Alterações
Além de exigir uma postura mais humana, Raquel teria descoberto outros problemas no comando e por isso a mudança foi necessária
Segundo uma fonte dentro da Guarda Municipal, os comerciantes não precisavam ligar sequer para o número 153, bastando apenas enviar uma foto de pessoas deitadas em frente ao seus estabelecimentos para exigir a ação / PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS
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A informação é extraoficial, mas parte do comando da Guarda Municipal de Santos teria pedido exoneração após a nova Secretária Municipal de Segurança, Raquel Kobashi Gallinatti Lombardi, ter exigido uma mudança de posturas da Corporação, sendo a principal delas o fim da abordagem de pessoas em situação de rua ao acreditar que a ação não é de segurança e competência da GCM, mas da Assistência Social, por se tratar de saúde pública. A secretária já havia declarado publicamente não concordar com as abordagens de cunho higienista e as exonerações já foram publicadas no Diário Oficial do Município (DOM).
Além de exigir uma postura mais humana, Raquel teria descoberto outros problemas no comando e por isso a mudança foi necessária.
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Segundo uma fonte dentro da Guarda Municipal, os comerciantes não precisavam ligar sequer para o número 153, bastando apenas enviar uma foto de pessoas deitadas em frente ao seus estabelecimentos para exigir a ação da GCM.
Ainda no início da gestão da nova secretária, quando os exonerados estavam no Comando, o Diário chegou a flagrar ações higienistas por dois dias seguidos. Uma equipe da GCM usava de força excessiva para abordar e retirar pertences de pessoas em situação de rua. A Reportagem flagrou as duas ações no entorno do Gonzaga, nas ruas Goitacazes e Carlos Fonseca, sempre nas primeiras horas da manhã.
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O filme Colchão de Pedra, uma produção do Diário com a Universidade Santa Cecília (Unisanta), mostra claramente a situação que perdurava até pouco tempo atrás e foi sempre negada pela Comando da GCM de Santos, mesmo quando o filme servia de base para uma discussão, em outros veículos de comunicação, sobre pessoas em situação de rua.
Antes de deixar a pasta da Secretaria de Desenvolvimento Social de Santos e voltar a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores, Audrey Kleys, em entrevista ao Diário, já havia se manifestado sobre a luta contra o higienismo social: "É preciso que as pessoas compreendam que a legislação impede que pessoas sejam retiradas à força das ruas e que seus objetos sejam confiscados".
Audrey estava tentando montar uma forte rede de apoio e capacitação para as pessoas, com o objetivo delas resgatarem a autonomia e serem reinseridas no mercado de trabalho. Também estava tentando otimizar os equipamentos e serviços oferecidos pelo setor, principalmente em relação à assistência às pessoas em situação de rua da Cidade, que aumentaram muito em função da pandemia de Covid 19.
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Audrey Kleys, enquanto secretária, buscava combater esses problemas, entendendo que em muitas vezes a raiz do problema é mais de saúde pública do que social.
"Essas pessoas vivem em sofrimento. Muitas vezes, até durante os surtos, quando ficam violentos, os funcionários do desenvolvimento social têm dificuldades em atender. Estou reforçando a necessidade da atuação, em parceria conosco, dos profissionais da área da saúde, que têm a experiência em lidar com essas situações-limite", revelava.
Procurada, a Prefeitura de Santos nega categoricamente que a GCM tenha realizado ou esteja realizando "abordagens de cunho higienista".
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A secretária Raquel Gallinati reafirma sua posição contrária a qualquer ação higienista ou ilegal. Ela esclarece que não houve uma mudança no padrão de atuação da GCM, mas sim um reforço nas ações direcionadas à identificação de possíveis criminosos entre as pessoas em situação de rua, respeitando a legalidade e garantindo a preservação da dignidade humana.
Raquel Gallinati também ressalta que o efetivo da GCM continuará prestando apoio às ações das secretarias de Desenvolvimento Social, Saúde, e de todas as pastas que solicitarem a colaboração da Seseg.
Em relação aos pedidos de exoneração, a Seseg informa que a GCM permanece sob o comando do comandante Ronaldo Pereira Pinto, que atualmente está em férias. A Secretaria esclarece que ocorreram mudanças pontuais na corporação, todas realizadas de forma voluntária, com as exonerações solicitadas sendo devidamente acatadas.
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Por fim, a Seseg declara desconhecer as denúncias mencionadas e assegura que a GCM continua a dar apoio às polícias civil e militar, garantindo total segurança aos guardas municipais.
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