Santos
A programação paralela à exposição Gilberto Mendes 100, que segue em cartaz até 28 de maio no Sesc Santos, conta também com visita mediada e oficinas como parte das comemorações do centenário do compositor
Confira a programação / Divulgação
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O Sesc Santos recebe concertos com composições de Gilberto Mendes, além de obras pouco conhecidas do público e outras inéditas do compositor santista. A série de apresentações tem participação do Ensemble Gilberto Mendes, e do Coro Livre da Baixada em uma das datas.
Os repertórios fazem um passeio pelas fases de Gilberto Mendes, apontam para uma nova geração Música Nova inspirada pelo pioneiro da música concreta no Brasil e destacam sua versatilidade na música coral.
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Serão quatro concertos gratuitos com o Ensemble Gilberto Mendes: Ouvivendo Gilberto (24/03), Gilberto Porto Perto da Santos que Navego (31/3), Rastros Harmônicos (14/4), Gilberto Mendes e sua Obra Coral - com participação do Coro Livre da Baixada (28/4). Classificação Livre. As apresentações acontecem às 20h, no Teatro do Sesc Santos, com retirada de ingressos na terça-feira que antecede a data da apresentação, a partir das 10h.
No concerto intitulado Ouvivendo Gilberto, o grupo Ensemble Gilberto Mendes apresenta composições inéditas, algumas não publicadas e outras que foram pouco executadas. O repertório mostra a vivacidade da música de Gilberto, com peças que percorrem seu universo sonoro e o desenvolvimento de uma linguagem musical pessoal, refletindo sua relação com a cidade de Santos, com o mar que respira em suas ideias, ou do porto que reflete seu cosmopolitismo. No programa do concerto estão as composições para piano Fuga Dupla (1954) e Vacariana (1953), Estudo Choro em Mi menor (1954) para clarinete, Sinuosamente. Veredas (1995) para flauta, Urubuqueçaba (2003) para flauta e piano, entre outras. Com esse repertório raro de Gilberto Mendes, surge o diálogo de gerações de músicos profundamente engajados com o novo, com a música em sua diversidade.
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Em Gilberto Porto Perto da Santos que Navego, o grupo mostra que o Música Nova continua inspirando novas gerações. Assim como Almeida Prado, Gil Nuno Vaz e Roberto Martins foram fortemente influenciados por essa efervescência musical. Novas gerações que subiram a Serra do Mar, hoje voltam com leituras atualizadas dos caminhos da linguagem musical plugados com a diversidade de nossos tempos. A produção de uma nova geração representada por André Ribeiro, Silas Palermo e o eclético José Simonian, mesmo refletindo ecos dos anos de experimentalismo, embarcam numa ótica onde o que conta é transmitir uma emoção, seja ela através da música tonal, repetitiva, minimalista ou "poliestilística". No programa, estão as composições Fantasia Litorânea (2008), de Almeida Prado (1943-2010), 3 Miniaturas brasileiras (2001), de Silas Palermo (1971), De dúvida (2011) -- sobre poema de Glauco Mattoso (1951), de Ricardo Cardim (1970), Alma de Saudade (1999) e Canção do Ex-Idílio (2000), de Gil Nuno Vaz (1947), Prelúdio a uma Breve Canção (2011), de André Ribeiro (1975), Triste e belo abril (2022), de José Simonian (1946), além de obras de Gilberto Mendes, como Estudo de Síntese (2004), Estudo ex tudo eis tudo pois! (1997), Ciclo Raul de Leoni (1951/1952).
Na terceira data, o concerto Rastros Harmônicos evidencia o interesse de Gilberto por novas expressões visuais no campo da música. Na qualidade de compositor, a literatura de Gilberto Mendes, de dimensão maior que a histórica, apenas enfatiza a busca de outros idiomas musicais, que incorporam todos os meios de expressão da tecnologia moderna. E aí a comunicação de massa torna-se elemento do credo artístico do compositor santista, sempre procurando um novo idioma musical que respondesse pelas influências por ele sofridas, fossem elas de Satie, de artistas pops como Rausschenberg, escritores como Ezra Pound e Kafka ou filmes do diretor Goddard, todas elas estimulando seu interesse em explorar os aspectos visuais da música universal. Seus novos rumos estavam assim definidos. No repertório estão composições de Gilberto, como Seul un Urubu solitaire (2003), Slow Dance of Love (2000), Peixinho Danse le Frevo au Brésil (1999), Viva Villa II (1987), Prelúdio (2001), Quasi una Passacaglia (2001), Ulysses em Copacabana... Surfando com James Joyce e Dorothy Lamour (1988), incluindo a composição Morrenasce (2022) - Um Happening para Gilberto, de Gil Nuno Vaz (1947).
