Estrada Caminho do Mar abriga diversidade ambiental, patrimônio histórico e vista panorâmica da Baixada Santista / Rodrigo Montaldi/DL
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Por Daniela Origuela
“Essa é a estrada que Roberto Carlos fala na música”. Empolgado com mais uma viagem, o motorista do micro-ônibus relata as belezas da primeira ligação rodoviária entre São Paulo e a Baixada Santista, que inspirou a canção “Nas curvas da Estrada de Santos”. Desativada em 1985, a via chamada Caminho do Mar reúne patrimônio histórico e a diversidade da Mata Atlântica. Localizado no interior do Parque Estadual Serra do Mar, o roteiro turístico atrai centenas de visitantes, que têm a oportunidade de apreciar a Baixada Santista do alto e de conhecer o caminho percorrido por Dom Pedro I rumo ao grito de independência.
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“Há quatro anos faço as rotas de turismo e a que mais gosto é a Caminhos do Mar por causa da vista que temos aqui do alto e da natureza. Sempre falo para o pessoal que foi por aqui que Roberto Carlos passou com o seu calhambeque”, disse o motorista Marcos Godoy. Ele presta serviços para o programa Roda São Paulo, do Governo do Estado, que oferece roteiros turísticos pelo valor de R$ 10,00.
A Reportagem seguiu viagem pelo Caminho do Mar no interior do ônibus do Roda São Paulo. Da janela, passando pelas curvas destacadas por Roberto Carlos, os passageiros observam as belezas da estrada. Cachoeiras, cursos d’água, flores, aves, árvores e a arquitetura das instalações que serviam de pontos de parada para os motoristas que utilizavam a via no sobe e desce Santos-São Paulo/ São Paulo-Santos.
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“Adorei a ideia de fazer esse passeio que une o contato com a natureza e a nossa história. Sou professora e fazemos muitos passeios por pontos históricos. Vou aproveitar essa vivência de hoje em sala de aula, porque para falar da história do município temos que falar da nossa região”, destacou a professora Dalva Correa Doria. Ela estava acompanhada dos dois filhos de 11 e 13 anos. A docente leciona em escolas públicas de Guarujá.
História
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A viagem segue. As curvas se acentuam. Já é possível ver algumas cidades da Baixada Santista pequeninas lá embaixo. O ônibus passa ao lado da tubulação de água que desce a serra. Os passageiros comentam. O coletivo chega na primeira parada do roteiro do dia, a Casa de Visitas, localizada quase no limite de Cubatão com São Bernardo do Campo. Um monitor do Parque Estadual Serra do Mar está à espera do grupo. Antes de a neblina encobrir a vegetação e tornar esfumaçado o cenário verde, os visitantes aproveitam para fazer fotos.
Acomodados no interior da Casa de Visitas, os turistas ouvem as explicações do monitor, que ao lado de uma enorme maquete explica o funcionamento da Usina Henry Borden, construída em 1926, e da importância da preservação dos rios e da Mata Atlântica.
“Essa é a segunda vez que venho aqui. A primeira subi a pé. Adoro fotografar insetos, pássaros e flores. Achei a oportunidade muito interessante”, afirmou o fotógrafo Ivan Souza, de São Vicente.
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Monumentos
A próxima parada é o Pouso de Paranapiacaba. O prédio construído em 1922 funcionava como ponto de parada para motoristas que trafegavam pelo Caminho do Mar. No interior dele, numa espécie de varanda, o visitante tem uma das mais belas visões da Baixada Santista. A neblina que encobria a serra não permitiu que os visitantes apreciassem o cenário. “Aqui funcionava como posto de auxílio às pessoas que utilizavam a estrada. A primeira viagem para São Paulo durou 36 horas. Essa foi a primeira estrada pavimentada do Brasil”, explicou um dos monitores. A via foi pavimentada com concreto em 1920 e marcou o início da era do automóvel em São Paulo.
Os visitantes chegam na Calçada de Lorena. O caminho construído em 1792 para ligar o litoral à capital paulista foi utilizado por D. Pedro I para ir de Santos às margens do rio Ipiranga proclamar a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822. Mais uma pausa para fotos.
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Antes de chegar ao final do passeio, que durou aproximadamente três horas, os passageiros dos micro-ônibus de turismo ainda puderam apreciar mais um atrativo histórico. Uma outra espécie de ponto de descanso para motoristas. O prédio tem sanitários, inclusive uma banheira antiga, e preserva a arquitetura da época em que foi construído.
