Polícia
Há um mês, mais precisamente no dia 13 de fevereiro, o aposentado Agnaldo José da Silva, 64 anos, foi socorrido no calçadão da praia em Santos por dois guardas civis municipais
Guardas são homenageados em Santos / Divulgação/GCM
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Há um mês, mais precisamente no dia 13 de fevereiro, o aposentado Agnaldo José da Silva, 64 anos, foi socorrido no calçadão da praia em Santos por dois guardas civis municipais (GCM). Agnaldo teve uma parada cardiorrespiratória e a ação rápida dos oficiais lhe deu uma nova chance de viver. Na manhã desta terça-feira (15), quando os oficiais foram homenageados pelo procedimento em cerimônia no Salão Nobre do Paço Municipal, o aposentado finalmente teve a oportunidade de agradecê-los pessoalmente.
Muito emocionado, as palavras do aposentado quase não saíram. “Eu só tenho a agradecer a atuação deles. Tenho que dar os meus parabéns”. A esposa, Valdete Paixão da Silva, e a filha, Paolla, também estavam presentes. Valdete, inclusive, teve a honra de entregar as medalhas Oswaldo Justo - a condecoração mais alta da corporação - ao coordenador da GCM, Antonio Carlos da Silva, e ao inspetor-chefe, Adelmar Miranda da Silva Filho, pelo desempenho honorável diante da situação.
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“Agradeço a Deus por ter colocado a mão nesses anjos, porque não foi fácil o que eles fizeram ali. Eles não desistiram do meu marido nem por um minuto. Parabenizo os guardas e que continuem com essa profissão linda, porque eles ganharam uma nova família. É uma gratidão eterna. Enquanto eu viver, minhas orações serão para eles, porque mesmo se eu desse um presente, ainda não pagaria pelo que fizeram pelo meu marido”, disse a esposa, emocionada.
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O prefeito Rogério Santos, que cedeu a Valdete a honra de entregar as medalhas, ressaltou a atitude dos guardas. “Um gesto como esse é obrigação, nada mais do que obrigação, mas eles, e toda a guarda, fazem de coração. Eles têm orgulho de trabalhar nessa força e fazer um trabalho que muitas vezes vai além dos seus deveres como guardas. Eles foram treinados para isso e tiveram papel fundamental nessa ação. Eles são um orgulho muito grande para toda a Cidade”.
Para os guardas, o reencontro com Agnaldo foi um presente. “É um momento de bastante alegria. O importante para nós é poder vê-lo aqui, bem, e dizer que estamos sempre preparados para atender a todos os tipos de ocorrência”, disse Aldemar, que se sentiu honrado ao receber sua primeira medalha. “É gratificante, pelos 33 anos que tenho de atuação na GCM. Eu já poderia estar em casa, mas não, quero continuar na corporação, porque ainda tenho saúde para ajudar outras pessoas”.
Já Antônio Carlos agradeceu pelo aprendizado adquirido. “Quando a gente faz o treinamento é uma coisa, na vida real, é muito diferente. É muito satisfatório saber que ele passou por aquela situação e hoje está aqui do meu lado. Só tenho a agradecer pela corporação nos dar sempre a chance de melhorar e aperfeiçoar nossos serviços, que hoje vão muito além de cuidar do patrimônio público. Estamos conquistando cada dia mais espaço em outras áreas, próximo ao policiamento e também com a parte social”, finalizou o GCM.
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Também estavam presentes membros da corporação, o coordenador da área de cardiologia da Santa Casa de Santos, Philipe Saccabi, um dos médicos que atendeu Agnaldo; os secretários de Segurança (Seseg), Sérgio Del Bel, e de Governo (Segov), Flávio Jordão; o responsável pelo núcleo de Educação Permanente (NEP), do Samu, Washington Miranda da Cruz, e o coordenador da Defesa Civil de Santos, Daniel Onias.
EQUIPE JÁ HAVIA ENCONTRADO A FAMÍLIA
Dois dias após o ocorrido, quando Agnaldo ainda estava internado, os guardas se encontraram, no local onde o aposentado foi atendido, com a esposa, a filha e o neto Pietro. Na época, o contato rendeu lágrimas de felicidade e abraços de gratidão.
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A assistente de operações comerciais, Paolla Carolinna Paixão da Silva, 32, filha de Agnaldo, fez questão de abraçar e agradecer os guardas municipais. O “muito obrigada” saiu em meio ao choro. Ela conta que, se não fosse a mobilização rápida dos agentes, talvez o pai dela não estivesse vivo.
“Eles foram excepcionais. Foi Deus que colocou os dois no caminho. A gente fica toda hora pedindo explicação para o que aconteceu. Mas meu pai tinha que estar aqui porque havia anjos esperando por ele. Se tivesse em casa, não teria resistido porque ele foi a óbito e voltou. É muita gratidão. Devo minha vida a eles”.
O aposentado passou cinco dias internado, sendo que dois foram na UTI para monitoramento após passar por cateterismo e uma angioplastia. "Meu pai diz que agora tem duas datas de nascimento: o 9 de setembro e o 13 de fevereiro de 2022”, contou Paolla.
