Sindical e Previdência

Era uma vez um navio-prisão no Porto de Santos

Há 49 anos, o navio Raul Soares virava prisão flutuante no Porto de Santos

Francisco Aloise

Publicado em 24/04/2013 às 15:14

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Santos, sexta-feira, 24 de abril de 1964. Passavam poucos minutos das 8 horas, quando àquela embarcação de casco negro e grandes chaminés, chegava ao Porto de Santos de forma inusitada: veio rebocada desde o Rio de Janeiro, pois já não tinha forças para navegar.

Era o navio Raul Soares, de tão triste lembrança para o movimento sindical, que transformado em presídio flutuante. Veio para servir de prisão para líderes sindicais, estudantes e políticos que se opunham a ditadura militar instalada naquele ano no Brasil.

Ficou ancorado num banco de areia bem próximo à Ilha Barnabé e lá permaneceu até 23 de outubro daquele ano. Foi um período sombrio para a história do sindicalismo, de Santos e do próprio País. Uma história escrita com dor, tortura,  sofrimento, mas também com luta e superação.

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Todo o drama de presos e seus familiares, foi contado com detalhes pelo Diário do Litoral na série de reportagens Navio-prisão: democracia à deriva, publicada de 23 de outubro a 2 de novembro de 2.012, e que serviu de indícios para que a Comissão da Verdade, do Governo Federal, iniciasse a apuração  sobre o que ocorreu naquele presídio flutuante.

O DL trouxe dos Estados Unidos o médico alemão naturalizado americano, Thomas Maack, que foi homenageado pela Câmara de Santos. Ele foi um dos pressos e personagem do navio-prisão.

O jornal ouviu também o sindicalista portuário, Argeu Anacleto, outro preso do navio Raul Soares, umas das poucas vozes que restam daquele período e que falam de dor e sofrimento e também da superação.

Navio Raul Soares chegou ao Porto de Santos em 24 de abril de 1964 (Foto: Reprodução)

Maack fala de dor  e sofrimento no navio-prisão

Lembrando a triste memória da história do navio Raul Soares, escrita por torturas e opressão aos sindicalistas de Santos, o médico Thomas Maack emocionou-se ao relembrar os meses em que foi obrigado a viver confinado em alto mar, antes de fugir e exilar-se em Nova Iorque, onde construiu sólida carreira na área médica.

“Se a ditadura falhou em quebrar a minha resistência, é por causa do apoio e sustento dos meus companheiros de prisão, principalmente os sindicalistas de Santos”, lembrou Maack em sua vnda a Santos, em novembro de 2012.

O especialista em pesquisas médicas nasceu na Alemanha e veio para o Brasil com poucos mêses de vida. Formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da USP e aqui viveu até os 29 anos, quando foi forçado a sair do país. Um dos presos políticos do navio-prisão Raul Soares, Maack atendia os sindicalistas capturados pelo Regime Militar durante o período de cárcere. “Enquanto eu exercia a atividade médica, os meus companheiros prisioneiros me curavam emocionalmente”.

E concluiu: “Nós queremos saber a verdade. Quem mandou o navio-prisão Raul Soares para Santos? Qual foi a linha de comando? Porque é sabendo a verdade que se evita não só as Ditaduras futuras, mas também a ruptura de princípios democráticos dentro de sistemas como nós temos presentemente”.

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O médico Thomas Maack ficou preso no navio (Foto: Divulgação)

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