O documento revela ainda que São Vicente ostenta altos níveis de vulnerabilidade social, com uma parcela significativa da população que, ao começar o dia, não sabe se irá almoçar e jantar / Divulgação/PMPG
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As reclamações veiculadas nas redes sociais, apenas virtuais, chegaram ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) que deverá avaliar, nos próximos dias, a transferência da unidade do restaurante Bom Prato, instalada na Rua Ipiranga, no Centro de São Vicente, para a Vila Margarida, na região da comunidade México 70.
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O Bom Prato no Centro servia à comunidade carente desde 2006, com 1,8 mil refeições diárias a um real o almoço e R$ 0,50 o café da manhã. A maioria das pessoas reclama que dificilmente terá condições de se deslocar até a Vila Margarida para se alimentar.
"A unidade do Centro atendia, além de pessoas em situação de rua, as de baixa renda, comerciários e autônomos com parcos ganhos, pessoas que terão que caminhar mais de três quilômetros, sem a garantia de que conseguirão a refeição", aponta o documento.
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No material que se encontra no MP, foi lembrado que a iniciativa carecia de planejamento ou, no mínimo, estudo técnico social, que atende a vontade de comerciantes, ligados à Associação Comercial de São Vicente.
O documento revela ainda que São Vicente ostenta altos níveis de vulnerabilidade social, com uma parcela significativa da população que, ao começar o dia, não sabe se irá almoçar e jantar.
IRMÃ DOLORES.
O Bom Prato do Centro foi inaugurado após muita luta da saudosa Irmã Dolores, que teria completado 97 anos no último dia 26. A fundadora e coordenadora do Movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva, conviveu com a religiosa e lembra de sua luta para que o Bom Prato fosse no Centro da Cidade.
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Pesquisadora do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Débora diz estar assustada com a transferência do equipamento.
"O Bom Prato tem que estar em todas as regiões de vulnerabilidade social e o Centro de São Vicente é um. Eu acompanhei a Irmã Dolores, que era militante dos Direitos Humanos e lutou muito pelo equipamento, que até possuía uma foto dela. Ela lembrava que muitas famílias, mesmo tendo onde morar, passavam fome. O Bom Prato não é um projeto de governos, mas de uma mulher, uma madre, que veio do exterior e se deparou com a miséria instalada nas periferias", afirma a pesquisadora.
USUÁRIOS.
A diarista Joceli Araújo afirma que a mudança a surpreendeu. Ela frequentava o Bom Prato do Centro e não tem como se deslocar para o México 70. "Eu moro perto do Centro e uma pessoa em situação de rua me indicou o restaurante. Tem muitos que ficarão sem comer. A violência vai aumentar", acredita.
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A dona de casa Ilma Lima também frequentava o local sempre que se dirigia ao centro para resolver algum problema. "Fico triste. Tive que vir ao médico e sei que a comida é saudável e acessível. Vou voltar pra casa sem almoçar por um real", conta.
Fidelis de Souza vive de pequenos trabalhos sem vínculo empregatício, conhecido como 'bicos', no Centro. "O dinheiro não dá para eu me deslocar para outro lugar. Fica muito difícil ir para a Vila Margarida", afirma.
PREFEITURA.
A Prefeitura de São Vicente informa que além de ser uma demanda antiga da região, a mudança de local faz parte de uma estratégia conjunta da Administração com o Governo do Estado para levar o restaurante para regiões com maior vulnerabilidade social e insegurança alimentar, como a do México 70. E o contrato com a ONG que gerenciava o Bom Prato do Centro foi encerrado e uma nova organização irá assumir o serviço.
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Ainda segundo a Administração, a nova unidade já está funcionando na Rua do Canal, 170 (antiga ETECRI do México 70).
A partir desta semana, passam a ser distribuídas 300 refeições por dia através do Bom Prato Móvel, e a estimativa é que em 120 dias a obra no local esteja finalizada para o funcionamento regular, retomando o quantitativo de cerca 1,8 mil refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar).
Destaca que a região do Centro de São Vicente apresenta estrutura de refeição e alimentação a preços variados, além de contar com o Centro Pop, que é a unidade de referência para a população em situação de rua, e que serve café da manhã diariamente.
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REUNIÃO.
Em reunião com deputados da região nesta semana, o prefeito Kayo Amado pediu auxílio para que o Governo do Estado amplie a quantidade de unidades do Bom Prato para comunidades e bairros mais afastados do Centro, sobretudo na Área Continental.
Isso porque são muitas as famílias que sofrem com a carência de programas de segurança alimentar como o Bom Prato e se encontram em situação de vulnerabilidade social, como a população do México 70.
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