Polícia

Justiça manda soltar ator acusado de roubo no Rio

A decisão foi concedida horas antes de o delegado Niandro Lima, da 25ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo), responsável pela investigação, ajuizar habeas corpus em favor do ator

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 25/02/2014 às 20:02

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A Justiça do Rio mandou soltar nesta terça-feira, 25, o ator Vinícius Romão de Souza, de 27 anos, preso desde a noite do último dia 10 acusado de ter roubado a bolsa de uma mulher na Rua Amaro Cavalcanti, no bairro do Méier, na zona norte do Rio. A decisão foi concedida horas antes de o delegado Niandro Lima, da 25ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo), responsável pela investigação, ajuizar habeas corpus em favor do ator, reconhecendo que ele não teve participação no roubo. Souza fez uma participação na novela "Lado a lado", da TV Globo.

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No fim da tarde, advogados do ator informaram que ele provavelmente só deixaria o presídio na manhã desta quarta, 26, após cumprir exigências burocráticas. O escritório de advocacia avalia a possibilidade de ingressar com um pedido de indenização por danos morais, informou um assistente do advogado Rubens Nogueira de Abreu, que conversava com seu cliente na Cadeia Pública Patrícia Acioli, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio.

Pela manhã, o delegado ouviu novamente a vítima do roubo, uma copeira de 51 anos, que admitiu ter errado ao reconhecer Souza como o homem que havia levado sua bolsa. "Desta vez, a vítima disse que tinha sido empurrada pelo ladrão, que estava nervosa e que o local do roubo estava escuro. Contou que olhou rapidamente para o rosto do ladrão. Afirmou ainda que, o que mais chamou sua atenção, foram a camiseta preta e o cabelo black power do criminoso. Ela foi induzida ao erro", disse o delegado.

Em seu depoimento, ao qual a reportagem teve acesso, a vítima contou ainda que, depois de reconhecer Souza como o autor do roubo, ficou pensando nas diversas vezes em que ele negou o crime, alegando que estava sendo confundido.

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"Desde o dia seguinte, ela pretendia retornar à delegacia para dizer isso, mas não o fez porque não tinha o dinheiro da passagem. A polícia não tem interesse em manter um inocente preso, por isso, vou pedir à Justiça que solte o rapaz", explicou o delegado.

A liberdade provisória foi concedida 12 dias depois do pedido feito pelo advogado Rubens Nogueira de Abreu, que defende Souza. O jovem terá de se apresentar em juízo mensalmente, e está proibido de sair do Rio enquanto durar o processo. Ele dividia uma cela com outros 15 presos.

"Há indícios de autoria e da existência do crime consistentes nos termos de declarações prestadas em sede policial. No entanto, o indiciado não apresenta o perfil corriqueiro de autores de crime dessa espécie. É uma pessoa que trabalha, estuda e tem endereço fixo, além de não possuir antecedentes criminais, conforme registra o resultado da consulta feito nesta data", escreveu o juiz Rudi Baldi Loewenkron, da 33ª Vara Criminal, horas antes de o delegado impetrar o habeas corpus.

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O magistrado destacou ainda que a liberdade de Souza não vai comprometer a ordem pública. "Em que pese tais condições não afastarem a possibilidade de autoria do delito, sobretudo ao se considerar o reconhecimento levado a efeito na delegacia, são necessários alguns esclarecimentos nas declarações prestadas e suas condições pessoais não demonstram que seu retorno à liberdade comprometa a ordem pública, dificulte a aplicação da lei penal ou seja inconveniente para a instrução criminal, ao menos por ora".

A Justiça do Rio mandou soltar nesta terça-feira, 25, o ator Vinícius Romão de Souza (Foto: Arquivo Pessoal)

Formatura

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Pai de Souza, o tenente-coronel da reserva do Exército Jair Romão de Souza, de 64 anos, disse que tinha certeza da inocência do filho. "É um ótimo rapaz. Nunca me deu dor de cabeça. Se formou em Psicologia em dezembro, e a formatura será no início de março. Deus quis que ele fosse solto antes para poder ir na formatura".

Na opinião do militar, não houve racismo nesse caso. "Meu filho havia saído do trabalho no NorteShopping, onde trabalha como vendedor numa loja, e ia para casa. Como ele também é negro, de cabelo black power, e usava camiseta e bermuda pretas, acabou sendo confundido com o ladrão, que tinha as mesmas características. Se fosse um branco com a mesma descrição e mesma roupa do ladrão, também teria sido preso. Além disso, o policial civil que o prendeu disse em seu depoimento que Vinícius estava distraído, ouvindo música. Quem anda tranquilo pela rua depois de cometer um roubo?".

A reportagem também teve acesso ao depoimento do policial civil, lotado na 11ª DP (Rocinha). Ele contou que passava com seu carro particular pela Rua Amaro Cavalcanti quando viu a vítima chorando no ponto de ônibus. Ela contou que havia sido assaltada O policial pediu para ela entrar no veículo, para que os dois procurassem o ladrão. Eles andaram cerca de 200 metros, e avistaram Souza, caminhando pelo Viaduto de Todos os Santos. O policial perguntou à mulher se ela reconhecia o rapaz, e ela disse que sim.

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O suspeito, então, foi rendido e revistado pelo policial, que não encontrou nenhum dos pertences que estavam na bolsa que havia sido roubada da mulher (celular, R$ 10 em espécie, e cartão de vale transporte). O agente perguntou a Souza onde estavam os pertences, e o ator teria respondido que havia repassado "para um tal de braço".

Contudo, em seu novo depoimento prestado nesta terça, a vítima afirmou que Souza respondeu, de forma quase ininteligível "o braço, o braço". Ela disse que não entendeu se o suspeito queria dizer que seu braço estava doendo (pois havia sido rendido e imobilizado no chão), ou se havia entregue seus pertences a alguém conhecido como "Braço".

Para o pai de Souza, a versão do policial civil foi uma forma de justificar a prisão do rapaz. "Como ele não encontrou nada com meu filho, inventou essa história de que ele repassou os pertences da vítima para esse tal de Braço para mantê-lo preso. Por que o policial não foi atrás dele? Simples: porque esse Braço não existe", afirmou o militar.

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Para o delegado Niandro Lima, o policial civil não agiu mal intencionado. "Na gíria do crime, 'braço' é sinônimo de comparsa Não vejo má-fé por parte do policial e nem da vítima. De qualquer forma, vou encaminhar o caso à Corregedoria da Polícia Civil, para avaliar o que deve ser feito".

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