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A Polícia Civil do Rio vai realizar nos próximos dias uma operação para localizar o corpo do pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 43 anos, desaparecido desde 14 de julho, quando foi conduzido por PMs à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha, na zona sul do Rio. O local das buscas não foi informado pelo delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios (DH), que conduziu o inquérito que resultou no indiciamento de dez PMs da UPP por tortura seguida de morte e ocultação do cadáver de Amarildo.
Também será feito exame de DNA em oito cadáveres, com características semelhantes às de Amarildo, localizados em diferentes pontos do Estado do Rio. Parentes do pedreiro coletarão material genético nos próximos dias. Já foi comprovado por meio de exame de DNA que a ossada encontrada em Resende, no interior do Estado, não é de Amarildo.
Grampos telefônicos
Numa entrevista que durou mais de uma hora, no fim da noite de sexta-feira, 04, os delegados Barbosa e Ellen Souto, da DH, detalharam o passo a passo do inquérito, que tem mais de 2 mil páginas e 133 depoimentos. Uma das principais provas é um grampo telefônico no qual um dos indiciados, o soldado Marlon Campos Reis, conversa com a namorada sobre a investigação: "Eles já sabem o que aconteceu. Só não têm como provar".
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Todos os PMs investigados tiveram seus telefones interceptados com autorização judicial. Numa outra escuta, o ex-comandante da UPP, major Edson Santos, tenta combinar o depoimento com o soldado Douglas Roberto Vital Machado, o Cara de Macaco: "Vital, você disse na DH que foi só buscar o Amarildo?".
Perícia de voz
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Outra prova apresentada pela polícia é uma perícia de voz num grampo telefônico, realizado durante a investigação da 15ª DP (Gávea) que resultou na Operação Paz Armada, no qual o traficante Thiago Neris, o Catatau, supostamente assume ter matado Amarildo para colocar a culpa na UPP. A conversa telefônica grampeada foi feita em 18 de julho, quatro dias após o sumiço do pedreiro. "A perícia comprovou que a voz na ligação não é do traficante Catatau. Essa confissão foi uma farsa", sentenciou o perito Denílson Siqueira, também presente à coletiva.
Torturas frequentes
Apesar de não haver no inquérito uma testemunha que tenha visto Amarildo sendo torturado pelos policiais militares, os investigadores estão convictos de que esta foi a causa da morte do pedreiro. "Temos 22 vítimas de tortura ouvidas pelo Ministério Público, que narram com preciosismo de detalhes o modus operandi da tropa do major Edson, sempre objetivando informações sobre esconderijos de armas e drogas. Essas torturas ocorriam no Centro de Comando e Controle da UPP e nos becos da favela, inclusive no beco do Cotó, onde Amarildo foi abordado. As vítimas narram que essas torturas contavam com saco plástico na cabeça, choques com o corpo molhado, e até ingestão de cera líquida. Amarildo sofreu o que essas 22 vítimas sofreram, mas não resistiu. Sua morte foi uma fatalidade", afirmou a delegada Ellen Souto.
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A investigação concluiu que Amarildo foi torturado no dia 14 de julho porque, para os policiais, ele sabia onde ficava o paiol de armas do tráfico. "Um informante do soldado Douglas Vital contou a ele ter ouvido uma conversa de Amarildo com um traficante, na qual ele diz que não queria ficar mais com a chave do paiol. Essa era uma informação valiosíssima para o sucesso da Operação Paz Armada, desencadeada dois dias antes", disse Ellen.
Morte no parque ecológico
Um policial militar (que não está entre os indiciados) ouvido no inquérito relatou que, na noite de 14 de julho, precisou ir à sede da UPP, que estranhamente estava vazia e totalmente desguarnecida. Ainda segundo o policial, havia um aglomerado de pessoas no parque ecológico, localizado ao lado dos contêineres da UPP. "Esse policial não tem como afirmar que eram os PMs nesse aglomerado, porque estava escuro. Mas não podemos crer que moradores da Rocinha estariam no parque ecológico, num domingo à noite chuvoso".
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