Santos

Oficina de bonecas africanas ensina jovens de morro de Santos sobre racismo e autoaceitação

Além de aprenderem a confeccionar a boneca, os participantes ainda falaram sobre racismo e autoaceitação

Da Reportagem

Publicado em 24/11/2022 às 13:57

Atualizado em 24/11/2022 às 14:05

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Os participantes ainda falaram sobre racismo e autoaceitação / Carlos Nogueira/ PMS

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Tesoura na mão, tecidos pretos, retalhos coloridos, alguns nós, um pouco de criatividade e pronto: nasce uma "abayomi", a boneca africana. Para conectar jovens do Município ao símbolo de resistência que marcou o período da escravatura no Brasil, foi realizada uma oficina do brinquedo na unidade Morro da Penha da ONG Pró-Viver, nesta quinta-feira (24).

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Além de aprenderem a confeccionar a boneca, os participantes ainda falaram sobre racismo e autoaceitação. "A história por trás das abayomis é uma lenda africana que diz que as mães faziam bonecas com pedaços das próprias roupas para distrair as crianças durante as viagens a bordo dos navios negreiros com destino ao Brasil, trazendo um pouco de alegria a elas", conta a responsável pela oficina, Gabrielle Regina Assis da Silva, também agente comunitária da unidade de saúde do bairro, um dos órgãos responsáveis pela ação, que integra o Mês da Consciência Negra.

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Segundo a profissional, a versão do brinquedo ensinada durante a oficina ainda é sustentável, pois é confeccionada com sobras de tecidos. Os 'corpos' já prontos que levou para a aula eram feitos em lycra preta que recebe de doação. E a chita colorida, utilizada pelos alunos para confeccionar as vestes das bonecas, vem de retalhos excedentes dos trabalhos na Policlínica do Morro da Penha. "Fizemos um painel de gestantes e reaproveitamos os materiais", explicou.

O segredo das abayomis é a técnica de amarração, que não envolve costura em nenhuma das etapas: um nó em cada extremidade do tecido e nascem as mãos, os pés e a cabeça da boneca. Nos turbantes, vestidos, camisetas e calças que Gabrielle ensinou a produzir, também são utilizados apenas criatividade e destreza para prender os tecidos.

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No começo da atividade, Letícia Abraão, de 12 anos, fez uma abertura muito grande no vestido, que passou direto pelo corpo da boneca e parou na mesa. Mas, depois, com o auxílio da professora, a menina pegou o jeito e fez uma bela abayomi em tecidos coloridos. "Foi bem legal, foi a primeira vez que eu fiz uma", comentou. Mas essa não foi a única parte da atividade que a garota aprovou. Os vídeos que foram passados pela agente, junto com um relato da própria, ensinaram mais à menina sobre racismo e autoaceitação. "É Importante para mostrar para as pessoas que todo mundo é perfeito e que a gente tem que se amar do jeito que é", afirmou Letícia.

O colega de turma, Renan de Assis, de 14 anos, também achou a temática interessante, "porque mostra uma coisa que acontece atualmente, todos os dias, em qualquer lugar, seja no trabalho, na escola, na rua. E é um problema que não é de hoje, mas que foi estruturado tempos atrás. E é sempre importante falar sobre isso", disse o menino.

DIVERSIDADES
Segundo Gabrielle, o objetivo da atividade não foi só reforçar a temática do racismo, da herança negra e da autoaceitação, mas ensinar os jovens a respeitar as diversidades e aproximá-los dos serviços de saúde ofertados pelo Município. "Às vezes eles têm um afastamento muito grande da unidade de saúde e essas ações acabam aproximando-os da gente, porque a população adolescente apresenta um acesso mais difícil do que as demais. Então é importante que a gente possa ocupar outros espaços além da policlínica", afirmou Gabrielle.

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O jovens que participaram da oficina frequentam o Programa de Educação para o Trabalho (PET), dos ministérios da Saúde e Educação, tocado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por meio do curso de Terapia Ocupacional, em conjunto com o Núcleo de Apoio a Saúde da Família (Nasf) da Prefeitura, e parceria da ONG Pró-Viver, que cede o espaço. O grupo, na faixa etária dos 10 a 14 anos, se reúne toda quinta-feira e discute temáticas relativas à saúde e à vida do jovem adolescente, como saúde mental, papéis de gênero, sexualidade, projetos de vida, entre outros.

ONG PRÓ-VIVER
A ONG Pró-Viver foi fundada em 1992, com o objetivo de modificar o quadro de miserabilidade em que se encontravam crianças e adolescentes moradores da região central de Santos, com o oferecimento de reforço escolar e cestas básicas. Com o passar dos anos, a instituição passou a promover outras atividades e ajudar um número maior de pessoas, chamando a atenção da Prefeitura de Santos, que firmou convênio com a entidade.

Hoje, a Pró-Viver conta com cinco unidades, onde atende a mais de 500 crianças, servindo mais de mil refeições por dia e oferecendo atividades ligadas a inúmeras áreas, como oficinas lúdico-pedagógicas, esportes, informática, dança, artesanato, educação, recreação, entre outras.

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