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Sexta-feira, dia 24 de abril de 1964. Início da ditadura militar no Brasil. O navio Raul Soares, transformado em cárcere flutuante, chega ao Porto de Santos. Para ele são enviados presos políticos e sindicalistas portuários. A Comissão Nacional da Verdade, em seu relatório final, diz que o navio foi local de tortura, mas não aponta os nomes de quem enviou o navio-prisão para humilhar dezenas de sindicalistas. Isto significa que a verdade continua submersa no estuário do porto de Santos.
“A verdade realmente ainda está submersa no Porto de Santos, pois li o relatório da Comissão Nacional da Verdade e ele não esclarece muita coisa sobre o navio-prisão Raul Soares. Menos mal, que o relatório apurou e aponta o que todos nós, presos do navio, vimos relatando ao longo desses 51 anos, que o Raul Soares foi local de tortura e humilhou muita gente”. O relato é do médico alemão naturalizado americano Thomas Maack, feito direto de Nova Iorque, ao Diário do Litoral.
Maack foi preso e personagem do navio Raul Soares e ajudou a salvar a vida de muitos presos. Quando o navio foi desativado, o médico, que era professor da USP, em São Paulo, teve que fugir do País e se exilou em Nova Iorque, Estados Unidos, onde é hoje professor emérito da Cornell Universidade.
Sua história foi relatada pelo DL em duas séries de reportagens: Navio-Prisão: Democracia à Deriva( em 2.013) e Cárcere Flutuante: Os 50 anos do Raul Soares e da Repressão ao Sindicalismo( em 2.014).
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Esteve em Santos, por duas vezes, a convite do DL e recebeu homenagens da Câmara e de sindicatos de portuários. “Cabe, a vocês da imprensa e, principalmente, ao movimento sindical, não deixar essa história ser esquecida e continuar cobrando das autoridades a revelação dos nomes de quem foram os responsáveis, os líderes, por enviar o navio Raul Soares para propiciar esta triste história”, disse Thomas Maack.
Nas duas séries de reportagens o DL também entrevistou outros dois presos: Argeu Anacleto e Ademar dos Santos, Ademarzinho, sindicalistas portuários, que foram trancafiados nos calabouços do cárcere flutuante.e falara sobre torturas.
E também, o ex-capitão dos portos, Almirante Júlio de Sá Bierrembach, que, por sua vez, negou torturas aos presos do navio Raul Soares.
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Ato lembra a chegada do Navio Raul Soares
O Comitê Popular de Santos – Memória, Verdade e Justiça, está organizando para a hoje, um ato para lembrar presos e mortos no navio Raul Soares. A concentração será atrás da Alfândega, na estação das barcas que seguem para a Ilha Diana, das 17h00 às 19h00.
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Na ocasião, também será deflagrada uma grande campanha de recolhimento de informações sobre o Navio Raul Soares e os organizadores do evento convidam a população de toda a Baixada Santista a contribuir com relatos, fotos e recortes de jornal para a criação de um amplo arquivo sobre o episódio. As pessoas que puderem disponibilizar material, devem entrar em contato pelo facebook do Comitê.
“Alguns fatos e momentos da nossa história devem permanecer vivos na nossa memória, porque o preço que se paga pelo esquecimento é muito alto”, alerta Chico Nogueira, presidente do Settaport, o único sindicato portuário que está apoiando esta iniciativa.
O Comitê Popular de Santos – Memória, Verdade e Justiça foi criado em novembro de 2013, durante a audiência pública da Comissão Nacional da Verdade, realizada no Sindicato dos Petroleiros de Santos. Em novembro de 2014, realizou o Encontro com a Justiça de Transição, no Fórum da Cidadania. O ato em memória dos horrores promovidos pelo navio Raul Soares sera a Terceira atividade, desde que o Comitê começou a atuar na cidade.
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Sobre o Raul Soares
A embarcação de passageiros, foi construída em 1900, pela companhia Hamburg Süd; em 1925, foi adaptada também para o transporte de carga; e, quando já estava inativa, no Rio de Janeiro, foi requisitada pela Marinha Brasileira, pintada de preto e rebocada até o Porto.
O Raul Soares atracou em Santos, no dia 24 de abril de 1964, para servir de cárcere político para sindicalistas, estudantes, professores, militares dissidentes e trabalhadores de todas as categorias que se organizavam contra o regime repressivo que começava a se instalar no país. A bordo, os detidos enfrentaram torturas e passaram por longos interrogatórios, mas até hoje não se sabe exatamente quantas pessoas estiveram presas ali.
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“O Raul Soares é um emblema do golpe militar e da humilhação sofrida pela cidade de Santos, quando perdeu a sua autonomia política”, lembra Maurício Valente, coordenador do Comitê.