Polícia
A promotora Carmen Bastos disse que as imagens de três carros abertos do Bope, patrulhando a favela no dia do desaparecimento do pedreiro, já constavam nos autos
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O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) investiga a presença de dez policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar (PM), na noite do sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, em 14 de julho de 2013, na favela da Rocinha, zona sul do Rio, e procura explicação para a presença de um volume na caçamba de uma viatura do Bope, que deixava a favela. A informação consta das alegações finais do processo de tortura, segundo a promotora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Carmen Elisa Bastos.
Agora, a promotoria da Central de Inquéritos do MP-RJ vai apurar eventual participação de militares do Bope na ocultação de cadáver. O MP-RJ investiga agora se o corpo de Amarildo foi retirado da Rocinha dentro de um carro aberto do Bope, envolto numa capa de moto, de acordo com o que narrou uma testemunha no dia do desaparecimento da vítima, mas a informação foi descartada pela polícia e pelo Ministério Público no primeiro momento.
A promotora Carmen Bastos disse que as imagens de três carros abertos do Bope, patrulhando a favela no dia do desaparecimento de Amarildo, já constavam nos autos, mas só foram reavaliadas agora, quando estavam sendo examinadas todas as provas para oferecer as alegações finais do processo de Amarildo. Ela informou que os policiais do Bope foram ouvidos em um Inquérito Policial Militar (IPM) sobre a ida deles à comunidade da Rocinha, e admitiu que o volume na caçamba de um carro do Bope não tinha chamado a atenção durante a investigação porque a imagem ainda não tinha sido analisada detidamente.
"Nós conseguimos melhorar a visualização das imagens fornecidas pela UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] e detectamos um volume numa caçamba da viatura do Bope. O que é esse volume, nós estamos investigando. O que os policiais do Bope estavam fazendo ali, a informação oficial é que eles foram chamados porque havia uma ameaça de ataque à UPP. Só que essa informação se contradiz com algumas circunstâncias daquela data. Ou seja: foram chamados às 22h e chegaram só a meia-noite. Outros policiais que trabalhavam na UPP foram dispensados, não havia nenhuma notícia pela interceptação de ataque dos traficantes ou uma movimentação atípica", disse a promotora.
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Os policiais do Bope foram acionados oficialmente pelo comando da UPP da Rocinha, mas segundo a promotora, houve uma contradição nas informações de órgãos oficiais em relação ao GPS [sistema de posicionamento global] da viatura. Um órgão disse que o GPS da viatura estava inoperante, e outra informação oficial disse que estava operante. Segundo Carmen, "nós temos uma hora de branco [silêncio] em relação ao GPS, que não passa informação alguma. Ao passo que outra viatura que acompanhava a viatura, nesse mesmo período, emite informações do GPS", explicou Carmen.
Segundo a promotora, são "suposições", com elementos que merecem ser investigados. "Os nosso peritos identificam um volume que não se mostra incompatível com o volume de um corpo. A perícia não pode dizer que ali é o corpo do Amarildo, até porque está encoberto [pelo] que achamos ser a capa de uma moto, mas a gente não pode afirmar isso. A constatação da perícia, de que aquele volume na parte externa, envolto por material reflexivo, coincide, se harmoniza com a informação da testemunha de que Amarildo teria sido colocado envolvido na capa de moto", relatou Carmen.
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Indagada sobre a possibilidade de encontrar o corpo de Amarildo com mais essas provas, Carmen disse que "tudo é possível. Isso a gente não pode afirmar. São elementos que se harmonizam no sentido de eventual participação de uma ocultação de cadáver. O Ministério Público vai começar uma investigação nesse sentido, mas não podemos afirmar que era um corpo e nem que vamos chegar no corpo", concluiu.
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