O concerto Gilberto Mendes e sua Obra Coral tem a participação do Coro Livre da Baixada. Compositor versátil, Gilberto escreveu para inúmeras formações instrumentais, mas especialmente possui um número bastante significativo de obras corais e vocais com ou sem acompanhamento. A relação pessoal do compositor com a literatura brasileira, com destaque para a poesia concreta e a existência, em Santos, do Madrigal Ars Viva que serviu em tempo real de laboratório ao compositor, talvez possa explicar esse apreço pela música vocal. Percebe-se a relevância de suas músicas para coro pela quantidade de vezes que são encontradas nos programas de grupos corais de todas as partes do Brasil. Para Gilberto, sua música coral estava mais avançada em relação ao que se produzia na Europa, pois já usava em suas composições a poesia concreta, que só começou a ser utilizada por lá, muito tempo depois. Ao mesmo tempo em que incorpora elementos da cultura de massa em suas peças, um tanto pela temática das próprias poesias utilizadas, o compositor santista rechaça com veemência essa indústria cultural e mercantilista, desenhando um discurso musical bastante crítico. Dividido em três momentos, o concerto apresenta TV GRAMA I Tombeau de Mallarmé (1995 - Poema de Augusto de Campos), O Sol de Maiakóviski (1995 - Poema de Augusto de Campos), Enigmao (1984 -- Texto de Florivaldo Menezes), Cântico da Verônica (1967) -- Arranjo sobre melodia de Frei Jesuíno Monte Carmelo (1764-1819), O anjo Esquerdo da História (1997 -- Poema de Haroldo de Campos), Vila Socó Meu Amor (1984, In Memoriam - Texto de Gilberto Mendes), e a obra "Ashtmatour" -- Texto de Antônio José Mendes, entre outras.
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Sobre
Ensemble Gilberto Mendes
Forma-se o Ensemble Gilberto Mendes a partir das comemorações do centenário do compositor, em 2022, com estreia no icônico Teatro Guarany, no dia 16 de outubro. O Grupo formado por músicos da Orquestra Sinfônica de Santos apresentou um repertório com obras inéditas do período de formação do compositor e com a estreia nacional de Slow Dance of Love, dedicada ao Het Spectra Ensemble. O Ensemble Gilberto Mendes nasce com a característica da pesquisa da música contemporânea nacional e na divulgação de novos compositores. Certamente diria Gilberto Mendes "como um itinéraire dos Trópicos". Uma continuidade de um trabalho que se renova nos fluxos e refluxos de nossa história.
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Integrantes: Antonio Eduardo (Piano), José Simonian (Flauta/Saxofone), Germano Blume (Clarinete/Clarone), Denise Yamaoka (Soprano), Ricardo Cardim (Regência), Alessandro, Ignácio (Trompete), Éder Crispim (Fagote), Fábio Ferreira (Contrabaixo), Jeff Moura (Violoncelo), Jonas Roberto de Oliveira (Saxofone), José de Carvalho (Saxofones), Lucas Crispim (Oboé), Lucas Moraes (Violino), Otavio Monteiro (Viola), Paula Souza Lima (Violino), Thiago Abdalla (Violão).
Coro Livre da Baixada
O Coro Livre da Baixada é um coro com integrantes oriundos de importantes grupos corais existentes na baixada santista como Coro Municipal do Guarujá, Zanzalá e Broadway Voices. Formado em 2021, o coro surgiu a partir de um projeto de música sacra paulista do período colonial brasileiro. O projeto chamado Capitania de São Vicente: a música colonial paulista nos caminhos do Mar foi apresentada em formato virtual, em função do estado de isolamento social, ocasionado pela pandemia da Covid-19. Sob a regência de Ricardo Cardim, o grupo tem como foco o repertório de música brasileira, erudita ou popular, tradicional ou contemporânea, mas se empenha também em divulgar a música coral de todos os lugares, na baixada santista e em outros cantos do Brasil.
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Integrantes: Ricardo Cardim (Regência), Denise Yamaoka (Preparadora vocal), Décio Carrion (pianista), Regente convidado: Maestro Roberto Martins.
Sopranos Cecília Bortoli, Crislaine Michelazzo, Gabriela Scorza, Nadja Paulino,Rita Curitola. Mezzosopranos: Andressa Farias, Andressa Thiemi, Carolina Colepicol, Denise Yamaoka, Raffaela Pereira. Tenores: André Estevez, Ásafe Soler, Fernando Sange. Baixos: Fabrício Leite, Inácio Moreau, Marcos Ouros, Matheus Leonel
Ficha técnica -- Concertos: Produção artística de Ricardo Cardim e Antônio Eduardo, produção executiva de Eugênio Martins Júnior, fotos de Daniel Yamaoka
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Gilberto Mendes e Música Nova
O movimento Música Nova, de grande importância na produção de Gilberto Mendes, surgiu em São Paulo no final dos anos 50, criado por um grupo de jovens compositores e músicos de São Paulo, que trabalhavam com a música aleatória, visual, concreta, com a nova notação musical, mixed media, tudo à luz das diretrizes europeias. Gilberto Mendes, um dos signatários do Manifesto Música Nova, publicado pela revista Invenção (São Paulo, 1963), porta voz da poesia concreta brasileira criada pelo poetas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.
O compositor santista se tornaria um dos pioneiros do vanguardismo e da renovação da linguagem musical brasileira criando obras experimentais, concretas, mixed media e teatro musical, o que o tornaria conhecido no Brasil e no exterior. Seu espírito é integracionista, fundindo e fazendo de tudo "uma geléia", como ele mesmo afirma. É desse modo que, às vezes, a sua música é absolutamente tonal e subitamente atonal, surpreendendo pelos procedimentos utilizados.
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