Bairro registrou aumento populacional nos últimos anos. / Fotos: Isabela Carrari/PMS
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Há cerca de 70 anos nascia, de uma pequena comunidade carente, o bairro Areia Branca, a quem rendemos homenagens no mês de julho. Um lugar onde todos se conhecem, de muitas histórias, memórias e resiliência. Localizado na Zona Noroeste de Santos, teve sua origem no final da década de 1940, após a inauguração da Rodovia Anchieta e a consequente expropriação dos moradores da Alemoa que beiravam a nova estrada.
Oficializado em 1968, o bairro recebeu este nome por causa de suas areias claras, da necrópole construída em 1953 e numa tentativa de retirar os apelidos pejorativos como “Coreia” por conta da Guerra das Coreias em 1952, associada à violência do bairro à época, e “Gonzaguinha”, em alusão ao luxo do Gonzaga.
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Com característica residencial, abriga o Cemitério da Areia Branca, o primeiro grande empreendimento da Prefeitura na Zona Noroeste, inaugurado em 1953, pelo então prefeito Ezequiel Feliciano da Silva, no meio de uma gigantesca comunidade, na época, com cerca de sete mil moradores. Conhecido como o principal ponto de referência da população local, ocupa quase 10% do território. Com 48 mil metros quadrados, conta com 17.246 sepulturas e 19.079 ossuários.
O cemitério ganhou fama por abrigar os mausoléus do Soldado Constitucionalista e da Polícia Militar. Além disso, lá estão enterrados o menino Onofre, falecido em 1956, a menina Condília Rosa dos Santos, morta em 1961, e a menina Dulcinéia de Souza, falecida em 1971, a quem se atribuem centenas de milagres, segundo os moradores do local.
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O bairro tem uma particularidade única: é cheio de ruas tortuosas, estreitas e compartilhadas (sempre se cruzam). Hoje, são niveladas para o trânsito conjunto de pedestres, ciclistas e motoristas, orientados por sinalização de solo e de placas. Tem como pontos característicos, além do cemitério, o Estradão (prolongamento da Avenida Afonso Schmidt) e as praças Professor Nicanor Ortiz e Júlio Dantas. Possui comércio com supermercados, padarias, farmácias, entre outros. O local teve acesso a muitas políticas públicas, principalmente na década de 1970, e passou por muitas transformações até chegar à atual configuração, de bairro estruturado.
Há 32 anos, com um comércio na Praça Professor Nicanor Ortiz, a sergipana Maria Marlene Oliveira, 63, dona de uma banca de jornais, escolheu a Areia Branca para ganhar o seu sustento. “Tenho o meu negócio aqui e conheci e conheço muita gente boa deste bairro. É um lugar tranquilo e muito residencial”, disse.
Ela estava acompanhada do senhor Renato Thiago dos Santos, aposentado de 83 anos, que mora no Centro de Santos, mas não esquece da Areia Branca. “Venho aqui quase todos os dias pegar meu jornalzinho e contar minhas histórias para a Marlene. Este bairro me traz muitas recordações. Vinha sempre jogar bola nos campos de areia branca, na década de 50, participar dos bailes e quermesses. Tinha muitos amigos, que acabaram fixando moradia aqui", relatou o saudoso aposentado.
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Nilma Oliveira Braga, aposentada, 71 anos, conta que foi no bairro que criou seus filhos e netos. “Viemos pra cá na década de 70 realizando o sonho da casa própria, pois morávamos de aluguel na Vila São Jorge e aqui na época era o lugar mais barato. Vimos que teríamos a oportunidade de construir nossa moradia num lugar calmo e tranquilo. Criei meus três filhos aqui, hoje crio meus seis netos e sou muito feliz. Não troco este lugar por nada”, disse, logo após a aula de ginástica que pratica duas vezes por semana na zeladoria do bairro.
