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Em audiência de mais de seis horas em duas comissões reunidas no Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, reconheceu que a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, não foi um "bom negócio", mas procurou blindar a presidente Dilma Rousseff ao restringir a ex-diretores da estatal a culpa pelo negócio fracassado.
O objetivo do governo era de que a presença de Graça Foster esvaziasse o movimento a favor de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Integrantes da base aliada argumentaram junto ao Planalto que o ideal seria fazer a audiência amanhã, mesmo dia em que o ex-diretor apontado como responsável pelo negócio, Nestor Cerveró, deve falar na Câmara. Dilma, porém, insistiu que a presidente da Petrobras deveria ir primeiro.
O Planalto ficou satisfeito com o desempenho de Graça, mas senadores da base reconheciam ser difícil evitar a investigação e mantiveram a estratégia de ampliar o foco das apurações para o Metrô de São Paulo e o Porto de Suape (PE), temas negativos a PSDB e PSB. A compra de 50% da refinaria de Pasadena teve o voto favorável de Dilma em 2006 quando estava a frente do Conselho de Administração da Petrobras, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo há um mês. Ela justificou que a decisão foi tomada com base em um resumo executivo com "informações incompletas".
Cerveró teria deixado de fora do texto e da apresentação feita na ocasião o fato de que a estatal brasileira seria obrigada a comprar da belga Astra Oil o restante da refinaria em caso de desacordo comercial, a cláusula Put Option, e a garantia de retorno mínimo à sócia por futuros investimentos à companhia, a cláusula de Marlim.
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O argumento foi repetido por Graça no Senado. Ela sustentou que o Conselho de Administração não teve acesso à informação. "É absolutamente certo que essas cláusulas não foram levadas ao conhecimento do Conselho de Administração da Petrobras e quem tinha a obrigação de levar era o diretor internacional", disse. Ela não se responsabilizou pela manutenção de Cerveró no grupo até o mês passado. Ele foi demitido da diretoria financeira da BR Distribuidora quase oito anos após o parecer apontado como deficiente.
A presidente da Petrobras afirmou que a refinaria não foi "bom negócio", tem "baixa probabilidade de recuperação" e que mesmo propostas recentes recebidas não alcançariam o valor investido. Segundo Graça, a compra de toda a refinaria envolveu US$ 1,25 bilhão e já foram gastos US$ 685 milhões desde 2006 na modernização. Ela destacou que a Astra não teria adquirido a refinaria em 2005 por US$ 42,5 milhões, mas com investimentos e outros acordos teria chegado a US$ 360 milhões. Destacou que as margens de lucro em refinarias nos EUA incentivavam o negócio em 2006. Reconheceu, porém, o prejuízo e destacou que a Petrobras já deu baixa em seus balanços de US$ 530 milhões em relação a este ativo.
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Ela afirmou que a estatal tem de aprender com erros e reconheceu que o processo da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco se encaixa na mesma reflexão de "lição aprendida". Reconheceu que a ampliação do orçamento de US$ 2,5 bilhões para US$ 18 bilhões é um problema, mas ressaltou que nos últimos dois anos o negócio tem sido mantido dentro do valor proposto. Citando Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), Graça afirmou que a companhia tem procurado evoluir na elaboração de novos projetos para que não se repitam denúncias de sobrepreço. "Quando a gente vai para a rua com projetos que não estão acabados, o sobrepreço é inevitável", disse.
Graça Foster evitou se estender quando questionada sobre as atividades de Paulo Roberto Costa na companhia. O ex-diretor de Abastecimento foi preso no mês passado na Operação Lava Jato da Polícia Federal. Graça limitou-se a dizer que a prisão causa "constrangimento" e que estão sendo "avaliadas" as ações do ex-diretor enquanto estava na estatal.
A presidente da Petrobras comentou ainda a denúncia de que funcionários teriam recebido propina da holandesa SBM Offshore, fornecedora da Petrobras, tema que também faz parte do pedido de CPI apresentado pela oposição. Graça afirmou que foi feita uma "apuração grande" dentro da companhia e que não se identificou "conduta deletéria" à estatal.
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