A rota pelo Canal do Panamá é responsável por aproximadamente 10% do comércio global / Divulgação
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A restrição imposta à navegação no Canal do Panamá está ajudando o Brasil. Vítima de uma seca histórica causada pelo fenômeno El Niño, o atalho que interliga os oceanos Atlântico e Pacífico se viu obrigado a limitar o tráfego de navios, deixando os portos da costa leste dos Estados Unidos sem uma conexão economicamente viável com a Ásia. Sem a rota estratégica através do Mar do Caribe, os Estados Unidos estão deixando de embarcar milho e soja para China, Japão e Coreia do Sul, e abrindo espaço para os grãos brasileiros. Pior, com os recentes ataques a navios cargueiros no Mar Vermelho, os exportadores norte-americanos perderam até a rota alternativa para atingir a Ásia. Assim, em janeiro os portos brasileiros devem registrar uma alta de até 66% nos embarques de milho. Nas projeções iniciais do mercado, eram previstas três milhões de toneladas. Na prática, serão exportadas perto de cinco milhões de toneladas do grão brasileiro só neste mês.
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Esse aumento se deve à vantagem estratégica de os navios com escala no Brasil pouco utilizarem o Canal do Panamá devido à proximidade do País com as rotas de navegação pelo sul da África. E daí para a Ásia.
Enquanto isso, os navios carregados na costa leste norte-americana precisam contornar toda a América do Sul para, depois, cruzar todo o Pacífico para chegar à China, ao Japão e à Coreia. E isso aumenta o custo do frete, reduzindo a competitividade dos grãos colhidos em estados como Oklahoma, Tennessee, Arkansas, Mississipi, Missouri, Iowa, Georgia, Louisiana e Alabama, que tinham a opção de saída, também pelos portos do Golfo do México.
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A rota pelo Canal do Panamá é responsável por aproximadamente 10% do comércio global, mas atende importantes fornecedores globais de alimentos. Com o baixo volume de água e as restrições, os navios estão ficando até três semanas parados para conseguir atravessar o atalho.
A alternativa para os navios que partem da costa leste norte-americana e do Golfo do México seria a navegação pelo Mediterrâneo, atravessando o Canal de Suez, no Oriente Médio, até atingir o Mar Vermelho. E, daí, partir para a Ásia através do Oceano Índico.
O problema é que essa rota se tornou extremamente perigosa com a ofensiva dos Houthis, grupo xiita radicado no Iêmen. A tensão entre Israel e a Palestina provocou a faísca que levou a bombardeios recentes dos Houthis a cargueiros no Mar Vermelho. Desde que os ataques começaram, o preço do frete marítimo disparou.
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SANTOS SURFA A ONDA.
E os números de janeiro mostram que o Brasil já está aproveitando a vantagem sobre os norte-americanos. Para o milho, a projeção inicial era a exportação de três milhões de toneladas em janeiro, mas dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) apontam que o Brasil já embarcou 3,7 milhões de toneladas de milho nos primeiros 22 dias do mês.
Esse aumento nas vendas externas se deve ao fato de que o comprador de grãos calcula o valor final, que é a soma do preço do grão na origem com o frete até o porto de destino.
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Nesta semana, 31 navios operaram simultaneamente no Porto de Santos, na média, de segunda a quarta-feira. Destes, três embarcavam milho e um operava com soja. Isso significa que 13% dos berços de atracação com navios no costado estavam carregando grãos.
TEMPO X ESPAÇO.
Mais perto da Ásia, os portos de Santos e Paranaguá também oferecem prazo de entrega mais curto, o que significa uma outra importante vantagem estratégica. Partindo daqui e navegando pelo sul da África, as embarcações com escala no Brasil 'economizam' até três semanas de mar frente aos portos norte-americanos.
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Desde o início da seca histórica, a Autoridade do Canal do Panamá vem procurando adotar medidas para minimizar os prejuízos, que somam o equivalente a R$ 3,4 bilhões só no 'pedágio' cobrado dos navios que utilizam o atalho. Informações reveladas nas últimas semanas pela agência do governo panamenho mostram uma queda de 20% no volume de cargas.
Com a seca, o Canal tem operado com água de chuva retirada dos lagos artificiais Gatún e Alhajuela, que também foram impactados pelo El Niño.
A falta d´água obrigou o Canal a reduzir o trânsito para 32 embarcações por dia a partir de julho de 2023, a fim de manter o Lago Gatún em um nível que ofereça um calado competitivo.
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Depois, o número de embarcações passou para 20 por dia. Agora, até 1º de fevereiro, apenas 18 navios têm atravessado o Canal a cada 24 horas. A administração do atalho artificial deve publicar um novo aviso à navegação nos próximos dias definindo novos limites para os próximos meses.
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