Santos
Com a experiência de 47 anos acompanhando as transformações no Porto de Santos, Antonio Carlos Fonseca Cristiano pede providências à Antaq
Antonio Carlos Fonseca Cristiano afirma que os estrangeiros "estão dominando" portos em Pernambuco e em Santa Catarina / Igor de Paiva/DL
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Com a autoridade de quem acompanhou todas as metamorfoses que aconteceram no cais santista nos últimos 47 anos, Antonio Carlos Fonseca Cristiano está preocupado com o aumento da influência de armadores estrangeiros nos portos brasileiros. Presidente da Marimex Inteligência Portuária em Logística Integrada, uma das empresas mais tradicionais em Santos, com atuação no cais desde 1927, Antonio Carlos chega a afirmar que os estrangeiros “estão dominando” portos em Pernambuco e em Santa Catarina. E o executivo cobra providências da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) no sentido de evitar a predação de empresas nacionais.
Crítico da chamada verticalização no comércio internacional, Antonio Carlos cita que os armadores estrangeiros “se sentem superiores” aos operadores locais: “Em todos esses anos, enfrentamos muitos embates na Justiça para continuar existindo e empregando gente, santistas e brasileiros. Nunca pisamos em ninguém, sempre tivemos a disposição de trabalhar honestamente”, resume Caio, como o empresário é mais conhecido pelos 1.300 funcionários que emprega.
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“A gente mantém nossa posição. Perdemos até alguns serviços para os armadores, mas os clientes estão voltando porque eles sabem que me esforço 100%. Temos solução para tudo”, salienta o presidente da Marimex, que administra uma área alfandegada com mais de 100 mil metros quadrados e desembaraça 5% de todos os contêineres que transitam pelos portos brasileiros, recolhendo R$ 4 bilhões em impostos federais a cada ano.
Gigante, a Marimex exerce seis atividades ligadas ao cais, mesmo sem ‘ter o pé na água’. Nesse pacote de soluções integradas em logística, a empresa atua no despacho aduaneiro, nos transportes rodoviários em todo Mercosul, na gestão dos departamentos de importação e exportação de 19 empresas multinacionais e no agenciamento de fretes para clientes na Europa, Ásia e América do Norte. A Marimex também mantém armazéns gerais alfandegados e provê soluções em informática.
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E tudo isso é administrado em um prédio próprio com 5.500 metros quadrados no bairro do Macuco. “Lá atrás eu decidi: ‘não vou ter navio, mas vou ter caminhão para levar tudo que chega no navio’”, explica o empresário, que dispõe uma frota própria de 300 caminhões, a maior em veículos da Mercedes Benz no Porto.
Mas, essa relação com o Porto começou na juventude, quando Caio se viu obrigado a assumir sozinho os negócios do pai aos 27 anos, ainda na década 1970: “Tive de arregaçar as mangas e aprendi a ser homem. Hoje, todo mundo gosta de trabalhar aqui. Quem saiu, elogia a empresa”.
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CIA DOCAS DE SANTOS.
Nessa jornada, o engenheiro e administrador ressalta, com reverência, a memória da Companhia Docas de Santos (CDS), que administrou o Porto de 1886 até 1980, quando foi substituída pela estatal Companhia Docas do Estado de São Paulo, a Codesp.
Segundo Caio, a CDS foi muito importante para o desenvolvimento da Cidade e de seus moradores: “A Companhia Docas de Santos dava lucro. De 11 mil funcionários que ela tinha, hoje não tem nem mil. Eram 200 quilômetros de trilhos no Porto, hoje são só 100”.
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Crítico do modelo de desestatização do Porto na década de 1990, Caio lamenta que Santos tenha tido pouca representatividade política. Isso, na avaliação do presidente da Marimex, dificultou a correção de rotas ditadas por Brasília: “Os deputados federais passam por aqui, mas pouco conhecem sobre Porto. E, para corrigirmos uma ideia mal vendida, leva tempo. É triste”.
“MINHA VIDA VAI MUDAR”.
Depois de décadas ocupando uma área alfandegada com espaço equivalente ao de dez campos de futebol, entre a Bacia do Mercado e a Bacia do Macuco, Caio foi convocado a ‘ajudar’ o Porto de Santos.
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E, em 31 de agosto de 2023, o empresário assinou a permuta dessa área por outra, na entrada da Cidade. A mudança permitirá a construção da chamada ‘pera ferroviária’, que facilitará a manobra dos trens no cais santista.
Em troca, a Marimex recebeu uma área um pouco menor, mas Caio não se importa. Com ânimo de adolescente, ele já entrou no imóvel cedido à empresa, onde erguerá um novo terminal. O investimento previsto: R$ 300 milhões.
A obra deve ficar pronta só no final de 2026. No pacote, um armazém em ferro fundido e aço, erguido em 1892, que Caio terá de restaurar: “Não tem uma ferrugem. Precisa ver que coisa bonita...”.
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