Mães e pais fizeram questão de acionar a Reportagem em frente ao galpão que, segundo contam, não tem condições de abrigar uma escola / Nair Bueno/DL

Imagine colocar seus filhos em uma escola improvisada, com paredes tipo drywall separando as classes dentro de uma galpão abafado, com grades externas vulneráveis a uma ação de violência, em frente a uma avenida de tráfego intenso de veículos pesados - caminhões e ônibus - durante praticamente todo o dia.

Pois é isso que a Prefeitura de Santos quer fazer com cerca de 700 alunos do Ensino Fundamental, residentes na Zona Noroeste, enquanto não conclui a reforma da Unidade Municipal de Educação (UME) Oswaldo Justo, no bairro Chico de Paula, que começou em 2019, ao custo de R$ 2 milhões.

Diante da situação, na última segunda-feira (13), a Reportagem do Diário do Litoral foi acionada por pais e mães dos estudantes, em frente ao galpão do prédio que servirá de escola. Eles vão acionar o Conselho Tutelar e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).

O imóvel já foi supermercado e loja de construção. Ele fica na Avenida Nossa Senhora de Fátima, perto do viaduto da entrada da Cidade. Os operários ainda estavam trabalhando no prédio quando a Reportagem chegou.

Yasmin de Lima Dantas afirma que o galpão ainda tem rachaduras, fios expostos, janelas internas que não permitem renovação do ar. "Não adianta dois ventiladores nas salas porque conduzem ar quente. Só terá ar-condicionado na sala da diretora e na recepção do prédio. Já disseram que vão distribuir 'quentinhas' às crianças porque a cozinha não vai ficar pronta até o início das aulas, previsto para o próximo dia 23. Não quero isso pro meu filho", desabafa.

Os pais revelam que ainda há problemas na caixa de água e nos muros que envolvem o prédio. Jailson dos Santos, pais de três crianças, está preocupado com as enchentes comuns na região. "Se chover, não tem aula porque esse prédio sempre fica isolado pelas águas. Além disso, essas grades na frente não impedem que uma pessoa entre e pegue uma criança", explica.

Luiz Carlos da Conceição lembra de bombeiros usando caiaques para tirar pessoas quando o prédio ainda era um supermercado e depósito de material de construção. "Enchia tanto que não tinha outra alternativa".

Daniele Santana Sena, mãe de três alunos, disse que a adaptação do prédio deveria ter iniciado bem antes e a reforma da UME Oswaldo Justo, que foi feita com as crianças em aula, sem a menor segurança. "Depois, a desculpa foi a pandemia. Agora, a maioria das crianças não tem condição de estudar de forma remota. Além disso, é um risco enorme o tráfego de veículos em frente ao prédio. E as janelas das salas dão para dentro do galpão. Pode isso?".

Uma mãe mais exaltada gritou para a Reportagem: "escola não é depósito de criança". Waldenice dos Santos Marceonilo, conhecida como Nice e Nicinha, tem imagens internas e externas do prédio. "O que está sendo feito é uma maquiagem. Vaporizadores de água não irão funcionar. O prédio não serve para as crianças e nem para os funcionários. Eu já estive na Secretaria da Educação reclamando e neste prédio olhando tudo. Sem condições", finaliza.

ACIONADA.

A vereadora Débora Camilo (Psol) esteve no prédio improvisado. "Mesmo após reforma para adequar o lugar, a estrutura ainda não é suficiente para abrigar os estudantes e profissionais da Educação. São salas pequenas, com pouca ventilação e apenas uma janela. Não há ar-condicionado e o barulho dos ventiladores improvisados dificultam ainda mais o trabalho. Os ares-condicionados que estão no local estão apenas onde funciona a coordenação, mas deveriam estar disponíveis para todas as salas de aula", constatou.

Em agosto de 2021, a Prefeitura, em um novo anúncio, havia garantido que as obras da UME Oswaldo Justo durariam oito meses apenas. A escola, localizada na Rua Ana Santos, 125, atende 715 alunos do Maternal II à Pré-Escola e do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Ela receberia uma nova cobertura, um sistema de proteção contra descargas atmosféricas (para-raios) em toda a unidade, entre outras benfeitorias.

PREFEITURA.

A Secretaria de Educação (Seduc) de Santos esclarece que ampla reforma na UME Oswaldo Justo teve início no ano passado e agora, na etapa final, é necessário o esvaziamento do prédio para o reparo de todo o telhado do bloco do Ensino Fundamental e outras melhorias.

Sabendo desta necessidade, a Seduc buscou um local para ser alugado, próximo da unidade, que irá abrigar os estudantes durante a conclusão da reforma. No entanto, o dono do imóvel não conseguiu entregar a edificação com as adequações necessárias (obra particular, a cargo do locatário) antes do início do ano letivo - ou seja, o espaço está sendo devidamente adequado para abrigar as aulas, conforme já informado aos pais e responsáveis pelos alunos.

"A pasta foi informada de que a sede provisória para as aulas será entregue nos próximos dias. Somente durante este período (até a entrega da sede provisória), os estudantes serão atendidos pelo ensino remoto - mesmo método adotado quando todos os estudantes da UME Oswaldo Justo completaram a grade curricular durante a pandemia", afirma a Prefeitura.

Sobre o questionamento acerca de alagamentos, a Prefeitura destaca que vem investindo em obras de macrodrenagem na região e que, neste momento, alagamentos são pontuais - ou seja, alguns trechos ficam temporariamente cheios quando chove com muita intensidade e há alta da maré - problema que será sanado após a conclusão das obras.

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