Sindical e Previdência
Ato público 'Raul Soares Nunca Mais' relembra hoje a chegada do navio que foi transformado em cárcere flutuante e serviu de prisão para sindicalistas, estudantes e políticos
O Raul Soares é considerado o símbolo da repressão sindical / Reprodução
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Naquela sexta-feira, dia 24 de abril de 1964, o navio Raul Soares chegava ao Porto de Santos para descrever um dos mais tristes capítulos da história sindical e política de Santos e Região. Não tinha mais força para navegar e por isso mesmo chegou ao Porto rebocado logo após ser adaptado como prisão flutuante.
Não trazia carga e nem passageiros. Foi direto para o estuário e deixado sob um banco de areia, bem próximo à Ilha Barnabé.
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No mesmo dia, começou a receber os primeiros prisioneiros, entre eles sindicalistas portuários de Santos. Navio foi transformado em cárcere flutuante para sindicalistas, estudantes e políticos que se opunham ao Regime Militar instalado no País em 31 de março de 1964.
Aos portuários, juntaram-se estudantes, médicos e políticos. Quase todos relataram torturas e repressão no interior do navio-prisão, que permaneceu em Santos por seis meses. No dia 23 de outubro foi desativado, levado de volta a um estaleiro no Rio de Janeiro onde foi desmontado e suas peças vendidas como sucata.
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Considerado o símbolo da repressão sindical, o Raul Soares não tinha diário de bordo, e por isso mesmo não deixou registros de todos os presos e nem os fatos que ocorriam em seu interior. Os relatos existentes foram contados pelos próprios presos que falam em tortura, dor e repressão, muitos já falecidos.
O Diário do Litoral fez uma série de reportagens sobre o Raul Soares entre os anos de 2012 e 2018. Localizou e ouviu os poucos presos sobreviventes daquela época e também a versão do outro lado da história, localizando no Rio de Janeiro o Almirante Júlio de Sá Bierrembach, capitão dos portos em 1964, que concedeu entrevista em 2013. Ele faleceu em 2014.
A Comissão Nacional da Verdade do Governo Federal investigou as prisões no navio e chegou a conclusão de que o Raul Soares foi um dos locais de tortura e repressão.
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Sindicalistas relembram a data hoje em ato público no Porto
Sindicalistas e movimentos sociais relembram hoje, a partir das 18 horas, em ato público na Estação das Barcas na travessia Santos-Vicente de Carvalho, no Centro, a chegada do navio a Santos. O Movimento denomina-se Raul Soares Nunca Mais. E já há alguns anos vem relembrando a data. Segundo os organizadores é preciso sempre lembrar essa triste história para que ela não mais se repita.
Filme
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Durante o ato público será lançado o projeto do filme de longa metragem Cárcere Flutuante: o Navio Raul Soares, de um grupo de cineastas e atores santistas. O filme deverá estar nos cinemas no segundo semestre de 2020.
]O filme é baseado na série de reportagens Cárcere Flutuante, do jornalista Francisco Aloise, publicadas no Diário do Litoral e transformada em livro-reportagem pelo autor, que foi vencedor de dois prêmios direitos humanos de jornalismo em 2017 e 2018.