Famílias que se sentem ameaçadas ou lesadas têm apoio da Justiça / Nair Bueno/DL
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"Meu filho foi torturado", assim define Cláudia Lima, mãe de Vinícius Souza Lima, uma das pessoas mortas durante a Operação Escudo. Assim como ela, familiares e amigos de outras vítimas se reuniram em frente ao Palácio da Justiça, em Santos, para protestar contra o abuso policial durante as incursões nas comunidades.
O pedido é só um: "justiça". Não só nos cartazes e no grito de guerra, mas no cotidiano de quem vive em locais vulneráveis da Região. "Eu sei que não vai trazer meu filho de volta, mas eu quero que eles parem com isso. É muito inocente morrendo por causa de coisas que a gente não tem nada a ver", implora Cláudia.
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Segundo ela, no momento da ação policial, o filho estava voltando da casa da namorada. "Ele tinha ido buscar o presente dele. Ele tinha feito aniversário um dia antes. Fez 20 anos", conta com a voz embargada. Cláudia ainda teme pela vida do filho mais novo, de 17 anos. "Eu não sei o que pode acontecer. Sai todo dia para trabalhar e temo em deixar ele sozinho", lamenta.
A advogada Ana Marques também pede para que a violência policial cesse. Esposa do motoboy Evandro, que foi abordado no José Menino e baleado com dois tiros. "Ele estava trabalhando como motoboy, dentro da sala de apoio deles, e a polícia chegou. Eu só sei o que ocorreu pelo boletim de ocorrência. Disseram que ele estava com uma arma e que ele não teria soltado esta arma. E aí, atiraram nele", conta. Evandro está internado na UTI da Santa Casa, ainda correndo risco de vida. "A gente conseguiu a liberdade provisória dele e estamos esperando ele voltar para casa. Assim vamos correr atrás da justiça", explica.
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Quando questionada sobre o que acha da Operação Escudo, Ana foi categórica: "é matar primeiro e perguntar depois. Quando pergunta e a resposta é que tem antecedente, é passe livre para a morte. Esta é a impressão que eu tenho", comenta. A advogada ainda explica que o marido tinha antecedente, mas estava em processo de ressocialização. "Ele estava trabalhando. Quem faz esta ressocialização é a família, não o Estado. Ele é um pai de família, trabalhador, por conta da família que tem por trás dele, não por conta do Estado", lamenta.
A vereadora de Santos, Débora Camilo (PSOL), esteve presente na manifestação e falou sobre a importância deste tipo de ato. "Não poderia deixar de estar presente. Este ato denuncia a Operação Escudo, que já deixou mais de 30 vítimas na Região. A gente não tolera mais este tipo de violência. A gente sabe dos diversos atentados que os policiais sofreram, mas o que a gente espera é que o Estado busque os responsáveis e não aja de forma vingativa", comenta.
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Débora, que também moram em comunidade, sentiu na pele o que foram os dias de operação na Baixada. "Eu moro em um dos bairros do Saboó, no dia da operação em que buscavam suspeitos de fazer um atentado contra uma policial, eu estava lá. 8 horas da manhã, um número exorbitante de policiais, com tiroteio. Eu vivenciei de alguma forma e recebi muitas denúncias de abuso de autoridade, sobre a falta de amparo que estas pessoas estão tendo", conta a vereadora.
As famílias que se sentem ameaçadas ou lesadas têm apoio da Justiça. A parlamentar explica o caminho a ser seguido nestes casos: "Primeiramente, procurar a Defensoria para poder se informar, o Ministério Público e os organismos de Direitos Humanos. É importante se respaldar. Muita gente acaba tendo medo de denunciar porque não é incomum que estas pessoas sofram ameaças. Coloco o gabinete à disposição para poder auxiliar também", finaliza.
A Operação Escudo foi encerrada pelo governo do Estado de São Paulo na última terça-feira. 28 civis foram mortos durante a ação policial que ocorria desde o final de julho. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), foram presas 958 pessoas nos 40 dias de operação.
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