No navio, lideranças sindicais foram presas e torturadas em 1964, após golpe cívico-militar que gerou uma ditadura que durou 21 anos no País / REPRODUÇÃO
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Nesta quarta-feira (24), às 19 horas, como ocorre todos os anos, no ponto de embarque das barcas para Vicente de Carvalho, atrás da antiga Alfândega, no Centro de Santos, será realizado, pelo Comitê Popular de Santos por Memória, Verdade e Justiça - Sítio de Consciência "Raul Soares, Nunca Mais", um ato em lembrança do navio-prisão Raul Soares. Os organizadores querem que seja instituído uma programa municipal sobre tema.
Também nesta quarta, a jornalista, advogada e professora Universitária, Lídia Maria de Melo, autora do livro 'Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós' - uma referência na literatura sobre o tema, fala sobre a situação dramática envolvendo o navio-prisão no Podpovo. O programa será exibido a partir de quinta-feira (25), no site e demais plataformas do Diário do Litoral.
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Na inocência de sua infância, Lídia, junto com sua mãe, Mercedes Gomes de Sá e duas irmãs (uma recém-nascida), acompanhou o sofrimento de seu pai, Iradil Santos Mello, preso por ser diretor do então Sindicato dos Operários.
Também haverá o relançamento do livro "Sobrevivi ao Raul Soares - Memórias de uma época sombria", de Lucas Vasques e Fellipe R. Vasques, escrito a partir do relato de Osmar Alves de Campos Golegã, trabalhador portuário preso e torturado no navio.
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O navio é considerado uma sombra que paira sobre a Baixada Santista até hoje e que não deve ser esquecida. Nele, lideranças sindicais foram presas e torturadas em 1964, após golpe cívico-militar que gerou uma ditadura que durou 21 anos no País.
Na Câmara de Santos, foi instituída uma Comissão da Verdade, que iniciou um importante trabalho, mas que foi desativada. O Programa Municipal de Memória, Verdade e Justiça foi encaminhado em dezembro ao Legislativo, mas só teve apoio de quatro parlamentares.
A ideia é incluir o Programa no calendário oficial de Santos, que seria iniciado todo o dia 24 de abril, dia da chegada do navio-presídio. Prevê a demarcação de todos os lugares de memória, que têm identidade com a repressão política, com a resistência cultural, com as lutas por liberdades democráticas, incluindo onde desapareceram e morreram os resistentes e onde foram violados os direitos humanos.
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Além do ponto de embarque do navio, a Cadeia Velha, o Primeiro Distrito Policial, a Casa em que funcionava o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), o Centro dos Estudantes de Santos, a Casa da família Rubens Paiva e o Sindicato da Administração Portuária
Também o Sindicato Operário Portuário, o Sindicato dos Estivadores, o Cemitério da Areia Branca, o Colégio Canadá, o Sindicato dos Metalúrgicos, o Sindicato dos Petroleiros, a Sociedade Humanitária e a Bacia do Macuco, além do Hospital dos Estivadores.
Os organizadores também querem que logradouros públicos, que hoje são nomeados por ditadores, torturadores e pessoas comprovadamente ligadas a repressão política, sejam renomeados com homenagens a pessoas que contribuíram de forma relevante para combater a ditadura.
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Ainda que seja criada uma Seção no organograma da Prefeitura de Santos, com a nomenclatura Seção Memória, Verdade e Justiça, que ficará vinculada à Secretaria de Educação e será responsável por desenvolver cursos, materiais didáticos e outras iniciativas para promover as necessárias políticas públicas sobre o tema.
E um Memorial onde hoje funciona o Armazém Oito 8, ao lado de onde ocorre o "Sítio de Consciência Raul Soares".
Lembram, por fim, que o Brasil é signatário das principais convenções sobre direitos humanos existentes e o Direito à Memória, a Verdade e a Justiça são conceitos fundamentais neste campo.
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As comissões desempenham um papel crucial na busca pela verdade e memória das vítimas e seus familiares. No entanto, ainda há desafios na redemocratização plena do país, especialmente em relação à responsabilização dos culpados pelo regime ditatorial no País e à garantia desses direitos fundamentais.