Disqueria fechará as portas da loja física na próxima quinta-feira / Igor de Paiva/DL
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'Sentimento ligeiro de tristeza sentido por alguém, pela lembrança de eventos ou experiências vividas no passado; saudades ou tristeza por algo ou alguém que já não existe mais ou que já não possuímos mais'. É ao menos assim que o dicionário Michaelis descreve o significado da palavra nostalgia. E, ao atravessar pela última vez a porta de entrada da Disqueria, uma das mais tradicionais e antigas lojas de LPs, CDs, livros e HQs da Baixada Santista, é exatamente esse o sentimento que nos inunda ao mesmo tempo que os olhos são contemplados por tanto material que marcou as últimas sete ou oito décadas: saudades. Saudades daquilo que ainda está na nossa frente, mas que muito em breve passará a não estar mais.
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A 'magia' de uma das lojas mais antigas de Santos já se inicia ao empurrar a porta do estabelecimento e ouvir o sino que toca acima de nossas cabeças. No interior, gente, muita gente. E discos, muitos discos. Esse cenário, infelizmente, tem prazo de validade e essa data indigesta será na próxima quinta-feira, dia 29 de fevereiro.
Aberta e administrada por Wagner Parra e Cláudia Chellotti, a Disqueria tem décadas de idade: 38 anos para ser mais preciso. Essa 'filha' tão querida por tantos caiçaras perdeu um dos seus pais, Wagner, em 2015, quando ele passou mal e, desde então, vinha sendo cuidada apenas por Cláudia. Neste mês, entretanto, ela tomou uma decisão importante.
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"Desde que o Parra morreu, ela tá há nove anos tocando a loja sozinha e ela tem 65 anos, ela precisa descansar, se aposentar, ela só vai fechar a loja física. O negócio, a Disqueria vai continuar existindo online. Então, ela só vai fechar a loja física, não é que acabou. Por quê? Porque a loja física, demanda dela fisicamente, a impossibilita de viajar, ela não consegue ir na praia, ela não consegue fazer nada, ela vive pra loja", afirma Luiz Fernando Almeida, ator e produtor cultural que vem auxiliando Cláudia na loja.
"Aqui tem um acervo de aproximadamente 30 mil discos e CDs, muita coisa. Então ela cataloga, ela precifica, ela carrega caixa, então assim, ela quer ter um pouco de qualidade de vida, não tem nada errado, a loja se paga, não dá prejuízo. E aí, pensando nisso, ela demorou pra tomar essa decisão, mas aí tomou a decisão de encerrar as atividades da loja física porque também hoje tudo é digital", complementa.
Com vasto catálogo de HQs, livros, DVDs, VHS e discos que vão desde música clássica de orquestras japonesas a até clássicos latinos e do leste europeu, a Disqueria contém obras de todas as décadas existentes e é possível fazer uma viagem no tempo digna de 'De Volta para o Futuro' ao passar disco por disco nas inúmeras prateleiras do local.
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"O Wagner Parra, ele era o maior colecionador de disco de música latina e de reggae do país. Então, por exemplo, quando a gente abriu na segunda-feira (19) tinha muita coisa e os caras vieram que nem lobos em cima levando essas coisas, mas aqui você tem disco de R$ 2 e discos de R$ 2 mil, R$ 3 mil", explica Luiz.
Hoje atuando como vendedor na loja, Pedro Paulo Rodrigues começou a relação com a Disqueria sendo cliente e logo se tornou amigo dos donos.
"É um pouco difícil. Eu entendo a posição dela, esse cansaço. Eu trabalho aqui faz muitos anos, eu tenho uma relação muito forte com esse espaço, então também tô processando ainda, sabe? Eu fico muito feliz pela Cláudia no sentido de que foi uma decisão que ela tomou e que assim está sendo feito e ela vai poder, de fato, descansar, fazer uma uma nova fase. A gente tem outras lojas de disco no Gonzaga, a gente tem alguns pouquíssimos sebos, que restaram, mas não existe lugar como aqui no sentido da organização, sabe?", explica Pedro.
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Amiga de Cláudia, Daniela Silveira de Salvi explica que o fechamento da Disqueria representa uma mudança de etapa.
"Não é a mesma coisa né, porque as pessoas vinham aqui. A gente sentia que era algo cultural da Cidade. Todo mundo se encontrava, falava sobre os eventos que estavam acontecendo na Cidade e a Cláudia e o Vagner eram pessoas que atraíam. Eles eram o coração da loja, né? Então, todo mundo tá triste".
Ela, inclusive, não foge de polêmica ao ser questionada se a Disqueria era a melhor loja de discos da Região.
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"Pra mim é, mas eu sou muito suspeita pra falar porque tem muita variedade essa questão e também você vem olhar o disco, aí você acaba olhando um livro também. Pra mim, pessoalmente, depois do Torto, foi um dos locais que mais frequentei e que fez parte da nossa Cidade", concluiu.
A Disqueria ficará aberta até 19h da próxima quinta-feira (29) na Avenida Conselheiro Nébias, 850, mas a loja virtual já está aberta e pode ser acessada no https://disqueria.mercadoshops.com.br/.
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