Política

Guedes admite que crise alimentada por Bolsonaro pode prejudicar economia

Em evento com investidores, ministro foi questionado sobre instabilidade provocada por ações de Bolsonaro

Folhapress

Publicado em 10/09/2021 às 21:59

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Recentemente, ministro Paulo Guedes declarou que a economia está crescendo e o déficit das contas públicas está caindo / Agência Brasil

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O ministro Paulo Guedes (Economia) admitiu nesta sexta-feira (10) a investidores estrangeiros que a crise institucional, alimentada pelo presidente Jair Bolsonaro, pode prejudicar a economia do país.

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"Todo esse barulho sobre instituições e democracia pode afetar nossa bem posicionada economia, no sentido de que estamos prontos para avançar novamente? Minha resposta é que isso pode produzir muito barulho, desacelerar o crescimento. Mas não mudar a direção [da política econômica], estamos na direção correta", disse o ministro.

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As declarações foram feitas em evento virtual promovido pelo banco Credit Suisse. O ministro foi questionado por investidores sobre a instabilidade provocada por Bolsonaro enquanto o país enfrenta dificuldades econômicas em diferentes frentes.

A conversa, em inglês, foi comandada por Ilan Goldfajn -presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil e ex-presidente do Banco Central. Após uma primeira pergunta de caráter protocolar, Goldfajn afirmou que investidores buscavam uma declaração de Guedes sobre o comportamento do presidente.

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Goldfajn leu em certo momento a pergunta de um executivo do banco em Nova York. "O Brasil pode destravar seu potencial econômico, expandir sua economia e reduzir o desemprego quando você tem barulho de diferentes líderes institucionais, [com] a retórica do presidente e de outros [atores], um barulho geral? Como o Brasil pode evoluir com esse nível de ruído?

Você falou com o presidente [sobre] quão importante é a estabilidade para investidores? E qual sua visão sobre o cenário adiante?", questionou Goldfajn.

O ministro reconheceu que o nível de "ruído" está alto e afirmou que Bolsonaro pode ter passado dos limites com palavras, mas não com ações. Para Guedes, a nota assinada pelo presidente na quinta-feira (9) para acalmar os ânimos colocou "tudo de volta aos trilhos".

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"O que aconteceu no Brasil nos últimos dias? Milhões, centenas de milhares de pessoas, foram às ruas celebrar pacificamente, sem violência, todas vestidas de verde e amarelo. Isso é novo na política brasileira, todas acenando bandeiras [do Brasil]. Uma pacífica celebração da democracia", afirmou Guedes.

"Por outro lado, atores -e especificamente o presidente- podem ter ultrapassado [os limites] em palavras. Mas e sobre as ações? O presidente nunca ordenou nada para ser preso [sic], nunca transgrediu nada no front fiscal. O presidente está tentando o máximo que pode para permanecer nas quatro linhas, para não sair das regras do jogo", disse Guedes.

Apesar de Guedes sugerir que Bolsonaro exagerou somente nas "palavras", especialistas apontam que as declarações do presidente já são classificáveis como crimes de responsabilidade -passíveis, portanto, de impeachment- por representarem atentado contra o cumprimento de decisões judiciais e contra o livre exercício dos Poderes.

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No 7 de Setembro, Bolsonaro disse que não cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes e ameaçou o STF diante de uma multidão na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. "Ou o chefe desse Poder [Fux] enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos", disse o presidente.

As declarações foram o ápice de uma série de tensões geradas por Bolsonaro. "Se você quer paz, se prepare para a guerra", disse Bolsonaro em 1º de setembro. "Temos um presidente que não deseja nem provoca rupturas, mas tudo tem um limite em nossa vida", disse o mandatário em 28 de agosto.

Aos investidores, Guedes defendeu a liberdade de expressão. Mas ressaltou que não se pode incitar a violência ou atacar a democracia.

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"Uma coisa é manifestar opinião sobre como as instituições estão funcionando, outra é incitar pessoas para a violência. Se há algum erro ou mal-entendido sobre isso, o presidente mesmo fez uma nota dizendo que 'não estou fazendo nenhum movimento contra a Suprema Corte, o Congresso ou outro Poder constitucional; eu [Bolsonaro] posso ter derrapado aqui e ali em palavras, mas nunca em ações'", afirmou o ministro.

Para Guedes, seres humanos erram e as instituições os controlarão. "Minha confiança na democracia brasileira é que toda hora que um ator passa seu território, outro aparece e coloca os transgressores de volta em suas quatro linhas", disse Guedes.

As declarações de Bolsonaro têm afetado o mercado e prejudicado o Tesouro Nacional. No dia seguinte ao 7 de Setembro, a Bolsa caiu 3,78%, o dólar subiu e os juros negociados no curto e no longo prazo se elevaram, dificultando a gestão da dívida pública por causa dos temores de investidores.

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O presidente insiste em tensionar a relação com os poderes enquanto é observada uma deterioração nas expectativas do mercado em diferentes indicadores -como inflação, juros e crescimento.

Outro ponto monitorado por analistas é o efeito do clima hostil para a agenda de Guedes, que já começou a ser afetada. A primeira consequência foi o bloqueio da negociação com o Judiciário para flexibilizar o pagamento de R$ 89,1 bilhões em precatórios (dívidas da União reconhecidas pela Justiça) previstos para 2022 -o que Guedes chama de "meteoro".

Conforme mostrou o jornal Folha de S.Paulo, articuladores afirmam que, mesmo com disposição para dialogar, não há clima para discutir a proposta neste momento -a principal prioridade do ministro ao lado do Auxílio Brasil (o novo Bolsa Família).

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"Quando o meteoro veio, nos precisávamos de um tratamento especial. Eu pedi imediatamente ajuda ao STF", disse Guedes nesta sexta. "Eles estavam nos ajudando, quando esse barulho veio. E agora estamos de volta ao mesmo lugar de antes", afirmou o ministro.

Segundo Guedes, as conversas com o Congresso e o próprio STF serão retomadas na semana que vem porque o governo precisa de uma solução para enfrentar os precatórios e não descumprir o teto de gastos (norma constitucional que impede o crescimento real das despesas federais).

"Nós vamos falar com o STF e o Congresso na segunda-feira e imediatamente depois disso está [como prioridade] a reforma tributária", afirmou Guedes. A proposta do governo que altera o Imposto de Renda foi aprovada pela Câmara e agora depende do Senado, que sinaliza resistências ao texto.

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Guedes também comentou durante a conversa a inflação, dizendo que a escalada nos preços é uma "sombra" que paira sobre o governo. "Acho que estamos no pior momento da inflação. Acho que vai começar a desacelerar gradualmente e encerrar o ano em volta de 8%, entre 7,5% e 8%", disse.

Com isso, a inflação deve fechar o ano acima da meta a ser perseguida pelo Banco Central -de 3,75%, com margem de tolerância de até 5,25%.

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