Polícia
A delegada de Três Passos (RS) Caroline Bamberg Machado também voltou a manifestar convicção de que o pai tem algum tipo de envolvimento com o crime
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A delegada de Três Passos (RS) Caroline Bamberg Machado admitiu que o assassinato do menino Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, pode ter contado com a participação de uma quarta pessoa, além do pai, da madrasta e de uma amiga dela. "Enquanto não soubermos o que realmente aconteceu e todos os passos do crime não descarto nenhuma possibilidade", disse em entrevista coletiva, nesta terça-feira, 22.
A policial também voltou a manifestar convicção de que o pai tem algum tipo de envolvimento com o crime, mas, alegando que a investigação corre em segredo de Justiça, não deu detalhes de qual seria a participação dele e nem do possível quarto envolvido. "Por enquanto faltam alguns elementos a serem levantados", justificou.
As informações já tornadas públicas pela polícia indicam que o menino viajou com a madrasta, Graciele Ugulini, 32 anos, de Três Passos, onde a família mora, à casa de uma amiga dela, a assistente social Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, em Frederico Westphalen, a 80 quilômetros de distância, no dia 4 de abril. De lá, as duas mulheres saíram com o garoto e voltaram sozinhas, conforme mostrou uma câmera de vigilância da rua. O corpo foi encontrado enterrado em um matagal na zona rural do município em 14 de abril. Naquele mesmo dia, as duas mulheres e o pai do menino, o médico Leandro Boldrini, 38 anos, foram presos.
A investigação espera pelos laudos da perícia para saber se Bernardo foi morto por substâncias colocadas em uma injeção e se não foi enterrado ainda vivo. Também procura saber se o pai ajudou a planejar ou a acobertar o crime e se outras pessoas participaram de alguma etapa do plano ou de eventual transporte do corpo e da abertura da cova.
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E busca, ainda, as motivações de cada um dos envolvidos. Entre as hipóteses em apuração estão a busca de eventuais vantagens na partilha de bens adquiridos pelo médico e pela mãe de Bernardo quando eram casados e ciúme doentio da madrasta, que tem uma filha de um ano e meio com Leandro e afastava Bernardo do convívio com o pai, supostamente com a concordância de Leandro.
Sigilo aberto
O advogado do médico, Jáder Marques, anunciou durante a tarde que Leandro Boldrini abriu mão de todos os sigilos possíveis e autorizou os investigadores a entrarem na casa dele a qualquer hora, antecipando-se com isso aos prováveis pedidos da polícia à Justiça. O defensor entende que o gesto demonstra inocência e disposição de colaborar com a polícia para um rápido esclarecimento do caso.
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Volta às aulas
Depois de três dias de inatividade por luto oficial e de mais cinco pelos feriados da Semana Santa e Tiradentes, os cerca de 400 alunos do Colégio Ipiranga, colegas de Bernardo, voltaram às aulas nesta terça-feira, ainda em clima de consternação e saudade. Antes do reinício das atividades, às 7h30, os estudantes foram reunidos no pátio para uma homenagem ao garoto, que tinha 11 anos e frequentava o sexto ano do ensino fundamental. O diretor da escola, Nelson Weber, disse que Bernardo deixou o exemplo de um olhar positivo para a vida, mesmo diante das dificuldades que passava.
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Na readaptação à vida escolar depois do desaparecimento traumático de Bernardo, professores, funcionários e alunos contarão com o apoio de duas psicólogas, uma da própria escola e outra enviada pelo Instituto Condor, que já atuou em tragédias como a da boate Kiss, de Santa Maria, que deixou um saldo de 242 mortos. O Colégio Ipiranga é uma escola de ensino fundamental e médio ligada à Rede Sinodal, da Igreja Luterana.
Vítima homenageou supostos algozes
Dois vídeos divulgados na internet nesta terça-feira mostram Bernardo, menino tido como sorridente e carinhoso, participando de homenagens ao seu pai e sua madrasta em atividades escolares. Em uma delas, na homenagem ao Dia das Mães de 2011, ele segura um cartaz com o nome "Keli", apelido da madrasta, ao lado de um coração. No Dia dos Pais do ano passado, o garoto declara, em meio a seus colegas: "Pais, obrigado por acompanhar todos os nossos passos, por estarem sempre presentes quando nós precisamos". A investigação policial vem mostrando que o médico e a enfermeira tratavam o garoto com descaso, deixando-o inclusive esperando fora de casa quando chegavam atrasados.
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Avó internada
Bernardo foi enterrado no Cemitério Ecumênico de Santa Maria na quarta-feira passada, ao lado da mãe, Odilaine Uglione Boldrini, que morreu em 2010. O inquérito concluiu que ela suicidou-se dentro da clínica do marido, em Três Passos. A família dela já manifestou o desejo de ver a investigação reaberta, mas a polícia vem sustentando que não há fato novo para voltar àquele caso. A mãe de Odilaine e avó de Bernardo, Jussara Uglione, de 73 anos, passou mal na madrugada de segunda-feira e está internada no Hospital de Caridade de Santa Maria. O quadro era considerado estável no final da tarde desta terça-feira.
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