Santos

Diário lança nesta segunda 'Feridas do VLT', da série Diário de Um Repórter

A impressão é que promoveram interdições de ruas e avenidas sem atentar para necessidades mínimas de locomoção

Carlos Ratton

Publicado em 10/06/2024 às 06:15

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A vibração oriundas da movimentação de máquinas, veículos pesados e canteiros de obras deixaram fissuras imensas / Nair Bueno/DL

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O Diário do Litoral lança nesta segunda-feira (10), às 17 horas, Feridas do VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), nova grande reportagem audiovisual dentro do projeto Diário de Um Repórter. Ela pode ser acessada livremente no site e nas redes sociais do jornal.

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Na primeira semana de junho, venceu o prazo dado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), para que técnicos da Prefeitura de Santos e da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) apresentem soluções para os problemas de infraestrutura urbana no entorno das obras da 2ª fase do VLT.

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O prazo foi estipulado em 15 de maio pela promotora pública Almachia Zwarg Acerbi, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema). Feridas do VLT mostra o martírio de moradores e comerciantes que vivem e trabalham no entorno do Mercado Municipal, no Centro de Santos, cenário semelhante a um pós-bombardeio, no meio de uma guerra.

Enquanto isso, trabalhadores da empreiteira do VLT vêm tentando, de forma quase que instintiva, colocar de pé um projeto do Governo do Estado e do Município que, mesmo bem-intencionado, vem causando 'feridas que deverão ser de difícil cicatrização', pelo menos para cerca de 80 moradores e 10 comerciantes do bairro Paquetá.

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Iniciado em abril de 2015, com 11,5 quilômetros ligando o Terminal Barreiros, em São Vicente, à Estação Porto, em Santos, o VLT da Baixada Santista, pelo menos no novo trecho em obras da Avenida Conselheiro Nébias à região central de Santos, vem proporcionando situações inimagináveis.

Na região do entorno do Mercado Municipal, o ambiente é desolador, insalubre e perigoso. Em certos pontos, fere até os direitos humanos. Moradores e comerciantes têm que viver sob imóveis escorados. No trecho da Rua Doutor Cochrane, entre as ruas Bitencourt e São Francisco, no bairro do Paquetá, fachadas inteiras de casas geminadas e comércios, dos dois lados da rua, descolaram do restante dos imóveis sendo escoradas por vigas de ferro para não desabar.

A vibração oriundas da movimentação de máquinas, veículos pesados e canteiros de obras deixaram fissuras imensas, infiltrações, destruíram ligações elétricas, hidráulicas, geraram desníveis perigosos e muita poeira e destruição.

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A impressão é que promoveram interdições de ruas e avenidas sem atentar para necessidades mínimas de locomoção e funcionamento do comércio e moradores. Muitos têm dificuldades para entrar em suas casas. No interior delas, a visão e a sensação é de desespero para quem entra pela primeira vez.

Marceneiros trabalham sem espaço sob vigas que seguram o teto. Mecânicos não tem como entrar e sair com os veículos que, um dia, deixaram para consertar. Fruteiros trabalham assustados por conta de possíveis desabamentos, enquanto carregam e descarregam mercadorias. Donos de bares e outros pequenos comerciantes, sem qualquer voz e assistência, vivem por entre vigas de ferro que mantém os imóveis de pé.

Há também moradores de cortiços e famílias inteiras vivendo sob poeira, barulho, sujeira e tudo de ruim que obra mal planejada pode oferecer. Ratos, baratas e toda espécie de bicho procuram espaço para se proteger.

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A sensação é de espera de uma tragédia já há meses anunciada, em pleno centro da Cidade, bem longe dos bairros nobres em que o VLT é fotografado como o suprassumo do transporte público. O Ministério Público do Estado de São Paulo abriu inquérito e tenta diminuir o sofrimento e os impactos das obras que parecem não ter fim.

"A gente precisa olhar pra essa população Que tá sofrendo demais. Tem lugares que são refeitos cinco, seis vezes. Parece uma obra de fundo de quintal. Eu tenho esperança de ainda sensibilizar o Governo do Estado, porque a Prefeitura de Santos eu já desisti. O Ministério Público não está interferindo no traçado. Está defendendo uma sociedade que não aguenta mais sofrer pelo descaso", afirma Almachia.

Problemas

Na Rua Campos Mello, para implantar o novo sistema de escoamento de águas pluviais, tiveram que cortar o asfalto e retirar a terra. Retroescavadeiras foram utilizadas e afetaram a estrutura dos imóveis por conta das vibrações que continuarão com a passagem dos trens do VLT.

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Diferente do anunciado, rede elétrica subterrânea será implantada somente em alguns pontos e estações já estão sendo colocadas em locais errados, atrapalhando moradores e comerciantes. Faltam baias de estacionamento para carga e descarga.

São 1.838 imóveis no percurso do VLT e mais 900 imóveis transversais afetados pelas obras. Somente 909 serão periciados. Há informações que não houve vistorias cautelares em todos e nem atentaram quanto à presença de sítios arqueológicos no percurso.

O Governo do Estado já gastou cerca de R$ 30 milhões com desapropriações de aproximadamente 32 imóveis somente na área central de Santos. Ao todo, até agora, já foram cerca de R$ 935 milhões.

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Tudo em nome da implantação da segunda linha, iniciada em julho de 2020, que terá apenas oito quilômetros de extensão e 12 estações. Ao ser totalmente concluído, o VLT deverá contar com 27 quilômetros de extensão, além de 31 estações. A entrega final está prevista para 2027.

EMTU

Procurada, a EMTU diz que os imóveis no entorno das obras do VLT passaram por vistoria antes das intervenções e serão reconstituídos a sua condição original pela construtora responsável.

Disse que o laudo que garante a continuidade das obras no local foi aprovado pela EMTU e encaminhado para validação da Prefeitura de Santos. A empresa responsável pelas obras mantém diálogo regularmente com moradores e comerciantes sobre os trabalhos realizados.

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Além disso, que as intervenções e interdições são estudadas em parceria com a Prefeitura de Santos e previamente informadas à população com o detalhamento das ações previstas e as datas de início e término dos trabalhos, por meio de comunicados físicos e eletrônicos.

O secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos de Santos, Wagner Ramos, disse que alguns problemas já foram pontuados e reconhece que há desconforto em alguns pontos de alagamentos e de escoamento de águas em direção à área do Porto de Santos. Ele vai realizar novas vistorias.

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