Política
Mesmo diante das dificuldades para a costura de uma federação com o PSB e outras siglas de esquerda, o PT trabalha com a perspectiva de lançar somente cerca de dez candidatos a governador nas próximas eleições
Em Pernambuco, o PT anunciou apoio ao PSB antes mesmo de conhecer o nome do candidato / Reprodução/ Redes Sociais
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Disposto a solidificar pontes para um eventual segundo turno presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conduzido, pessoalmente, acordos que privilegiam potenciais aliados, em detrimento de nomes do próprio PT, na hora de escolher que candidatos apoiar para governos estaduais.
Mesmo diante das dificuldades para a costura de uma federação com o PSB e outras siglas de esquerda, o PT trabalha com a perspectiva de lançar somente cerca de dez candidatos a governador nas próximas eleições, um dos menores números de seus 42 anos de história.
Nos demais estados, a prioridade será a consolidação de palanques consistentes com vistas à eleição de Lula e à governabilidade de uma eventual gestão petista. Além disso, há um entendimento de que a eleição de uma forte bancada para Câmara dos Deputados e Senado se sobrepõe à disputa de governos estaduais.
As negociações –que têm a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), como avalista– não se restringem aos partidos do bloco de esquerda, estendendo-se ao centrão. A agenda do ex-presidente também inclui conversas com MDB, PSD e PSDB.
Lula foi, por exemplo, fiador de um acordo pela reeleição do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), a quem chamou de companheiro durante entrevista à Rádio Liberal.
Dois dias depois de anunciar publicamente esse apoio à reeleição de Helder, com quem conversou, Lula recebeu a visita do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e seu filho, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), em São Paulo.
No encontro, cujo registro fotográfico foi divulgado por Lula nas redes sociais, o petista reafirmou o apoio a uma candidatura de Renan Filho ao Senado, além de compromisso de aliança em torno do candidato dos Calheiros ao governo estadual.
Apesar da resistência do PT local, no Maranhão, o compromisso é de apoio ao indicado pelo governador Flávio Dino (PSB), provavelmente em consonância com a família Sarney.
Em Pernambuco, o PT anunciou apoio ao PSB antes mesmo de conhecer o nome do candidato. A aliança foi selada durante reunião virtual, de quase três horas, entre Gleisi e os presidentes do PSB, Carlos Siqueira, e do PCdoB, Luciana Santos, com a presença do senador Humberto Costa (PT).
Líder das pesquisas locais, Costa concordou em retirar a candidatura ao governo do estado em prol da aliança. "Claro que não fiquei satisfeito. Mas era a orientação nacional do PT. A aliança com o PSB é estratégica", afirmou.
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À espera de um acordo com o PDT no segundo turno, o comando nacional do PT não impôs resistência à aliança com a família Gomes no Ceará. No reduto eleitoral de Ciro Gomes, o PT apoiará a candidatura do PDT ao governo do estado, uma vez que o governador Camilo Santana (PT) vai se desincompatibilizar para concorrer ao Senado, deixando a cadeira para a vice-governadora Izolda Cela.
A estratégia guarda total relação com os movimentos patrocinados por Lula em âmbito nacional. O ex-presidente, por exemplo, tende a fechar uma chapa com o ex-tucano e ex-rival de campanha Geraldo Alckmin, além de ter conversado com outros nomes do PSDB e com o PSD de Gilberto Kassab.
Com aval do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), discute uma aliança com o PT na disputa pelo Palácio dos Tiradentes.
Líder do PT na Câmara, o deputado Reginaldo Lopes (MG) afirma que, em Minas, a polarização entre Kalil e o governador Romeu Zema (Novo) não permite espaço a uma terceira via. Está programado para os próximos dias, um encontro entre Lula e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD).
Lula mantém canais de diálogo com governadores até onde ainda não se cogita uma aliança formal com o PT nesse primeiro turno. É o caso de Sergipe e Paraíba. O ex-presidente já se reuniu com o governador sergipano, Belivaldo Chagas (PSD), que deverá lançar o deputado Flávio Mitidieri, seu correligionário, à sucessão. Apesar da boa relação com o PT, Lula aposta na candidatura do senador Rogério Carvalho ao cargo.
O ex-presidente também já conversou com o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania). Mas o petista não pretende contrariar o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) por uma dívida de gratidão. Recém-filiado ao PT, Coutinho foi ferrenho defensor de Dilma Rousseff, quando ainda era filiado ao PSB, e hoje vê em Azevêdo um rival.
Disputado no Nordeste, Lula enfrenta dificuldades para montagem de palanques no Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal, região de forte presença bolsonarista. Ele chegou a propor ao tucano Marconi Perillo a formação de uma aliança ampla para barrar a reeleição do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).
Após 14 anos sem falar com Lula, Perillo alegou, porém, dificuldades de explicar ao seu eleitor uma coligação com o PT. Ex-governador de Goiás, Perillo deverá disputar o Senado pelo PSDB.
Já no Paraná, o PT apoiará a candidatura do ex-emedebista Roberto Requião. Ex-governador e ex-senador, Requião está à espera dos desdobramentos do debate sobre federação no campo da esquerda para decidir a qual partido se filiar.
Além do desejo de "colocar em ordem o estado que está acabando", Requião aponta a candidatura de Lula como uma das razões para disputar o governo estadual. Ele afirma que o PT o está ajudando muito nessa largada e não descarta se filiar ao partido caso não prospere o projeto de federação à esquerda. "Se não houver federação, por que não? Fui muito mais petista durante o processo de cassação da Dilma do que o próprio PT", afirma.
Fechando ou não uma federação –que exige atuação conjunta pelos quatro anos seguintes – com PSB, PC do B e PV, a tendência é que o PT apoie nomes do PSB em estados como Pernambuco e Maranhão.
Entre os principais nomes do PT para governos estaduais estão o ex-prefeito Fernando Haddad em São Paulo, o senador Jaques Wagner, na Bahia, a governadora Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte, o secretário de estado Rafael Fonteles, no Piauí, e o senador Rogério Carvalho, em Sergipe.
Como publicou o jornal Folha de S.Paulo, caso a federação não dê certo, o PT pode ampliar o número de candidatos a governador nos estados, em especial Espírito Santo (Fabiano Contarato) e Rio Grande do Sul (Edegar Pretto), onde o PSB reivindica apoio aos seus candidatos.
Na noite de sexta-feira (11), os presidentes do PSB, PV, PT e PC do B se reuniram em busca de um acordo para o Rio Grande do Sul, onde o presidente estadual do PSB, Beto Albuquerque, e o deputado estadual Edegar Pretto (PT) reivindicam o direito de concorrer. Outro nome citado para a disputa é o da ex-deputada Manuela d'Ávila (PC do B).
Outra fonte de tensão entre o PT e o PSB é o encontro ocorrido neste sábado (12) entre o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e o ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos.
Em toda a sua história, o ano em que o PT disputou menos governos estaduais foi em 2010, ocasião em que também priorizou abrir mão de candidatos próprios nos estados em nome da formação de alianças regionais de sustentação à candidatura de Dilma Rousseff –foram 10.
Em 2002, ano da vitória que levaria o PT ao governo federal, por exemplo, o partido disputou o governo de 24 das 27 unidades da federação, tendo vencido três (Acre, Mato Grosso do Sul e Piauí).
Nas últimas eleições, em 2018, o partido lançou 16 candidatos a governador e elegeu 4, todos no Nordeste –Ceará, Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte.