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Dirigentes da Fifa e da empresa de marketing esportivo Traffic usaram dois bancos brasileiros, Itaú Unibanco e Banco do Brasil, para fazer transferências de recursos para o pagamento de propinas, de acordo com o processo aberto na Justiça dos Estados Unidos, baseado em investigações do FBI, sobre a corrupção no futebol mundial. As instituições financeiras mencionadas no documento, que inclui ainda os estrangeiros JPMorgan, Citigroup, Bank of America, HSBC e UBS, serão investigadas, de acordo com autoridades do judiciário norte-americano.
No processo, aberto no dia 20 de maio na Corte do Brooklyn, mas revelado publicamente quarta-feira, são citadas 16 transações feitas por meio do Banco do Brasil - todas elas passaram por seu correspondente bancário em Nova York e agência no Paraguai. São mencionadas ainda outras quatro operações no Itaú, em contas em Miami e Nova York.
No Itaú, uma das transações descritas teve origem no Brasil, envolvendo executivos da Traffic. Em 26 de maio de 2011, US$ 150 mil foram transferidos de uma conta no País para outra do banco em Miami. Os nomes dos clientes, tanto da conta brasileira como nos EUA, são mantidos em sigilo. A transação foi um pagamento de propina feito a Julio Rocha, membro da Fifa e detido na Suíça, de acordo com o texto.
Do Banco do Brasil, uma das transações citadas foi uma transferência de US$ 2 milhões de uma conta da Traffic no Delta National Bank, em Miami, para uma conta de um correspondente bancário do BB em Nova York. De lá, o dinheiro foi transferido para uma conta da Conmebol na agência do BB em Assunção, no Paraguai. Esse dinheiro, segundo o processo, era para pagamento de propina para a Traffic garantir contratos de marketing na Copa América. Ao todo, US$ 62 milhões passaram por contas do BB em Assunção e nos EUA, desde 2004. O recebedor dos recursos sempre foi a Conmebol.
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SEM COMENTÁRIOS - Como são protegidos por sigilo, os bancos não comentam informações de clientes. O BB informou à reportagem que não recebeu qualquer notificação referente às investigações. Em relação a fatos citados em relatório, a instituição afirma que todos os procedimentos atribuídos ao banco foram legais e amparados pelas boas práticas bancárias. "O Banco do Brasil reafirma que cumpre integralmente a legislação em vigor e adota controles rigorosos de prevenção e combate à lavagem de dinheiro."
O Itaú, que além de ser citado no relatório do FBI é patrocinador da CBF e banco oficial da seleção brasileira, informou, em nota, que está acompanhando as notícias sobre as investigações. "O banco reforça que preza pela total transparência e ética, valores que sempre busca nos relacionamentos com todos os seus fornecedores e parceiros", destacou a instituição. Procurado, o Delta não respondeu à reportagem.
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Os bancos no Brasil são obrigados, por lei, a informarem ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) qualquer operação suspeita. De 2011 a 2014, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o número de comunicações de operações atípicas ou suspeitas feitas por bancos brasileiros aumentou 54,3%, para 57.455. O índice das comunicações que viraram investigações foi de 16%.
Em entrevista a jornalistas esta semana, Murilo Portugal, presidente da Febraban, explicou que a forma com que cada banco age em relação a uma operação suspeita é individual. Discute-se, inclusive, qual o caminho ideal: cortar relações com o correntista, desligando-o do sistema, ou manter o contato para permitir uma apuração mais aprofundada de suas ações, podendo colocar em risco sua imagem.
ESTRANGEIROS - Além dos brasileiros, o processo cita ainda que os pagamentos de propinas e extorsões passaram por grandes bancos internacionais: JPMorgan, Citigroup, Bank of America, HSBC e UBS. Procuradas, as cinco instituições informaram que não irão comentar o assunto. A procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, afirmou em entrevista coletiva que uma das razões que levaram o país a investigar a corrupção no futebol foi porque parte do dinheiro passou pelo país, via bancos ou empresas de remessas de recursos. Porém, ela preferiu não falar os nomes das instituições envolvidas.
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Os bancos citados serão investigados, de acordo com o procurador de Nova York, Kelly Currie, principalmente para verificar se estavam cientes de que o dinheiro que passava por suas contas era para o pagamento de propinas e outras irregularidades. "Ainda é cedo para dizer se houve um comportamento problemático (dos bancos), mas será parte de nossas investigações", disse, em entrevista coletiva.
Procurados, o Banco Central e a Febraban não comentaram. O COAF explicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comenta casos específicos por questões de sigilo.