DESEJO

Refugiado camaronês de São Vicente sonha com futebol profissional

Em entrevista ao Diário, o jovem da categoria Sub-20 conta seu drama

Carlos Ratton

Publicado em 06/02/2023 às 07:00

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Eugene Christian tentou o Santos, mas não obteve sucesso porque, na ocasião, ainda não possui todos os documentos pessoais / Nair Bueno/DL

Continua depois da publicidade

Cerca de R$ 1,5 mil. Essa é a quantia necessária para que o camaronês Eugene Christian Keou Kameni, de 20 anos, possa viajar à Bolívia para assinar seu primeiro contrato no futebol profissional. Refugiado e vivendo com dificuldades em São Vicente, Eugene tentou jogar no Santos Futebol Clube (SFC), do Rei Pelé, no ano passado, mas não obteve sucesso por conta de falta de documentação.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Brasil poupa titulares e perde para Camarões, mas avança em primeiro

• Edward Norton cria campanha para ajudar refugiado sírio a ir para os EUA

• Refugiado sírio derrubado por cinegrafista vai para escola de futebol na Espanha

Em entrevista ao Diário, o jovem da categoria Sub-20 conta seu drama, bem diferente dos refugiados que vivem na Baixada Santista e no Brasil, que sobrevivem do comércio ambulante informal. Atualmente, ele está dormindo num quartinho de fundo de uma igreja, que o acolheu há algumas semanas.

"Estou no Brasil há pouco mais de um ano. Cheguei aqui para realizar meu sonho de ser jogador de futebol. Mas, infelizmente, não se consegue progresso sem um empresário. Você consegue até treinar, mas de forma isolada", lamenta o jogador.

Continua depois da publicidade

Eugene se esforçou bastante. "Passei no teste do Santos, mas na ocasião ainda não haviam saído meus documentos. No Jabaquara, faltou um documento que demorou seis meses pra conseguir, que agora também tenho. Ainda passei no teste num clube em São José dos Campos, mas a empresa que assumiu estava iniciando e o contrato não foi efetivado", revela.

Segundo Eugene, há também a possibilidade de jogar na França. Um ex-jogador interessado no jovem camaronês é amigo do treinador boliviano. "A ideia seria eu jogar um tempo na Bolívia e talvez, depois, ir para a Europa. O treinador disse que, se eu conseguir o dinheiro para a viagem, posso morar na casa dele até me profissionalizar. Meu passaporte está saindo nos próximos dias, mas falta o dinheiro da passagem", afirma.

FLAMENGO.
Segundo Eugene, talvez só uma situação adiasse sua ida para a Bolívia: jogar no Flamengo. "É meu sonho desde criança. Se tivesse a oportunidade de mostrar meu futebol para o Flamengo, daria o máximo. Eu cheguei perto. O Boavista Sport Club chegou a me querer, mas a pessoa que estava vendo isso para mim acabou sendo enganada e não deu certo", lamenta. Para ajudar Eugene, basta transferir qualquer quantia pela chave pix 900 126 578-24.

Continua depois da publicidade

BAIXADA.
Após ouvir a história de Eugene, o Diário procurou saber como a Baixada Santista lida com as dezenas de refugiados que buscam oportunidade na região.

Fernanda Aparecida de Araújo Pereira, a Fernanda Alfajor, é atualmente coordenadora da Organização Não-Governamental (ONG) Haiti Sorria, que sobrevive de doações e parcerias de empresas para assistir refugiados. A ONG, sediada em Bertioga, também atua internacionalmente.

Segundo ela, a média mensal é o atendimento de 10 a 15 refugiados, mas o número caiu muito após a pandemia. Por ano, eram em torno de 120 refugiados, inclusive mulheres. Todos entre 20 e 35 anos, geralmente haitianos, venezuelanos, nigerianos e camaroneses.

Continua depois da publicidade

"Eles saem de seus países pela miséria extrema e perseguição política. Mas o que mais pesa na decisão é a falta de comida e saúde. Chegam ao Brasil sem documentação, com dificuldade em falar o português, encontrar emprego e moradia. Nada é fácil para eles", afirma.

Fernanda lamenta que a maioria é explorada no Brasil por não entender a lei trabalhista vigente. Fazem carga horária superior ao normal e recebem baixa remuneração. Sofrem preconceitos raciais e xenofobia. Tem mulheres refugiadas que buscam ajuda e, geralmente, são colocadas em lugares seguros até regularizar documentação", conta.

NÃO TEM.
A coordenadora revela que Santos e região não têm um órgão competente que lida diretamente com os refugiados. As cidades não disponibilizam um lugar fixo para recebê-los, dar atendimento de auxílio trabalhista, documental e outros, como saúde física e mental. Não há um controle nas cidades de quem entra ou saí.

Continua depois da publicidade

"Então, estamos os encaminhando para outros órgãos em São Paulo (Capital). Para instituições que trabalham com refugiados. A única coisa que conseguimos fazer atualmente é documentação - RG, CPF e Carteira de Trabalho", finaliza.

PESQUISA.
Uma pesquisa realizada pela ONG Estou Refugiado, em parceria com o Instituto Qualibest, aponta que o desemprego ou a dificuldade para encontrar trabalho são os principais problemas enfrentados por 66% dos refugiados no Brasil. O levantamento entrevistou 503 pessoas em 2021.

Foram incluídos imigrantes de 18 anos ou mais que vivem no País entre seis meses e sete anos, na condição de refugiados, solicitantes de refúgio e residentes temporários ou por tempo indeterminado.

Continua depois da publicidade

Um total de 69% citaram problemas econômicos como a principal razão pela qual deixaram seus países, sendo que 35% estavam desempregadas, sendo 31% assalariadas. Dentre o grupo que estava trabalhando, o setor de serviços era o principal responsável pelas contratações.

Atrás dos problemas econômicos, a perseguição política em seus países de origem é o segundo motivo que obriga os imigrantes a deixarem suas casas -com 21% dos relatos.

No caso dos congoleses, o percentual dá um salto e atinge os 42%. Recentemente, o caso do jovem Moïse Kabagambe, assassinado no Rio de Janeiro (RJ), chocou o país. Na época do crime, a mãe do congolês relatou ter deixado seu país por medo da violência provocada pela guerra.

Continua depois da publicidade

Embora a solidariedade do povo brasileiro tenha sido apontada por 62% dos participantes da pesquisa da ONG, 47% do total relataram já ter sofrido discriminação no país, principalmente motivada por suas nacionalidades.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software