Santos

Forte calor é agravado por falta de árvores

"Santos prioriza veículos e comércio à árvores", afirma urbanista

Carlos Ratton

Publicado em 11/12/2023 às 07:30

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Carriço lamenta que os canais não possuem circuito adequado para pedestres que querem sombra / Igor de Paiva

Continua depois da publicidade

A dificuldade para respirar e caminhar durante o forte calor que vem tomando conta de Santos nos últimos dias tem uma forte aliada: a falta de árvores na cidade. 

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.


Recentemente, o vereador Benedito Furtado (PSB) até postou em suas redes sociais a necessidade da Secretaria Municipal do Meio Ambiente elaborar e pôr em prática, urgentemente, um plano humanizado de arborização das vias públicas. Segundo ele, a falta de árvores nas ruas e avenidas santistas contribui bastante para o efeito estufa que toma conta da Cidade.   

A Reportagem foi atrás de um especialista no assunto. Ouviu o arquiteto urbanista, professor universitário e pesquisador do Observatório das Metrópoles José Marques Carriço. 

Em entrevista, ele afirma que Santos, infelizmente, possui um projeto urbanístico que prioriza veículos e comércio ao invés de árvores. “Parece que, para o santista, árvores atrapalham tudo: carros, telefonia, rede elétrica, comércio, ciclovia, enfim. A árvore se tornou uma inimiga”, dispara.    

Carriço detectou que a maioria das ruas em que casas se tornaram pequenos comércios adotou guias rebaixadas para cumprir a legislação e oferecer estacionamento. 

“O novo comerciante quebra o muro e cria estacionamento em frente ao imóvel que, por sua vez, exige guia rebaixada, não tendo mais espaço para árvores”, explica. 

Ele exemplifica: “na recém inaugurada Rua Azevedo Sodré, que custou R$ 6 milhões do Governo Estadual, não se pensou em espaço para árvores. Restou a opção em frente aos muros divisórios entre um imóvel e outro. É só concreto. E suas calçadas estreitas o pedestre tem quase que invadir a rua para não bater no poste ou no pedestre que vem em sentido contrário”.     

Carriço ainda lembra que postos de gasolina em Santos deveriam ter uma entrada e uma saída e não ter guias rebaixadas por toda sua área operacional que, mesmo os canais, como o Três, que possuem árvores, as calçadas não são próprias para caminhadas. 

Outra questão: “nos locais em que foram retiradas árvores, a população está plantando por conta própria, sem orientação. Há casos na própria Avenida Washington Luiz (Canal 3), próximo da praia, que na mesma cova tem três ou quatro tipo de espécies, o que e um absurdo. Pois além de prejudicar o desenvolvimento das espécies, não fazem sombra e viram esconderijos de ratos”.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Calor e umidade aceleram amadurecimento e preço da banana cai 13% no Ribeira

• Onda de calor provocou aumento histórico no consumo de energia elétrica no Brasil, diz CCEE

• Calor extremo: cresce atendimentos e internações de crianças e de idosos por desidratação

RESISTENTES. 

O especialista lembra que árvores ideais para Santos são as que resistem a alta salinidade e que as suas raízes não quebrem as calçadas. As das espécies chapéu de sol são boas para a orla, que tem espaço, mas não para os canais, que têm calçadas estreitas e acabam ajudando o assoreamento com a queda das folhas.

“As calçadas dos canais que têm sombras não têm circuito de pedestres. Além disso, as árvores brigam com a fiação elétrica e de telecomunicações. As árvores ainda são deformadas com podas equivocadas.

ZONA NOROESTE.

O urbanista vê com muita gravidade os bairros da Zona Noroeste, que praticamente não têm árvores por conta das calçadas estreitas. Também revela que os “loteamentos feitos lá para fins habitacionais também não contemplaram árvores. Há lugares que mal tem calçadas, quanto mais árvores”. 

Por fim, revela outro problema fora da questão de circulação, mas sim, de convivência e permanência. “Santos perdeu praças e áreas verdes. O Boqueirão perdeu duas praças. O Campo Grande, bairro com a maior densidade demográfica da Cidade, não tem praças. A Ponta da Praia foi planejada sem paisagismo arbóreo. Não dá mais para se pensar igual às décadas de 60 e 70. Nossa mente tem que estar voltada para os efeitos climáticos e trabalhar um plano de mobilidade que contemple árvores”. 

Continua depois da publicidade

PREFEITURA.

Procurada, a Prefeitura de Santos informa que a cidade é uma das mais arborizadas do Brasil, com cerca de 35 mil árvores de 120 espécies. Este ano, de janeiro a setembro, já foram plantadas quatro mil, com meta de cinco mil, a ser alcançada até o fim de dezembro. No ano passado, foram quatro mil novas mudas.  

Salienta, porém, que árvores são retiradas por motivos diversos como: risco de queda por abalroamento de veículos, problemas fitossanitários irreparáveis, desestabilização causada por eventos climáticos extremos, obras várias (licenciadas) e obras particulares (rebaixamento de guia para construção de garagens). Em 2022, foram 375 remoções e, em 2023, foram 525 remoções até agora.

Por fim, garante que está em andamento a elaboração do Plano Municipal de Arborização Urbana a cargo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam), o qual vai abranger o manejo e o incremento da arborização na Cidade. 

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software