O conjunto de monumentos do Caminho do Mar foram construídos em 1922, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Eles foram tombados pelo Condephaat em 1972.
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Palmito juçara: a necessidade de preservação
O passeio é acompanhado pelo gestor do Núcleo Caminhos do Mar, Newton de Oliveira Peres. Em uma das paradas, mais precisamente no caminho em que Dom Pedro I passou, ele fez questão de falar aos visitantes do trabalho desenvolvido pelo Parque Estadual Serra do Mar, em especial sobre a necessidade de preservação de espécies nativas da Mata Atlântica, como o palmito juçara.
“O palmito juçara alimenta cerca de 70 espécies de animais. Cada uma delas dispersa semente de formas diferentes. O tucano e o araçari comem do próprio pé e regurgitam a semente ali.
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Tiram a polpa e a semente já está apta de germinar no pé da palmeira. Tem outros animais que caminham de cinco a oito quilômetros na mata e carrega a semente que vai germinar em outro ponto”, explicou Peres, que é formado em tecnologia ambiental.
O gestor do núcleo ressaltou o plantio de mudas do juçara no interior do parque. “Pedimos para algumas empresas que precisam cumprir requisitos exigidos pelas agências de meio ambiente que parte do plantio que requisitado seja de palmito juçara, uma espécie muito importante para a Mata Atlântica”. Quando o palmito é retirado, a árvore é perdida.
Há oito anos atuando no Parque Estadual Serra do Mar, Peres se diz um apaixonado pela natureza. “Nasci na borda do mato. Temos que conscientizar. Muitas pessoas não sabem a função das plantas na Mata Atlântica. Acham que é apenas mato. Temos que explicar a função delas na natureza e que não está ali por acaso”, destacou.
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Roteiro é um dos mais procurados do Roda SP
A guia de turismo Neide Soares atua pela quarta vez no Roda São Paulo. Acostumada ao roteiro Caminhos do Mar, ao longo da viagem, explica aos passageiros detalhes do passeio, que é um dos mais procurados do programa, e da história do local.
“Fazemos paradas nos monumentos, mas durante a viagem já vou explicando para eles o que vão encontrar. A maioria que faz essa rota às vezes nem sabe que isso aqui existe”, explicou Neide.
A coordenadora do programa Roda São Paulo, Ana Cristina Clemente, destacou que o roteiro Caminhos do Mar é um dos mais concorridos da iniciativa. “Esse e o de Bertioga são os mais procurados. Acredito que o Caminhos do Mar seja muito procurado porque o passeio só pode ser feito mediante agendamento com o parque. No caso do Roda SP, a pessoa compra o bilhete pela internet ou nos postos fixos sem a necessidade de agendar e paga apenas R$ 10,00”.
O programa Roda São Paulo está em sua sexta edição na Região. O projeto segue até o próximo dia 5 de março. Mais informações sobre roteiros e pontos de venda de ingressos no site www.rodasp.com ou pelo telefone 0300-7770745.
Parque Estadual Serra do Mar – Núcleo Caminhos do Mar
Como visitar?
É necessário agendamento prévio por telefone ou e-mail, com no mínimo 10 dias de antecedência. O agendamento só será efetivo após o pagamento e envio do comprovante de pagamento. Solicitações feitas por e-mail devem conter nome completo, CPF ou CNPJ, quantidade de pessoas, data desejada e telefone com o DDD. O visitante deve aguardar confirmação por telefone ou e-mail, quando será enviado um código de acesso (este código de acesso só será disponibilizado após o envio do comprovante de pagamento). O código será solicitado na chegada e é a comprovação do agendamento. Sem o código o visitante não terá acesso a Unidade de Conservação.
Quanto paga?
O ingresso custa R$ 28,00. São isentos da taxa os visitantes abaixo dos 12 e acima dos 60 anos. Estudantes possuem direito a meia entrada, ou seja, R$ 14,00.
Como chegar?
Por São Bernardo, pela Rodovia SP-148, estrada Caminho do mar, km 42. Por Cubatão, pela Rodovia SP-148, estrada Caminho do mar, km 51, junto à Refinaria Presidente Bernardes.
Mais informações, acesse.
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