A Areia Branca registrou aumento populacional devido ao crescimento imobiliário dos últimos dez anos. Surgiram condomínios verticais na área conhecida como Estradão (Avenida Manoel Ferramenta Júnior e "Sambódromo" na Avenida Afonso Schmidt). É no bairro onde se encontra o Centro Cultural, com quadras poliesportivas e salas que atendem a diversas modalidades recreativas.
A moradora Isabel de Goes Siqueira, 66 anos, aposentada, nasceu e viveu toda sua vida no bairro e tem boas lembranças da época em que ainda era jovem. “Eu era menina moleque, jogava bola com os vizinhos, corria tudo isso aqui. Não tinha uma praça, era tudo rua de areia e mangue”, relembra a moradora. Quando alguém queria ir para a “cidade” (forma como os moradores denominavam a região central e da orla), tinha que pegar o bonde que passava na Avenida Nossa Senhora de Fátima.
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Isabel rememora o Matadouro Municipal, que existia na região onde hoje funciona o Sesi. “Ficava um cheiro horrível no bairro todo, hoje isso aqui é uma delícia”, conta, revelando também que é festeira. Ela sempre participou do desfile de carnaval, desde a época em que era realizado na orla da praia, e agora curte bem do ladinho de casa.
Há quase 30 anos na região, a autônoma dona Marluce da Costa Sena, tem uma história curiosa. Ela veio de Iati, município de Pernambuco para poder ganhar dinheiro e “voltar para sua cidade cheia da grana”, como gosta de dizer. No entanto, após um mês em Santos, na Areia Branca, conheceu seu marido e os planos foram alterados. “Cheguei aqui e fui recebida na casa do meu tio, morei com ele até me casar. Depois fui morar no Campo Grande e, após meu tio ficar viúvo, fui convidada a voltar a morar com ele. Meu marido e eu ficamos lá durante cinco anos, juntamos dinheiro e comprei a minha casa, também aqui”, fala com entusiasmo a pernambucana. Sua paixão pela região é tão grande que ela diz não trocar por nenhum outro lugar da Cidade. “Aqui tem carnaval, é calmo, conhecemos todo mundo. É uma delícia viver na Areia Branca”.
ASSISTÊNCIA E INVESTIMENTOS
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A Areia Branca atualmente tem cerca de sete mil habitantes assistidos, no que diz respeito à saúde, pela Policlínica Areia Branca. Um dos destaques do bairro é o Carnaval de Santos. A Passarela Dráuzio da Cruz, localizada na Avenida Afonso Schmidt, recebe os desfiles das escolas de samba. O bairro também abriga a biblioteca Dr. Silvério Fontes e o Centro Cultural Esportivo da ZNO e tem as unidades municipais de educação Anízio Bento, Claudia Helena dos Santos Oliveira Corrêa, Professor José de Sá Porto e Samuel Augusto Leão de Moura.
O bairro está em constante melhoria e recentemente recebeu serviços de drenagem, pavimentação e construção de passeio nas vias Cassimiro Giulio, Francisco Lourenço Gomes, Flamínio Levy e na Praça Nicanor Ortiz. O Cemitério da Areia Branca vai ganhar uma Capela Ecumênica e está em andamento a confecção do novo Marco Rodoviário Santos-São Vicente, conhecido como Monumento dos Tambores, inaugurado em janeiro de 1968 no bairro. A nova peça continuará no canteiro central da Avenida Nossa Senhora de Fátima, mas será reposicionada no cruzamento com a Francisco da Costa Pires, a poucos metros de onde se encontra atualmente. Os tambores foram dispostos de forma a indicar os quatro pontos cardeais e a direção Santos-São Vicente.
O bairro também foi beneficiado com a execução das obras na entrada da Cidade (Zona Noroeste) e da Estação Elevatória EEC7, para evitar alagamentos. O sistema tem uma estação elevatória, um canal e uma comporta na parte aterrada do mangue.
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