Emergenciais
O conjunto arquitetônico formado por salas de aula, orfanato, capela e oficinas profissionalizantes foi inaugurado em 1908
Escolástica Rosa / Diário do Litoral
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Por meio de nota enviada na tarde de ontem ao Diário do Litoral, o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CPS) afirmou que “encerrou as atividades nas instalações do antigo edifício localizado no bairro Aparecida” por “determinação da Procuradoria do Trabalho”. Responsável pela Escola Técnica Estadual (ETEC) Dona Escolástica Rosa e pelo campus Rubens Lara da Faculdade de Tecnologia (Fatec), que durante décadas formaram alunos nos ensinos médio e superior, o CPS afirmou ter investido R$ 2,2 milhões em obras emergenciais de manutenção no imóvel ao longo de dez anos.
Ainda de acordo com o Centro Paula Souza, “o prédio pertencente à Santa Casa de Santos necessitava de restauração para continuar a ser utilizado”. Porém, conforme a nota enviada pela autarquia ligada à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, “como a Santa Casa não concordou em custear as obras, a alternativa para o CPS foi transferir as aulas da ETEC para outro local”.
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O conjunto arquitetônico formado por salas de aula, orfanato, capela e oficinas profissionalizantes foi inaugurado em 1908 e formou gerações de santistas nos primeiros cursos técnicos do Brasil.
Antes mesmo da inauguração, a Irmandade da Santa Casa de Santos, já concluía o processo de contratação dos funcionários que iriam ‘tocar’ o projeto de João Octávio dos Santos. Tanto o pessoal da área administrativa como o corpo docente foram selecionados entre “pessoas com idoneidade e experiência profissional”. Um regimento interno garantia, inclusive, mercado de trabalho para os alunos, na própria instituição.
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Cursos, como os de Carpintaria Naval, Desenho Profissional, Eletrotécnica, Mecânica e Marcenaria foram algumas das disciplinas técnicas que nortearam os estudos nas primeiras décadas do antigo Instituto Dona Escholástica Rosa. A ideia de João Octávio era que esses jovens contribuíssem para o progresso da Cidade.
Nas férias, o colégio santista abrigava alunos de ensino técnico de todo o Estado, funcionando como uma colônia educativa e de lazer, algo que voltou a acontecer no final do século 20 através do programa Interior na Praia, mas com viés mais turístico que educacional.
Durante o regime do ex-presidente Getúlio Vargas (1930/1945) o Estado resolveu intervir no Escolástica Rosa. Em 1933, o interventor (governador indicado) Armando Sales Oliveira decidiu assumir a administração do complexo educacional. E implantou no local uma escola secundária mista, para meninas e meninos, no local que, um dia, fora a chácara de João Octávio, onde corria o Rio Conrado, aterrado para construção do conjunto arquitetônico.
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Apesar da intervenção do Estado, o legado do filho bastardo da negra escravizada resistiu até 1981. Naquele ano, o orfanato que funcionava no limite com a área da atual ETEC Aristóteles Ferreira foi definitivamente fechado.
Nas décadas seguintes, a decadência do ensino público se intensificou. E a degradação do conjunto arquitetônico com 17 mil metros quadrados se acentuou.
O Estado permaneceu no imóvel por 86 anos, até agosto de 2019, quando saiu definitivamente, entregando o imóvel de volta à Santa Casa de Santos.
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O Diário do Litoral procurou a Santa Casa na semana passada e o provedor Ariovaldo Feliciano chegou a agendar uma entrevista para a última sexta-feira. Mas, o encontro acabou desmarcado devido a um “imprevisto”. A Assessoria de Comunicação do hospital prometeu “reagendar” a entrevista.