norte da Noruega. Para os mais curiosos, A Senhora da Tundra vem com dicas de pronúncia para nomes nórdicos e um glossário explicando referências à mitologia e sagas medievais islandesas. 

Muito pode ser aprendido com essa riqueza de mitos e lendas, trazendo o passado remoto até o presente em suas páginas. Também mostra sinais de uma exigência notável na hora de narrar com documentação, sem perder a paixão pela matéria-prima. As atmosferas mais densas e enraizadas oferecem um substrato diferente a este gênero de livros épicos: há um eco que paira por toda a narrativa, uma aura de imersão e embriaguez. 

A Senhora da Tundra recebeu a sua versão em língua portuguesa pela Culturama e está disponível na Amazon e em todas as livrarias do Brasil.

Sinopse: Quando a longa noite polar estendia seu manto de escuridão sobre o mundo, os nórdicos sabiam que seriam caçados, pois os draugar estavam vindo. Esses seres malditos, que comiam carne de mundanos. Eles, que já foram humanos e deveriam estar sob a terra, mas na morte se entregaram a Grafvölludr-Gulon, a serpente devoradora de homens que lhes deu uma nova existência. Jarnsaxa é uma bastarda do rei Drakkar, que comanda todos os draugar. Atormentada por uma revelação do passado que envolve o seu rei, a Ursa da Tundra – como é conhecida – se torna uma desertora e inicia uma busca por vilarejos, montanhas e santuários à procura de um homem que dizem ser um enviado das Nornas e de Odin e que poderá matar Drakkar. A Senhora da Tundra se passa em um período obscuro da Era Viking, quando os escandinavos acreditavam que os deuses os haviam abandonado. A história é um convite para o leitor adentrar no folclore, na mitologia e na magia nórdicos, percorrendo cenários fantásticos e um enredo épico, repleto de cenas de batalha e personagens memoráveis.

Autora usou a literatura para superar traumas de infância

Paola Giometti é PhD em Ciências e escritora. Aos onze anos foi considerada a escritora mais jovem do Brasil e é mais conhecida por escrever livros ambientados em cenários árticos e envolvendo vida selvagem, folclore e mitologia nórdica. 

"Sempre fui ligada à natureza de um modo muito forte. Depois que vim morar no extremo norte da Noruega, a mitologia nórdica fez muito mais sentido para mim. As paisagens desoladas e frias são um grande desafio para qualquer ser vivo. Existe uma grande força de impacto que vem das montanhas e dessas paisagens remotas por vezes brancas, por vezes verdes e encharcadas, uma fúria tempestuosa onde a vida continua resistindo, as auroras boreais com sua beleza, o sol da meia noite e o seu impacto sobre todos, as noites polares que parecem sem fim...  Para mim, os gigantes da mitologia agora fazem muito mais sentido, a existência do grande vazio Ginnungagap, do reino gelado de Niflheim e o reino de fogo Muspelheim, além do significado destes nomes. É isso o que mais me atrai na mitologia: eu consigo ver ela viva por aqui".

Para a escritora, a literatura foi a forma que ela encontrou de ter uma vida melhor na infância mesmo vivendo diante de tantas dificuldades. "Minha infância foi muito difícil e sofrida, mas não tenho vergonha de dizer que escrever livros salvou a minha vida. Minha infância foi dura e complicada. Acho que escrevia porque precisava encontrar formas de viver outras vidas que não eram a minha, além de poder estar em lugares que eu não podia estar. Tive um pai agressivo e que humilhava a mim, meus irmãos e minha mãe. Passei por abusos e isso me levou a tomar medidas para tirá-lo de casa antes que as coisas piorassem. Eu tinha 14 anos e tivemos que ir à justiça. Com 15 anos passei a escrever A Senhora da Tundra e passei por este processo de sobrevivência onde eu era muito rebelde e queria aprender artes marciais para me defender e a caçar para o caso de passar fome, pois vivia em área de mata. Levou mais de 15 anos para terminar A Senhora da Tundra, e só foi depois que eu me mudei para a Noruega que me dei conta de que já estava na hora de finalizar o livro. A Noruega me ajudou a encontrar sentimentos de sobrevivência durante a minha adaptação com a instabilidade do Ártico. Jarnsaxa está relacionada com o meu processo de aprender a me defender. Ela é o que creio que uma mulher necessita ser para sobreviver em um mundo dominado por homens. Jarnsaxa me ajudou a resgatar meu aspecto primitivo, o que me ensinou a ser mais forte".

E com tanto aprendizado, Paola já está preparando o seu próximo projeto. "Hoje eu me dedico a ser uma escritora de Fantasia Polar, que é o gênero com o qual mais me identifico e já desenvolvo este gênero desde 2014 com a publicação de O Destino do Lobo, também disponível em língua inglesa nos EUA. Tenho trabalhado num prequel de A Senhora da Tundra, uma história um pouco mais antiga que conta como os draugar surgiram. Além deste livro, estou trabalhando em outro projeto literário com folclore e mitologia bem antiga, onde jogo runas para determinar o destino dos personagens".

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