HACKER

Hacker Delgatti é condenado a 20 anos de prisão por invasão de contas da Lava Jato

Cabe recurso da decisão do juiz.

MARCELO ROCHA - FOLHAPRESS

Publicado em 21/08/2023 às 20:48

Atualizado em 01/03/2024 às 10:31

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O hacker disse que foi procurado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) com a promessa de um emprego / Lula Marques/ Agência Brasil

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A 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília condenou nesta segunda-feira (21) Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, a 20 anos de prisão, mais multa, pelo caso da invasão do Telegram de autoridades, em 2019.

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A decisão é do juiz Ricardo Augusto Soares Leite, que condenou ainda outras seis pessoas. Os crimes atribuídos ao hacker são os de invasão de dispositivo informático, organização criminosa, lavagem de dinheiro e interceptação de comunicações.

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Cabe recurso da decisão do juiz.

Delgatti foi preso em 2019 na Operação Spoofing por suspeita de invadir contas de autoridades no Telegram, entre elas de integrantes da força-tarefa da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro, responsável pelos julgamentos em Curitiba.

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As mensagens trocadas com o ex-procurador Deltan Dallagnol mostraram uma relação alinhada entre Ministério Público e juiz, o que foi decisivo para a derrocada da operação, anos depois.

Delgatti admitiu à PF que entrou nas contas de procuradores da Lava Jato e confirmou que repassou mensagens ao site The Intercept Brasil, que revelou o caso posteriormente conhecido como Vaza Jato.

O hacker depôs na semana passada na CPI do 8 de janeiro e na Polícia Federal, ocasião em que acusou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de participar de ações para atacar a Justiça Eleitoral e de tramar contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

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A reportagem procurou a defesa de Walter Delgatti, e o advogado dele, Ariovaldo Moreira, disse que ainda precisa analisar a decisão para se manifestar. O réu está preso desde junho sob suspeita de invadir, no ano passado, também o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), supostamente em combinação com a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP).

Segundo disse o juiz na sentença desta segunda, a Polícia Federal afirmou que, somando as vítimas que estavam sendo interceptadas, tanto do celular de Walter, quanto de seu computador, "chegou a um total de 126 vítimas do crime de interceptação indevida de comunicações".

"No momento de sua prisão, Walter estava realizando a interceptação indevida de comunicação de ao menos 43 pessoas, com o acompanhamento das conversas em mensagens privadas de suas vítimas no momento em que ocorriam", diz trecho da sentença.

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O magistrado, na sentença, afirmou que Delgatti tem culpabilidade elevada, "já que seus ataques cibernéticos foram direcionados a diversas autoridades públicas, em especial agentes responsáveis pela persecução penal, além de diversos outros indivíduos que possuem destaque social, bastando verificar as contas que tiveram conteúdo exportado".

Também mencionou o "exibicionismo de suas condutas ilícitas" e criticou afirmação dele de que o crime foi uma "ajuda ao povo brasileiro".

Quando as primeiras mensagens vieram à tona, em 2019, o site Intercept informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo.

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Moro e Deltan sempre repetem que não reconhecem a autenticidade das mensagens, mas que, se verdadeiras, não contêm ilegalidades. Os diálogos, entre outros pontos, mostraram que o então juiz indicou testemunha que poderia colaborar para a apuração sobre o hoje presidente Lula (PT), orientou a inclusão de prova contra um réu em denúncia que já havia sido oferecida pelo Ministério Público

Federal, sugeriu alterar a ordem de fases da Lava Jato e antecipou ao menos uma decisão judicial.

Segundo o Código de Processo Penal, "o juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes" se "tiver aconselhado qualquer das partes". Já o Código de Ética da

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Magistratura afirma que "o magistrado imparcial" é aquele que mantém "ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito".

Em 2020, as mensagens hackeadas, que estavam sob responsabilidade da Vara Federal, foram liberadas pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski à defesa de Lula. Trechos dos diálogos dos procuradores foram usados pelos ministros da corte para invalidar o uso em processos judiciais do acordo de colaboração da Odebrecht, um dos principais da Lava Jato.

Em 2021, trechos dos diálogos também foram lidos por Lewandowski e por seu colega Gilmar Mendes para fundamentar votos que consideraram a atuação de Moro parcial em relação a Lula. Essa medida acabou anulando provas e sentenças contra o atual presidente na Lava Jato e permitiu que ele disputasse a eleição presidencial de 2022, na qual foi vitorioso.

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Moro hoje é senador pela União Brasil-PR.

Nesta segunda, após a divulgação da sentença, Moro e Deltan comentaram a condenação.

"O herói da esquerda foi condenado a mais de 20 anos de prisão pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, invasão de dispositivos informáticos e realização de interceptações telefônicas sem autorização judicial. A esquerda está bem de heróis, hein?", escreveu Deltan nas redes sociais. O ex-procurador se elegeu deputado federal pelo Podemos-PR no ano passado, mas teve o mandato cassado em maio deste ano.

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Moro, com quem o hacker bateu boca na CPI na semana passada, disse em rede social: "3000 vítimas de ataques hacker. Estelionatário e mentiroso contumaz".

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