O SUSTO
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Agnaldo passeava com o neto, Pietro, 13 anos, e passou mal em frente ao monumento ‘Eu Amos Santos’, por volta das 11h50 do dia 13 de fevereiro. Pietro conta que foi tudo muito rápido. “A gente estava caminhando e brincando um com o outro. De repente, ele segurou minha mão, disse que não estava bem e caiu. Daí, as pessoas ajudaram a deitá-lo no chão”.
A viatura com os agentes passava pelo local naquele momento. O coordenador da GCM, Antonio Carlos, diz que foi prontamente socorrer a vítima, enquanto o colega, o inspetor-chefe Adelmar, acionava o Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu).
“Foi coisa de Deus. Já tinha um senhor muito prestativo ajudando. Ele achava que era ataque epilético. Mas quando vi, já percebi que era parada respiratória e comecei a massagem cardíaca”, explicou Antonio.
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Foram cerca de oito minutos entre o atendimento no calçadão e a remoção para a UPA da Zona Leste, calculou o GCM. “Mas pareceu uma eternidade. Também passou uma médica ali e confirmou que era uma parada cardíaca. Ela se ajoelhou do meu lado e disse: 'não para (a massagem cardíaca). Quando cansar passa para mim que vou te ajudar’. Com isso, ele chegou a voltar, mas apagou novamente”.
Os dois se revezaram até a chegada da motolância do Samu, que continuou o processo de reanimação cardiopulmonar (RCP). “Eles também chegaram muito rápido. Falaram para a gente continuar a massagem cardíaca enquanto cortavam a camisa dele e preparavam o desfibrilador. Verificaram que seria indicado. Aplicaram o choque e ele reagiu. O Samu continuou a massagem cardíaca até a chegada do suporte avançado”.
Em sete anos na GCM, Antonio Carlos afirma que não havia atendido a uma ocorrência desse porte. “Em princípio é assustador. Mas quando você vê a família rezando, enquanto a gente estava assistindo a vítima, vê que ele voltou enquanto a gente fazia a massagem cardíaca, a sensação é muito gratificante”.
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Para o inspetor-chefe, a ocorrência teve ainda um outro significado. “Meu pai sofreu um infarto, em Olinda (PE), há vinte anos. Ele também caminhava na praia com a minha mãe. Mas não teve a mesma sorte. Por isso, fiquei duplamente emocionado nessa ocorrência. Passamos no momento e hora certos. Então, ajudar aqui foi muito gratificante”.
TREINAMENTO
O trabalho realizado pelos agentes da GCM é resultado de uma ação integrada das secretarias de Saúde e Segurança Pública. Em novembro, o Núcleo de Educação Permanente (NEP) do Samu treinou 26 guardas civis para uso de desfibrilador externo automático (DEA). O conteúdo da capacitação incluiu ainda noções de primeiros socorros e reanimação cardiopulmonar (RCP). E, dentre os que participaram da capacitação, estava Antonio Carlos, que detalhou como o treinamento foi fundamental para o final feliz nessa ocorrência.
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“Graças ao curso, foi possível identificar a parada cardiorrespiratória, posicionar o munícipe de forma correta, abrindo as vias respiratórias e iniciar as manobras de ressuscitação cardiopulmonar”, explicou.
A atitude do oficial, que iniciou as manobras de ressuscitação precocemente, foi considerada essencial para o sucesso da reanimação do munícipe. “A manobra de reanimação iniciada rapidamente amplia as chances de ressuscitação. O atendimento básico, de reconhecer a situação e realizar os procedimentos de forma correta, como o guarda civil executou, foi primordial para salvar aquela vida. Por isso, trabalhamos com educação voltada a pessoas leigas”, afirma o enfermeiro Washington Miranda da Cruz, responsável pelo NEP-Samu.
No mês passado, mais 70 guardas civis municipais iniciaram treinamento com o NEP-Samu, com foco no trauma por arma de fogo, mas com conteúdo que inclui protocolo de psiquiatria no caso a atendimento a ocorrências com uso de armas brancas e primeiros socorros, com manobras de RCP e uso de DEA. A capacitação tem duração de 32 horas e é dividida em 16 encontros.
OUTRAS CAPACITAÇÕES
A partir deste mês, o NEP-Samu retoma a capacitação de profissionais que atuam nas unidades municipais de ensino de Santos, com foco no reconhecimento e aplicação das manobras de desengasgo, que também devem ser aplicadas o mais precocemente possível, além de outros assuntos pertinentes como queimaduras, afogamentos, lesões e traumas.
O comandante da GCM de Santos, Ronaldo Pereira Pinto, também ressalta a importância dos treinamentos para o resultado do trabalho dos agentes. “Todos os anos nossos agentes passam por treinamento e isso é fundamental. Nossos guardas se preparam para isso. A Guarda está para servir. Essa é a missão principal da nossa instituição”.
O médico Philipe Saccabi, que coordena a área de cardiologia da Santa Casa de Santos, ficou impressionado com as imagens do salvamento e disse que também deseja treinar a equipe da GCM em breve. “A rapidez com a qual ele foi atendido na praia e depois no hospital mostram que o sistema público da Cidade funciona, que o dinheiro que pagamos de impostos é devolvido para a sociedade. Foi um trabalho sensacional que espero contribuir para que seja cada vez melhor”.
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