DOCUMENTÁRIO
Obra uniu o jornalista Carlos Ratton, o cineasta Tony Valentte e estudantes de comunicação social da Universidade Santa Cecília estreou ontem (20)
O documentário Colchão de Pedra estreou nesta terça-feira (20) / Nair Bueno/ DL
Continua depois da publicidade
Tal qual Jorge Amado na década de 30 com seus 'Capitães da Areia', Tony Valentte, Carlos Ratton, e uma equipe de jovens jornalistas da Baixada Santista se reuniram com o objetivo de mostrar, em um litoral não muito diferente do baiano, a miséria e a incapacidade de muitos de saber lidar com a existência da mesma em um Brasil que sofre de problemas desastrosamente similares a aqueles existentes quase 100 anos atrás neste mesmo país.
Ao contrário do livro do autor modernista brasileiro, entretanto, o grupo caiçara não usa de personagens fictícios e utiliza o audiovisual para contar histórias infelizmente muito reais de pessoas que precisam dormir todos os dias em um 'colchão de pedra', assim como o nome do documentário que estreou ontem (20) na Baixada Santista.
Continua depois da publicidade
Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.
Se a obra de Jorge Amado deixou uma marca que impressionou e emocionou milhões de leitores com personagens humanos e facilmente imagináveis, o documentário 'Colchão de Pedra' não requer imaginação de seus espectadores, uma vez que as imagens mostram a nua, dura e crua realidade facilmente encontrada nas ruas de dezenas de bairros da Baixada Santista.
Continua depois da publicidade
"Durante todo o tempo que eu observei, fazendo reportagens, fiz várias matérias sobre isso, então eu fui vendo cada vez mais, em Santos, a arquitetura higienista crescendo e aí eu descobri a violência do Estado através da Guarda Municipal, de tirar as pessoas da rua, dos locais onde eram indesejáveis pra sociedade santista e jogar em qualquer lugar. Da linha para trás do VLT é um critério, pro outro lado é outro. Durante todo o percurso do documentário fui descobrindo coisas assim, depoimentos de moradores de rua e técnicos que podem ser vistos no filme. O negócio é muito maior do que se imagina", afirma Carlos Ratton.
O tema de Colchão de Pedra, que uniu o cineasta Tony Valentte, o jornalista Carlos Ratton, e dezenas de estudantes de comunicação social da Universidade Santa Cecília, se dá em torno da aporofobia.
O termo, que foi utilizado, e difundido, pelo padre Júlio Lancellotti durante campanha realizada em 2021, que culminou com o sacerdote destruindo blocos de paralelepípedos instalados nos trechos inferiores de viadutos na Capital paulista, pela gestão do então prefeito Bruno Covas (PSDB), representa a aversão a todos os seres humanos que são pobres.
Continua depois da publicidade
"Ao realizar esse trabalho eu mudei completamente. Você começa a conhecer a história individual de cada um, e a gente entrevistou muitas pessoas, pessoas que não se conheciam, e você começa a falar com pessoas que estão na rua, com problemas psicológicos, problemas familiares, dependência, embora não tenha tanto dependente como a gente pensa que 'é só drogado', não, tem gente com necessidades totais. Então assim foi um um novo aprendizado e um novo olhar e vai ser importante pra quem possa assistir. As pessoas também vão ter esse novo olhar e vão tratar com mais dignidade essas pessoas e ajudá-las, por exemplo, eu não sabia que eles sentem muita sede, por quê? Porque eles não tem acesso a água. Então, hoje quando eu vou trabalhar, eu saio com duas garrafas de água pra oferecer pra quem eu encontrar", explica Valentte.
Na versão online do Dicionário Aurélio, a aporofobia tem como definição: 'aversão a pobres que se expressa pelo preconceito e pela discriminação contra pessoas pobres ou desfavorecidas economicamente'. Pelo Brasil, se acumulam cada vez mais casos de arquitetura higienista, prática essa que tem como objetivo dificultar a utilização de espaços públicos diversos por pessoas em condição de rua para dormir e/ou descansar. Este é um dos principais focos da obra.
"Ao realizar esse trabalho eu mudei completamente. Você começa a conhecer a história individual de cada um, e a gente entrevistou muitas pessoas, pessoas que não se conheciam, e você começa a falar com pessoas que estão na rua, com problemas psicológicos, problemas familiares, dependência, embora não tenha tanto dependente como a gente pensa que 'é só drogado', não, tem gente com necessidades totais. Então assim foi um um novo aprendizado e um novo olhar e vai ser importante pra quem possa assistir. As pessoas também vão ter esse novo olhar e vão tratar com mais dignidade essas pessoas e ajudá-las, por exemplo, eu não sabia que eles sentem muita sede, por quê? Porque eles não tem acesso a água. Então, hoje quando eu vou trabalhar, eu saio com duas garrafas de água pra oferecer pra quem eu encontrar", explica Valentte.
Continua depois da publicidade
"Eu estou no primeiro ano da faculdade e esse trabalho pra mim foi sensacional porque eu venho de área pobre mesmo, área excluída pela pelo poder público, e comecei a faculdade por isso mesmo, para dar voz às pessoas que não estão sendo escutadas e esse documentário é muito importante", afirma Kayky Zeferino de Mattos, um dos alunos que produziu o documentário.
Continua depois da publicidade