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O Ministério Público (MP) do Estado do Rio acusou mais 15 policiais militares como envolvidos no sequestro e morte do pedreiro Amarildo de Souza, em 14 de julho, na Favela da Rocinha (São Conrado, zona sul do Rio). Outros dez já haviam sido denunciados. Os promotores detalharam as torturas e identificaram quatro PMs que teriam tido participação direta em sufocamentos e choques elétricos supostamente aplicados na vítima.
De acordo com a promotora Carmen Eliza de Carvalho, a partir dos depoimentos de cinco policiais que colaboraram com a investigação, foi possível apontar como participantes ativos na tortura os soldados Anderson Cesar Soares Maia e Douglas Vital, o sargento Reinaldo Gonçalves dos Santos e o tenente Luiz Felipe de Medeiros.
Se a denúncia for aceita pela Justiça, porém, todos os 25 responderão por crime de tortura. Nesta quarta-feira, 22, o Ministério Público encaminhou pedidos de prisão preventiva contra Santos, o sargento Lourival Moreira da Silva e o soldado Wagner Soares do Nascimento.
O Tribunal de Justiça não havia se manifestado sobre o pedido de prisão até as 18 horas. Além do crime de tortura, comum a todos, 17 policiais foram denunciados por ocultação de cadáver, quatro por fraude processual e 13 por formação de quadrilha. A promotora detalhou a sequência de fatos que teriam levado à morte de Amarildo. Ele tinha 43 anos quando sumiu. O corpo jamais apareceu. O pedreiro estava num bar na Rocinha quando foi levado por PMs até a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no alto da favela. O objetivo, segundo ela, era fazer com que contasse onde estariam armamentos de traficantes, pois uma operação contra o tráfico chamada Paz Armada, realizada na Rocinha, fracassara.
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Sob as ordens do comandante da UPP, major Edson Santos, indignado com o resultado da ação, os PMs levaram Amarildo a uma sala atrás da sede da UPP, ainda de acordo com a denúncia do Ministério Público. O major teria dividido os PMs entre os que torturariam Amarildo e os que fariam a segurança do local. Os outros 12 policiais ficariam dentro de um contêiner da UPP, sem poder sair.
Os soldados Maia e Vital, o sargento Gonçalves e o tenente Medeiros aplicaram várias técnicas de tortura, segundo o Ministério Público. A denúncia relata que a cabeça do pedreiro foi afundada em balde com água. Ele teria sofrido ainda asfixia com sacos de plástico sobre boca e cabeça, além de choques aplicados com pistolas Taser.
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Ao perceber que Amarildo morrera, os policiais teriam enrolado o corpo numa capa de motocicleta. O cadáver foi retirado da UPP pelo telhado e arrastado para a mata que fica nos fundos, diz o Ministério Público. Os promotores não conseguiram até agora descobrir o que foi feito do corpo da vítima. Dos 25 PMs denunciados por tortura, oito foram enquadrados por omissão - teriam condições de parar o suplício e nada fizeram.
A promotora afirma que o major cometeu fraude processual duas vezes. Uma, quando teria forjado telefonema atribuído ao traficante Catatau. Na conversa, um homem que se passava pelo criminoso diz ter sido responsável pela morte de Amarildo. Outra, ao jogar óleo sobre o piso da área onde a tortura ocorreu, para despistar a perícia, que buscava vestígios de sangue. No caso do telefonema, os peritos descobriram que a voz era do PM Marlon Campos Reis. Ele ligara para um número que o major sabia estar grampeado, a fim de induzir os investigadores a acreditar que traficantes mataram o pedreiro. Até a conclusão desta edição, a reportagem não conseguira localizar os advogados dos denunciados.
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