Santos
Jenifer Pavani, funcionária do equipamento público e pessoa com deficiência visual, é responsável pelo primeiro contato com aqueles que procuram a unidade para a prática esportiva
Jennifer perdeu boa parte da visão devido a complicações de diabetes / Divulgação/PMS
Continua depois da publicidade
Quem chega pela primeira vez à Escola de Surfe Adaptado, no posto 3, no Gonzaga, se sente estimulado a participar das aulas, independentemente de medos ou inseguranças causados por alguma deficiência. Esse incentivo é dado por Jenifer Pavani, funcionária do equipamento público e pessoa com deficiência visual, responsável pelo primeiro contato com aqueles que procuram a unidade para a prática esportiva.
"Aqui é o lugar mais inclusivo que existe, pois eles não visam teu potencial de atleta, mas a sua qualidade de vida e sentir o quanto o mar te transforma", conta ela, que chegou à escola quando foi inaugurada, em 2020, por convite do coordenador do projeto, Cisco Araña. "Eu trabalhava no Centro de Memória Esportiva Museu Devaney, no Rebouças, e tinha contato com atletas veteranos e o Cisco era um deles. Ele sempre me encontrava e perguntava por que eu não pegava onda. E eu respondia: 'Poxa, mal consigo me equilibrar normalmente, imagine em cima de uma prancha'. E ele me dizia que tinha gente que era cega e que conseguia surfar", lembra Jenifer.
Continua depois da publicidade
Pouco antes do início das atividades na Escola de Surfe Adaptado, Cisco fez o convite de trabalho, mas que vinha com uma condição: ela não poderia apenas cuidar da parte administrativa da unidade e incentivar as pessoas para a inclusão. Jennifer teria que encarar o desafio de praticar o surfe.
"Minha mãe falava que isso era loucura. Eu tinha essa curiosidade de surfar desde antes de me tornar PCD (Pessoa com Deficiência), mas nunca tive coragem. Já fui bailarina, já fui velocista, mas nunca tinha me imaginado numa prancha depois de perder a visão", conta. Jennifer perdeu boa parte da visão devido a complicações de diabetes. Hoje, ela tem cegueira total no olho esquerdo e apenas 8% de visão na vista direita. Aos 25 anos, um médico queria aposentá-la por invalidez, mas ela, recém-formada em Pedagogia, recusou a proposta, passando, tempos depois, em um concurso público na Prefeitura.
Continua depois da publicidade
SOBRE AS ONDAS
No primeiro dia de aula, a funcionária pública já conseguiu subir na prancha adaptada e, com o apoio dos técnicos, teve um bom desempenho que a levou a tomar outra decisão: "Esse é o esporte que eu quero para minha vida. É uma conexão muito incrível. Se alguém tem dúvida da existência divina, estar no mar mostra que Deus existe. Te faz um bem não só físico, mas mental e espiritual. E se você tem algum medo ali, eles todos desabam quando você acredita que é possível", comemora.
"Ela é uma pessoa inteligente, muito querida e amável e é um ícone da escola. É importante para nós termos uma pessoa com qualquer tipo de deficiência e a Jennifer é muito especial. Além de fazer tudo por nós e atender os alunos, ela é um exemplo para ele e ajuda muita gente", afirma Cisco.
Continua depois da publicidade
"O surfe mudou tudo na minha vida. Principalmente porque eu tenho contato com pessoas com grandes histórias aqui. Muitas vezes, a gente se queixa da vida e de repente falta um pequeno detalhe: você olhar para o lado. E aqui os profissionais te dão suporte e a conquista não é só sua. É deles também. Você se sente conectada não só com o esporte, mas com as pessoas envolvidas nele", finaliza Jenifer.
Continua depois da publicidade