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PM aborda negro em carro de luxo e aponta arma para ele na balsa entre Santos e Guarujá

O cantor lírico ocupava o banco do motorista de seu carro da marca Jeep, considerada de alto padrão, quando um policial apontou uma arma para o seu rosto e ordenou que ele descesse do automóvel, com as mãos erguidas

Folhapress

Publicado em 28/01/2022 às 12:04

Atualizado em 28/01/2022 às 12:49

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O policial, que estava acompanhado de outro fardado, teria perguntado a William, aos gritos, se o carro era dele, se já tinha sido preso e se levava drogas em seu carro / Reprodução/Dersa

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O tenor Jean William, um homem negro de 36 anos, foi surpreendido nesta quinta-feira (27) ao ser abordado por policiais militares enquanto fazia a travessia de balsa entre Santos e Guarujá, no litoral paulista. O caso já chegou à Ouvidoria da polícia de São Paulo.

O cantor lírico ocupava o banco do motorista de seu carro da marca Jeep, considerada de alto padrão, quando um policial apontou uma arma para o seu rosto e ordenou que ele descesse do automóvel, com as mãos erguidas. Não houve esclarecimentos sobre o motivo da abordagem.

"Que risco eu estava representando de dentro do meu carro, parado numa balsa, olhando pro mar, para que ele apontasse a arma daquela forma? Eu não entendo", afirma o cantor de música clássica.

O policial, que estava acompanhado de outro fardado, teria perguntado a William, aos gritos, se o carro era dele, se já tinha sido preso e se levava drogas em seu carro. Em seguida, o interior do veículo foi revistado.

"Eles mal tocaram no carro. Abriram o porta-malas e só viram duas cadeiras de praia", afirma o tenor.

Jean William chegou a ser questionado se "tinha feito alguma coisa diferente" enquanto transitava pela região e explicou que, minutos antes de embarcar na balsa, precisou desviar de um caminhão na estrada. Um dos PMs teria respondido que poderia ser esse "o motivo de ter vindo uma denúncia", segundo William.

"Além do medo, tem o constrangimento. Tinham vários carros na bolsa, tinha gente filmando. Nos primeiros minutos eu fui tratado como um bandido", afirma.

"Não estou questionando o trabalho da polícia, mas a abordagem que eu sofri e o histórico [de outros casos semelhantes]. É uma humilhação. O fato de você ser quem você é não é suficiente para ter um carro daquele padrão, por causa da cor da sua pele", segue.

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Após denunciar o caso nas redes sociais, Jean William foi procurado na noite desta quinta pelo ouvidor da polícia de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, que pediu mais informações.

Questionada, a Polícia Militar afirma que não há registro de denúncia formal sobre o caso e que seus procedimentos operacionais de abordagem e fiscalização se baseiam em princípios legais e técnicos.

"A Corregedoria da instituição está a disposição da vítima para formalização da denúncia, junto à sede do Comando de Policiamento do Interior-6 (CPI-6), localizado na Avenida Coronel Joaquim Montenegro, 282, bairro Aparecida, em Santos", diz a PM em nota.

Jean Willian afirma que essa foi a segunda vez em que passou por uma abordagem policial sem saber o motivo. A primeira, conta, ocorreu na cidade de Sertãozinho (SP), anos atrás, quando estava acompanhado do sua madrinha e também precisou descer de seu veículo para ser revistado.

"Por que um indivíduo preto não pode dirigir um carro bom?", questiona.

Apadrinhado pelo maestro João Carlos Martins no início de sua carreira, Jean William tem uma longa trajetória em palcos no exterior e já chegou a se apresentar para o papa Francisco.

Para o futuro próximo, ele prepara o retorno de sua turnê "Grandes Temas", interrompida por causa da pandemia da Covid-19. Seu último espetáculo ocorreu em março de 2020, em Belo Horizonte, e contou com a presença da cantora Fafá de Belém.

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