Sindical e Previdência
Antigo transatlântico, que por seis meses virou presídio flutuante no Porto de Santos, foi desmontado e vendido como sucata em 2 de novembro de 1964, Dia de Finados
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Naquela segunda-feira, 2 de novembro de 1964, Dia de Finados, o navio-prisão Raul Soares "morria" no estaleiro do Porto do Rio de Janeiro. Chegava ao fim aquele que foi considerado o símbolo da repressão da ditadura militar, deixando para trás um rastro de torturas, dor e humilhação. Ele foi desmontado e teve suas peças vendidas como sucata.
O navio-prisão permaneceu no Porto de Santos de 24 de abril a 23 de outubro de 1964, servindo de presídio flutuante para políticos, estudantes e principalmente sindicalistas portuários. Foi transformado em presídio pela ditadura militar e sua presença, atracado no maior porto da América Latina, afrontou a sociedade santista.
De casco negro e enormes chaminés fumegantes, o Raul Soares ficou atracado nas proximidades da Ilha Barnabé. Seus presos eram mantidos fortemente vigiados sob mira de metralhadoras e em péssimas condições de alimentação, higiene e salubridade. Seus prisioneiros políticos eram tanto civis quanto militares.
Em 2 de novembro, Dia de Finados, depois de cumprir sua última missão, o navio foi levado de volta ao Rio de Janeiro,onde virou sucata. Levou, com sua morte, o que havia restado dos ideais democráticos até então vigentes de uma cidade que tinha um sindicalismo forte e atuante na luta por melhores salários e condições de trabalho no Porto de Santos.
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A série de reportagens, que publicamos desde 23 de outubro no site do Diário do Litoral, contou as histórias de personagens presos no navio, entre eles, o médico Thomas Maack, os sindicalistas Argeu Anacleto, Ademar dos Santos, Ademarzinho, o jornalista Nelson Gatto (in memorian) e publicou Memórias Póstuma de Um Advogado Sindical Portuário, relato inédito do advogado Eraldo Franzese, morto em 1998, que deixou um manuscrito inédito sobre a ditadura militar e o navio Raul Soares.
Leia amanhã, no encerramento desta série, o outro lado dos fatos, entrevista exclusiva concedida pelo almirante Júlio de Sá Bierrembach, capitão dos portos em 1964 e também delegado do trabalho marítimo de Santos. O homem que comandou o maior porto do País e decretou intervenção nos sindicatos, aos 96 anos de idade, relembra dos fatos e apresenta sua versão. Ele foi entrevistado em sua residência, no Rio de Janeiro.
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