Polícia

Carlinhos Virtuoso teria pago R$ 2,7 milhões de propina para Polícia Civil

Balanço com o montante desembolsado pelo empresário foi apreendido durante as investigações realizadas pelo Ministério Público

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 19/09/2013 às 13:17

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A ‘Banca do Damasco’ organização criminosa do empresário Carlos Eduardo Virtuoso, o Carlinhos Virtuoso, de 50 anos, voltada para exploração do jogo do bicho nas cidades de Santos, São Vicente e Praia Grande, teria desembolsado a quantia de R$ 2.659.540,00 para o pagamento de propina para policiais civis lotados no Departamento da Polícia Judiciária e do Interior (Deinter-6), que abrange a Baixada Santista, aponta investigação realizada pelo Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

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Um balanço com o montante desembolsado pelo empresário foi apreendido durante as investigações realizadas pelo Gaeco. Os policiais responsáveis por receberem os valores possuem o cargo de investigador-chefe em distritos policiais de Santos e São Vicente. Para os promotores do Gaeco, essa conduta ocorreu repetidamente por pelo menos cinco anos.

Durante as investigações, o Gaeco flagrou os policiais recebendo sacolas e envelopes de um homem apontando como gerente da ‘Banca do Damasco’. Ainda segundo o apurado nas diligências, os valores eram pagos quinzenalmente e os encontros ocorriam nas proximidades no imóvel apontado a sede da ‘Banca do Damasco’, na Rua Batista Pereira, no Macuco, em Santos.

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Os encontros eram marcados via telefone e os envolvidos procuravam evitar comentários sobre o jogo do bicho ou até mesmo o que seria realizado durante o encontro. Segundo o Gaeco, os valores repassados aos policiais eram separados e armazenados em sacolas e envelopes por Carlinhos Virtuoso e por seus funcionários.

“Assim, há anos a organização entregava parte dos valores arrecadados com as práticas ilícitas a policias civis, que foram cooptados e passaram a entregar a organização criminosa, exatamente com a promessa de se omitirem na repressão às atividades ilícitas e interferirem em favor da organização sempre que necessário para prevenir eventuais intervenções e ações policiais ou mesmo de terceiros, inclusive jogadores, tudo a fim de assegurar a continuidade e regularidade das atividades ilícitas”, assinala o Gaeco em denúncia oferecida à Justiça de Santos.

Um dos policiais por duas vezes foi flagrado pelo Gaeco utilizando viaturas da Polícia Civil para receber os envelopes entregues pelo gerente. Ele ainda se encontrou com o gerente da ‘Banca da Damasco’ utilizando uma viatura descaracterizada.

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Carlinhos Virtuoso teria pago R$ 2,7  milhões de propina (Foto: Divulgação)

Pagamento de propina

Ainda conforme apuraram os promotores do Gaeco, os investigadores-chefes recebiam os valores pagos por funcionários de Carlinhos Virtuoso e repassavam a quantia para seus distritos e para outras repartições policiais.

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“Os investigadores recebiam os valores em dinheiro a título de propina, para si e para terceiros, inclusive transportando e repassando parte desses valores a outros policiais civis, tudo para evitar qualquer ação repressiva às atividades ilícitas da organização e para interferirem em favor da quadrilha sempre que necessário para prevenir eventuais intervenções e ações policiais ou mesmo de terceiros, inclusive jogadores”, relata o MP.

Uma das planilhas apreendidas durante as diligências indicam os valores repassados aos policias. Um dos chefes dos investigadores recebeu a quantia de R$ 34.550,00 em uma quinzena e repassaria o valor para outras repartições de Santos. Já um dos envolvidos, lotado em São Vicente, recebeu a quantia de R$ 26.500,00 e dividiria o montante em unidades policiais daquele município, os valores foram detalhados pelo MP na denúncia.

O agente público lotado em São Vicente já havia sido denunciado pelo Gaeco no ano passado por conta do envolvimento com a exploração de máquinas caça-níqueis na Baixada.

Empresários nega conhecer policiais

Ao prestar sua confissão de responsabilidade pela ‘Banca do Damasco’ em depoimento prestado no Gaeco, Carlinhos Virtuoso negou conhecer os policiais acusados de envolvimento na organização criminosa e o pagamento de propina.

“A banca do jogo do bicho, que eu saiba, jamais efetuou qualquer pagamento para policiais para poder funcionar. Não sei se o gerente pagava algo para alguém, mas se isso ocorrer eu saberia, pois teria que tirar dinheiro do caixa. Não tenho amizade com qualquer policial civil, mas conheço de vista vários, inclusive alguns que eram da minha classe na faculdade de Direito”.

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Encontros entre policiais e o gerente da banca ocorriam nas proximidades da sede do Jogo do Bicho (Foto: Matheus Tagé/DL)

Gerente afirma conhecer policiais, mas nega propina

O gerente da ‘Banca da Damasco’ apontado pelo MP como responsável pelo pagamento de propina aos agentes públicos negou realizar atividade, entretanto ele afirmou conhecer os policiais. “Não sei se a banca do jogo efetuava algum pagamento para a polícia para evitar repressão ao jogo ou mesmo para facilitar os negócios”, afirma. Ele ainda confirmou que trabalhava na ‘Banca do Damasco’ ressaltando seu cargo de gerente na organização.

De acordo com o acusado, ele possuía amizade com um dos investigadores-chefes por conta de trabalhos espirituais que realizava para o agente público. Eles se encontravam para o gerente entregar velas e orações.

Em relação ao investigador-chefe lotado em São Vicente, o gerente afirmou ter trabalho com o mesmo no Porto de Santos. E que seus encontros seriam realizados para o gerente vender bebidas e perfumes.

A amizade com outro investigador-chefe também teria se iniciado no Porto de Santos. O gerente afirmou não ter encontrado com o investigador nas proximidades da sede do jogo do bicho.

Já a relação com um dos acusados iniciou-se quando o mesmo disputou a eleição para o cargo de vereador em Santos na década de 90. O encontro entre os dois teriam ocorrido e o gerente teria entregado ervas para o investigador-chefe fazer chá para curar uma bursite. Por último, o gerente alega ter conhecido um dos envolvidos pelo apreço que tinham por gatos.

Quatro policiais deram seus depoimentos ao Gaeco e confirmaram os relatos do gerente da banca. Um dos envolvidos se recusou a prestar depoimento, alegando que se pronunciará após a conclusão das diligências.

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