Amor dos fãs é motor para Julio Iglesias

Uma alma eternamente jovem. Aos 71 anos, Julio Iglesias não quer saber de parar. Naquela que pode ser a última grande turnê nos 46 anos de carreira, o cantor espanhol mantém a energia que o consagrou como um dos maiores artistas da história da música.

O sucesso é fruto de muito trabalho. Mais de 300 milhões de discos vendidos – um dos dez maiores vendedores de discos da história. Ele detém o recorde de ser o cantor com mais discos vendidos em diferentes línguas, foram gravações em 14 idiomas, em mais de 80 álbuns. De acordo com a Sony Music Entertainment, o cantor europeu com mais êxito comercial a nível internacional até hoje.

A carreira começou em 1968. Antes, tentou ser goleiro do Real Madrid, mas um acidente de carro abreviou sua carreira no futebol. Dedicou-se aos poemas e a música. Foi para Londres estudar inglês e, após participar de do Festival Internacional da Canção em Benidorm, na Espanha, deu início a um novo rumo profissional.

Casado duas vezes, pai de oito filhos, entre eles o cantor pop Enrique Iglesias. Julio Iglesias segue com fama de romântico e sedutor. Nessa entrevista, o ícone espanhol fala sobre a carreira, recorda sua história de vida e comenta sobre a turnê pelo país.

Diário do Litoral (DL) - Aos 71 anos e com 46 desses vividos para a música, como o senhor se sente?

Julio Iglesias: Estou grato pela vida, por tudo que ela tem me dado. Me sinto sortudo de me levantar a cada dia com a ilusão de ver um novo amanhecer, de voltar a cantar em tantos locais maravilhoso, de manter viva a paixão.

DL - Diversos locais anunciam que esta é a sua última turnê. Será realmente a sua última turnê?

Julio Iglesias: Quando se chega a uma determinada idade, se prefere evitar palavras maiores como “último”. O que sei é que é pouco provável que eu volte a fazer uma turnê tão ampla como esta de 13 concertos. Voltarei ao Brasil, mas para atuações pontuais.

DL - Muitos artistas dizem que o público brasileiro é diferente. Como é o público brasileiro para o senhor?

Julio Iglesias: É um público muito generoso, que se entrega, que vive a música com paixão. Os brasileiros logo te conquistam com sua forma de ser, sua energia e sua maneira de expressar as emoções. Eu amo o Brasil e nunca vou me cansar de dizer isso. 

DL - Um dos shows da turnê passará por Santos. Conhece a cidade?

Julio Iglesias: Tenho muita vontade de cantar para as pessoas de Santos. Sei que possui um dos principais portos da América do Sul e tem belíssimas praias.

DL - Senhor é considerado um dos reis da música romântica. Como é sua relação com o romance?

Julio Iglesias: Sou feliz porque o amor foi e continua sendo parte da minha vida. Sou apaixonado pela vida, por minha mulher, minha família e sobre tudo pelo meu público, que é o principal motor da minha vida.

DL - Que o senhor pensa da sua fama de sedutor?

Julio Iglesias: Já foram faladas tantas coisas de mim nesse sentido... Mas nem todas são tão verdadeiras; algumas me fazem rir, outras me deixam lisonjeado. Eu não sei se fui ou não um sedutor, mas o que sei é que sempre fui querido e respeito pelas mulheres e aprendi muito com elas, sobre sua generosidade, sua dedicação internacional, a sua entrega.

DL - O senhor tem alguma grande inspiração para compor? O que te leva a escrever tantas músicas?

Julio Iglesias: A vida tem sido minha fonte de inspiração. Na verdade, todas minhas canções contam pequenas histórias que, em um momento ou outro, todos nós vivemos. Fazem muitos anos que eu não escrevo canções, mas tive o privilégio de colaborar com grandes compositores e letristas.

DL - Antes de ser cantor, o senhor foi goleiro e jogou na equipe juvenil do Real Madrid. Como era seu desempenho como jogador de futebol?

Julio Iglesias: O futebol me encantava e eu sonhava em chegar a ser um grande goleiro, mas não sei se conseguiria. Desde pequenos, muitas crianças sonham em ser como as grandes estrelas do Real Madrid, mas logo a vida tem outros planos para nós. Isso aconteceu comigo. Minha vida mudou por completo depois do acidente quando eu tinha 20 anos. Vi-me obrigado a deixar o futebol, mas o Real Madrid sempre foi e será a equipe da minha alma.

DL - Como foi enfrentar a morte após o acidente que o afastou do futebol? Pode ser considerado um divisor de águas na sua vida?

Julio Iglesias: Passei a ser, da noite para o dia, semiparalítico, e ficar assim por um ano e meio foi um golpe duríssimo, mas tudo neste mundo se supera, exceto a morte. O importante é não perder a esperança, lutar e apoiar-se nas pessoas que te querem bem. Nunca se deve jogar a toalha.

DL - Como o senhor enxerga a morte hoje?

Julio Iglesias: Falar da morte é perder tempo. Eu prefiro falar da vida e agradecer por estar vivo.

DL - Possui algum arrependimento em tanto tempo de carreira? Qual e por quê? E qual o maior orgulho?

Julio Iglesias: Costumo olhar para trás só para tentar não repetir os erros. Olhar para trás para me arrepender no tem sentido; o tempo é irreversível. Ninguém é perfeito; em algum momento, todos nós poderíamos fazer melhor as coisas, mas o que importa é aprender, ter a vontade de crescer. O maior orgulho? O amor das pessoas. É o mais valioso e espero nunca perde-lo. 

DL - Se tivesse que parar de cantar, escolheria a aposentadoria ou tentaria outra profissão? qual?

Julio Iglesias: Minha vida é cantar. Não sei fazer outra coisa, nem me interessa. Espero ter saúde e energia para seguir cantando, enquanto as pessoas quiserem.

DL - Por fim, quem é Julio José Iglesias Puga de la Cueva? Como o senhor se definiria?

Julio Iglesias: Seria interessante perguntar isso a um brasileiro, a um chinês, a um australiano, a um espanhol... As pessoas que me deram a oportunidade de cantar nestes 46 anos. Eles são os que melhor sabem responder quem é Julio Iglesias, porque são os que me criaram e que me mantiveram vivo, com seu amor.